domingo 22 de dezembro de 2024
Eduardo Paes, em 2022, com Comte Bittencourt, do Cidadania: federação da sigla com o PSDB apoia nome do PP no Rio — Foto: Reprodução
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segunda-feira 5 de agosto de 2024 às 18:09h

Federações racham em capitais e apoios informais viram solução para driblar candidaturas oficiais

ELEIÇÕES 2024, NOTÍCIAS


Na primeira disputa municipal desde a criação das federações partidárias, legendas que se juntaram em 2022 têm enfrentado batalhas tensas na definição de candidaturas e de alianças eleitorais. Diante da falta de consenso em algumas capitais, como Rio, Manaus, João Pessoa e Curitiba, dirigentes das siglas já admitem de acordo com Sérgio Roxo, do O Globo, fazer campanha para candidatos de fora das alianças oficiais.

As federações foram criadas como alternativa ao fim das coligações, permitindo que legendas pequenas escapassem da cláusula de barreira, regra que limita acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV às siglas que não atingirem um mínimo de votos nas eleições. Aprovado pelo Congresso em 2021, o mecanismo estreou no ano seguinte. Desde então, dois ou mais partidos políticos podem se unir em uma federação, que atuará como se fosse uma única sigla por no mínimo quatro anos.

Ao se juntarem, as siglas somam o desempenho de todos os candidatos para atingirem a cláusula de barreira. Em contrapartida, são obrigadas a atuar na Câmara, no Senado, nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais como se fossem um único partido, o que é levado em conta, por exemplo, na distribuição de vagas das comissões. Em 2022, foram criadas três federações: uma com PT, PCdoB e PV; uma segunda com PSDB e Cidadania; e uma terceira com PSOL e Rede.

Túlio Gadelha com Marina Silva, ambos da Rede: deputado perdeu a vaga de candidato a prefeito de Recife para colega de federação, do PSOL — Foto: Divulgação
Túlio Gadelha com Marina Silva, ambos da Rede: deputado perdeu a vaga de candidato a prefeito de Recife para colega de federação, do PSOL — Foto: Divulgação

Nas eleições de outubro, os partidos unidos são obrigados a apoiar formalmente o mesmo candidato nos 5.656 municípios brasileiros. Na prática, porém, em algumas cidades, incluindo as quatro capitais, integrantes de legendas admitem que não estarão do mesmo lado que siglas com as quais são federados.

Apoio simbólico

No Rio, por exemplo, o Cidadania decidiu apoiar informalmente a candidatura à reeleição do prefeito, Eduardo Paes (PSD), após seu parceiro de federação, o PSDB, se aliar a Marcelo Queiroz (PP). Os tucanos, inclusive, indicaram a vereadora Teresa Bergher para vice da chapa.

— Temos uma visão diferente. O PSDB está pensando no projeto nacional de 2026, não tiro a razão deles, mas nós temos uma questão que é a salvação do Rio. Nós vamos apoiar o Eduardo Paes, está combinado. Formalmente a federação não apoia. Isso não fere o princípio do entendimento federativo — afirma o presidente nacional do Cidadania, Comte Bittencourt.

Na prática, o tempo de TV que a federação terá direito na propaganda eleitoral do Rio será contabilizado para Queiroz, enquanto o apoio do Cidadania a Paes tem caráter apenas simbólico.

Os dois partidos vivem a mesma divergência em Porto Alegre e Curitiba. Ontem, os tucanos também saíram vitoriosos no embate na capital gaúcha: o PSDB endossou a candidatura de Juliana Brizola (PDT), mas membros do Cidadania discursaram que estarão ao lado do atual prefeito, Sebastião Mello (MDB). Alguns integrantes da sigla falavam, inclusive, em judicializar o resultado da convenção.

Na capital paranaense, os tucanos devem oficializar hoje a candidatura do ex-governador Beto Richa à prefeitura, mas o Cidadania defende apoio ao atual vice-prefeito, Eduardo Pimentel (PSD), nome do atual chefe do executivo municipal, Rafael Greca (PSD), e do governador Ratinho Jr. (PSD). Comte Bittencourt, contudo, acredita ainda ser possível chegar a um entendimento na capital paranaense.

Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Mello (MDB), que busca a reeleição, tem o apoio do Cidadania, mas tucanos endossaram a candidatura de pedetista — Foto: Reprodução
Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Mello (MDB), que busca a reeleição, tem o apoio do Cidadania, mas tucanos endossaram a candidatura de pedetista — Foto: Reprodução

Em João Pessoa, por sua vez, dirigentes admitem que não será possível conciliar os interesses divergentes entre Cidadania e PSDB. Os tucanos, maioria na federação, fecharam apoio a Ruy Carneiro (Podemos) na disputa pela prefeitura, enquanto o Cidadania ficará com o atual prefeito, Cícero Lucena (PP). Os dois partidos estão em lados opostos na política estadual. O Cidadania faz parte da base do governador João Azevêdo (PSB), que já foi filiado à legenda, enquanto Pedro Cunha Lima, principal liderança tucana no estado, foi seu adversário no segundo turno de 2022.

Presidente do PSDB e da federação, Marconi Perillo minimizou as divergências com o Cidadania.

— É natural que haja alguma divergência de opinião, dentro dos nossos próprios partidos temos, mas todas as decisões são resolvidas com muito diálogo — disse.

Acordos firmados

Não apenas PSDB e Cidadania estão rachados em João Pessoa. Há também divisão dentro no grupo formado por PT, PCdoB e PV. O candidato oficial da federação será Luciano Cartaxo (PT), mas os dois outros partidos eram contra. Assim, PV e PCdoB decidiram que vão apoiar Lucena informalmente.

O presidente do PV da Paraíba, Sargento Denis, justifica o apoio sob o argumento que o atual prefeito está cumprindo compromissos na área ambiental assumidos no segundo turno da eleição de 2020. O partido ocupa a Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas na prefeitura local.

— Ia ser muito traumático para gente apoiar outro candidato. Vamos chancelar o que a federação determinou, mas não vamos punir nenhum militante que tenha compromisso com Cícero Lucena. Eu vou apoiar Cícero — afirmou Denis.

O grupo de partidos aliados do governo Luiz Inácio Lula da Silva também entrou em conflito em Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba. Lá, o PV decidiu que não apoiará o candidato da federação, Inácio Falcão (PCdoB). A sigla vai se aliar informalmente a Jhony Bezerra, do PSB.

A legenda ainda vai contrariar a posição da federação em Manaus, onde o candidato será o ex-deputado Marcelo Ramos (PT). O PV fará aliança informal com Roberto Cidade (União Brasil), candidato do governador Wilson Lima (União). Cidade já foi filiado ao PV.

A própria definição de Ramos como candidato passou por uma disputa dura entre os partidos do grupo. O PCdoB se opunha a apoiar o petista e defendia Eron Bezerra. A decisão teve que ser levada para a direção nacional da federação. Como o PT tem maioria, Ramos acabou escolhido.

— O debate para nós se encerrou com a deliberação. O PCdoB vai apoiar o Marcelo Ramos — disse Eron Bezerra, que é coordenador do grupo de trabalho eleitoral do PCdoB no Amazonas.

De acordo com Bezerra, o PV fez constar em ata da reunião da federação estadual que os seus filiados terão liberdade para apoiar quem quiserem na eleição da capital amazonense.

Já as divergências dentro da federação da Rede e do PSOL se deram na escolha dois candidato em Recife. Túlio Gadêlha (Rede) e Dani Portela (PSOL) pleiteavam a vaga. No último dia 22, Gadêlha, depois de ver que a posição do PSOL prevaleceria porque o partido tem mais postos que a Rede nas instâncias decisórias da federação, aceitou abrir mão de concorrer.

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