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quarta-feira 13 de abril de 2022 às 10:27h

‘Fechou tudo’: brasileiros contam como está o lockdown em Xangai

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Segundo Felipe Freitas, do IG, desde o início da pandemia de Covid-19, em dezembro de 2019, a cidade de Xangai, com cerca de 26 milhões de habitantes, nunca tinha passado por um lockdown tão rigoroso. A medida adotada pelo governo chinês é a tentativa mais brusca para tentar conter a nova onda de casos que chegou na cidade.

Quem mora na cidade precisou mudar a rotina e passou a ficar isolado. O governo local proibiu pessoas de saírem de casa sem autorização e até idas a supermercados e farmácias passaram a ser controladas, com o objetivo de alcançar a política de tolerância zero à Covid-19.

Desde o início do novo surto, a cidade chegou a registrar picos de cerca de 27 mil casos em um único dia. Brasileiros que moram na cidade contaram ao iG como estão sendo os últimos dias na cidade, que vive uma nova rotina por conta do lockdown rigoroso.

“A política de zero covid não é uma coisa estática, eles vem adaptando à medida que o vírus muda e a gente tem mais vacinas, medicamentos, etc (…) à princípio, o governo aqui tinha tentado isolar áreas de Xangai, como condôminos e partes de alguns bairros, mas chegou uma hora que não dava mais, porque a cidade tem cerca de 26 milhões de pessoas e a densidade populacional é muito grande”, contou o engenheiro de produção Felipe Durante, que vive no país há quase três anos.

Ele disse que, inicialmente, o governo iria intercalar pequenos lockdowns, separando a cidade em dois lados, mas isso mudou. “Chegou uma hora que tínhamos milhares de casos por dia e aí eles anunciaram que iam fechar primeiro um lado da cidade por quatro dias e depois o outro lado por quatro dias, que é onde eu moro”.

“Mas, quando foi para o meu lado fechar, eles anunciaram que não iam abrir o outro porque tinha muitos casos positivos (…) eles resolveram fechar tudo, supermercado, padaria, restaurante, tudo fechou e ninguém poderia sair de casa a princípio, até todo mundo ser testado”, completou Felipe.

Caso precise sair de casa, o engenheiro contou que as pessoas precisam de uma autorização especial do condomínio ou da gestão da rua onde vivem. A pessoa precisa explicar o motivo do deslocamento, que só é liberado em casos de necessidade básica, como uma ida à farmácia ou supermercado.

Rodrigo do Val, que é presidente do Conselho de Cidadãos Brasileiros de Xangai e vive na cidade desde 2005, contou que o lockdown na cidade afetou a vida de toda sua família. “À medida em que a situação se agravava, com novos testes em massa sendo realizados e focos de casos assintomáticos sendo conhecidos, diversos complexos residências já sofriam restrições muito antes, como é o caso da minha ex-esposa e meu filho, que já foram isolados desde o dia 3 de março”. E completou: “Eu e minha esposa estamos isolados desde o dia 11 de março. As aulas, em geral, deixaram de funcionar presencialmente no dia 12 de março, em todas as escolas”, contou à reportagem.

“Passamos os dias em casa, usando o tempo que temos para se dedicar ao que é possível fazer de trabalho online, cuidar de ajudar as pessoas que podemos na comunidade brasileira aqui”, completou Rodrigo. Apesar da situação, o brasileiro afirmou que a situação por lá é controlada e que o governo local tem protocolos muito estabelecidos para evitar que a doença cresça ainda mais na cidade e se expanda para o resto do país em um novo grande surto nacional.

“São muitas as orientações e são atualizadas com frequência à medida em que se altera o número de novos casos, etc., mas são muito organizados em lidar com a situação, ainda que com todas as dificuldades”, disse.

Mudanças de acordo com as necessidades

“O governo criou aqui um sistema de três etapas. A primeira é: se tem um caso no seu condomínio ou onde você mora, todo mundo tem que ficar isolado por sete dias, sem exceção. Depois dos sete dias são feitos testes para detectar se ainda existe Covid, caso contrário, a pessoa pode caminhar pelo condomínio ou rua onde vive, evitando aglomerações”, afirmou Felipe Durante, em conversa com a reportagem.

E completou: “No terceiro e melhor dos casos, a regra é: se não tiver acontecido nenhum caso de Covid nos últimos 14 dias no condomínio ou rua, as pessoas podem caminhar pela cidade normalmente.

Segundo ele, a atualização das regiões das cidades na terceira etapa acontece periodicamente, pois o governo local fica monitorando constantemente e atualizando as regras. “Eles estão sempre aprendendo e tentando se adaptar à medida que a doença vai evoluindo e a gente tem mais medicamentos”.

Rodrigo do Val também afirmou que a estratégia utilizada é muito regionalizada. “Em vizinhanças onde se tem algum caso novo positivo, aplica-se no momento uma quarentena de duas semanas, para toda a vizinhança. Em locais onde não há nenhum novo caso há mais de uma semana, é possível sair do apartamento e circular pelas áreas comuns, pátios, jardins, áreas de lazer, sem que se possa sair do bloco residencial. Em blocos residenciais onde não há nenhum caso nas últimas duas semanas, é possível circular livremente pelas ruas, em seu subdistrito”, contou.

O que diz a ciência

Segundo Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o que acontece hoje em algumas regiões do sudeste asiático é que, provavelmente, alguns vírus tinham baixa circulação na região, o que contribuiu para a não formação de barreiras de proteção. Além disso, a baixa imunização, especialmente entre idosos, também pode ter contribuído para o aumento no número de casos.

“O que normalmente a gente tem assistido são países que estão agora vivenciado grandes ondas são justamente aqueles que nunca tiveram uma disseminação muito grande de vírus. Não acredito que essas condições como a de Xangai possam ser reproduzidas em países com uma circulação prévia de vírus e com uma taxa de vacinação maior”, afirmou.

Para o vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e Consultor de Covid-19 da Associação Médica Brasileira, Alexandre Naime Barbosa, o que está acontecendo na China é que eles fizeram uma política de Covid zero, com muita vigilância, e isso gerou muita proteção durante um tempo, mas, com a flexibilização das regras e a consequente abertura, o vírus conseguiu entrar no país e infectar a população mais facilmente.

Além disso, a população mais idosa na China, muito adepta ainda da medicina mais tradicional chinesa, não tem altos níveis de vacinação, o que também ajuda na disseminação e contaminação da doença na cidade mais populosa do país.

“Existe um aspecto cultural na China, principalmente entre os mais idosos, uma questão de não vacinação muito grande (…) então, no momento em que existe flexibilização em um ambiente com pouca vacinação, a gente já sabe o resultado”, afirmou o especialista.

“A China está mais do que correta em fazer o lockdown, o que a gente precisa entender é que a pandemia acontece de maneira diferente em cada país”, completou.

“Isso acende um sinal de alerta muito importante, porque a população chinesa é muito grande e existe um grande adensamento populacional. Então imagina um vírus circulando nessa população, podem surgir novas variantes, portanto o lockdown é muito importante para evitar isso e o alastramento do vírus para o resto do país”, finalizou Alexandre.

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** Felipe Freitas é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo. No portal iG, escreve para as editorias Último Segundo e Saúde.

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