Após meses de negociações, PP e União Brasil acertaram a formação da federação que representará a maior bancada da Câmara e a segunda do Senado. Sem a presença do Avante, que chegou a negociar a participação, a expectativa é que o anúncio ocorra na primeira semana de março, conforme revelou o colunista Lauro Jardim, do O Globo.
O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, enviou um modelo de estatuto da federação para Antonio Rueda, vice-presidente do União Brasil, que deverá fazer os arremates no documento. Pelo acordo alinhavado, Nogueira e Rueda serão os copresidentes da aliança, que vai contar com 108 deputados, superando o PL, que tem 99, e 15 senadores, atrás apenas do PSD, com 16.
O tamanho do grupo amplia a pressão sobre o Planalto pela distribuição de espaços no governo Lula. Apesar de ter indicado três ministros — Waldez Góes (Integração Nacional), Juscelino Filho (Comunicações) e Daniela Carneiro (Turismo)—, o União Brasil cobra mais cargos no segundo escalão.
Um dos pleitos é para que a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), empresa irrigada pelo orçamento secreto na gestão Bolsonaro, siga sob o comando de um apadrinhado do deputado Elmar Nascimento (União-BA), que é aliado próximo ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O próprio Lira, que não se considerou contemplado nos ministérios, articula para manter indicados em estatais como o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), responsável pelo combate à seca, e na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa de trens urbanos cujas superintendências no Nordeste são visadas por parlamentares petistas e da base de Lula.
O acordo pela federação foi precedido por uma série de negociações para destravar conflitos entre as duas siglas nos estados. Dois pontos causavam preocupação: as regras de “governança nacional”, com pressões internas para que as decisões ocorram de forma colegiada, e o critério de definição dos comandos e alianças locais.
Uma das situações delicadas é a da Bahia, onde ACM Neto (União) faz oposição ao PT, enquanto deputados estaduais do PP ingressaram na base do governador petista Jerônimo Rodrigues. Apesar de o PP baiano ser controlado por aliados de Neto, lideranças do União mapearam a possibilidade de uma troca de comando que aproximaria o partido de Lula e buscam garantias de que isso não ocorrerá na federação.
Definições locais
Caciques dos dois partidos buscam prioridade na definição dos diretórios locais. No Maranhão, o deputado André Fufuca (PP) tende a assumir o comando devido a arestas entre o ministro Juscelino Filho e o deputado Pedro Lucas Fernandes (União), que já vinham disputando o comando local do União. No Paraná, o senador Sergio Moro (União) não terá o comando, que ficará com o deputado Felipe Francischini (União). Em Minas, estado em que o presidente do Avante, Luis Tibé, articulava pelo comando da federação, a exclusão do partido abre espaço para o ex-deputado Marcelo Aro (PP), próximo ao Centrão e ao governador de Minas, Romeu Zema (Novo), liderar o novo bloco.
Em estados onde os partidos elegeram governadores — Goiás, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso no caso União Brasil; e Roraima e Acre com o PP à frente —, a tendência é que os chefes dos Executivos tomem as rédeas.
Em entrevista ao jornal O Globo, Bivar disse que fará uma gestão “partilhada” em Pernambuco com Dudu da Fonte (PP). Lideranças do União, porém, avaliam que o comando de fato ficará com Bivar. Em São Paulo, a federação ficará a cargo de Rueda.
— Ainda preciso entender como fica o projeto para as eleições municipais. Fizemos um planejamento para aumentar a bancada de vereadores do PP, e para isso a destinação do fundo eleitoral para o estado teria que crescer. Não sei como isso se daria numa federação — afirmou o deputado federal Maurício Neves, presidente estadual do PP em São Paulo.