Tirar folgas sem comunicar o chefe e manter a aparência de estar trabalhando. Esse comportamento, batizado de ‘férias silenciosas’, é uma nova tendência no ambiente de trabalho (e da geração Z, dos nascidos entre 1997 até 2012) que tem gerado preocupação entre empregadores. O conceito foi identificado em uma pesquisa da plataforma norte-americana PapersOwl.
O levantamento, que entrevistou 2 mil jovens dessa faixa-etária nos Estados Unidos, revelou que 51% dos participantes responderam que deixaram de trabalhar até três vezes no último ano sem informar a chefia. Outros 12% confessaram praticar esse comportamento com ainda mais frequência. Enquanto isso, menos de 40% dos entrevistados disseram nunca ter adotado essa estratégia.
Motivações para as ‘férias silenciosas’
A pesquisa apontou que a principal razão para a prática é a saúde mental, na visão dos entrevistados: 46% dos respondentes citaram o esgotamento profissional (burnout) como justificativa. Além disso, 36% relataram que fingiram estar online para lidar com questões familiares, enquanto 31% disseram que precisaram se ausentar por falta de dias de folga remunerados (Paid Time Off – PTO). Outros 28% afirmaram que a prática se intensifica no fim do ano devido à escassez de folgas no período de festas.
Um reflexo da nova cultura de trabalho
Segundo a pesquisa, 95% dos entrevistados acreditam que tais “atalhos” no ambiente profissional são aceitáveis. A pesquisa distingue as ‘férias de silenciosas’ de outra tendência recente, o quiet quitting (saiba mais abaixo).
No levantamento, 16% dos entrevistados admitiram que já adotaram essa estratégia.
Relembre o quiet quitting
O termo começou a se popularizar na pandemia, principalmente pela Geração Z, e ganhou força nas redes sociais, sobretudo no TikTok.
Um dos responsáveis foi o músico nova-iorquino, Zaid Khan. Traduzido erroneamente como demissão silenciosa ou desistência silenciosa, Quiet Quitting, segundo Khan, em vídeo divulgado na rede social, é abandonar a “ideia de ir além no trabalho”. “Você ainda está cumprindo seus deveres, mas não adere mais à mentalidade da hustle culture (termo em inglês que significa cultura do trabalho constante) de que o trabalho deve ser nossa vida.”, diz.
Cláudia Danienne, psicóloga organizacional, especialista em Gente e Gestão, e sócia na Degoothi Consulting, avalia que o quiet quitting não deve ser visto como uma rebeldia. “O real sentido aqui é o de ‘não exploração’, e sim conte comigo para o que eu fui por você contratado”, analisa.
“Apesar da tradução literal ser demissão silenciosa, o comportamento que está ligado ao termo é o desejo de cumprir exatamente o que se estabeleceu contratualmente. O grande ponto de atenção aqui é o respeito e o fair process. Ou seja, um processo justo entre as partes (empregador e funcionário)”, avalia a especialista, que defende que as relações de trabalho não devem visar somente o lucro do empregador. Todos devem ganhar.