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Homens da família real britânica no funeral de Diana Foto: Jeff J. Mitchell/AFP/Getty Images
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sábado 17 de abril de 2021 às 11:38h

Família real britânica segue rígida tradição nos trajes de luto; entenda

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A rainha trocou suas roupas normalmente coloridas pelo uso de trajes sóbrios e totalmente pretos durante duas semanas, o período de luto pela morte em 9 de abril de seu marido, o príncipe Philip, duque de Edimburgo.

Como é costumeiro, toda a família real seguirá um código de vestimenta rigoroso conforme a CNN quando o duque for sepultado em 17 de abril, durante o primeiro funeral real no Reino Unido desde a morte da rainha-mãe em 2002.

As mulheres serão vistas com vestidos pretos na altura do joelho e chapéus formais. Já os homens usarão fraques pretos com medalhas, de acordo com um porta-voz do Palácio de Buckingham. Em uma ruptura com a tradição, nenhum membro da família vestirá em uniforme militar, evitando um dilema potencial, já que o príncipe Harry foi destituído de seus títulos quando deixou os deveres reais.

Mesmo em tempos de luto, dá-se muita atenção a como os membros da família real britânica interpretam os códigos de vestimenta, que datam de centenas de anos e mudaram com o tempo.

Elizabeth II em trajes de luto
Elizabeth II usou um longo véu logo após o falecimento de seu pai, o Rei George VI
Foto: Daily Mirror/Mirrorpix/Getty Images

Em 1982, ficaram famosas as fotos da princesa Diana no funeral da atriz e princesa de Mônaco Grace Kelly. Então recém-casada, ela usava um chapéu de palha com véu, vestido preto de manga comprida com gola alta e um pingente de coração – uma escolha apropriada que ainda mostrava seu senso de estilo inato.

“A princesa Diana passava aquela sensação de ter um olho no que o povo espera, e saber naturalmente como acertar o tom exato”, disse a curadora e historiadora de moda britânica Kate Strasdin em uma entrevista.

Diana, princesa de Gales
Diana, princesa de Gales, no funeral da princesa Grace de Mônaco em 1982
Foto: Anwar Hussein/Getty Images

Tirada durante o próprio funeral da princesa de Gales em 1997, a imagem comovente do príncipe Philip, do príncipe William, do irmão de Diana, Charles Spencer, do príncipe Harry e do príncipe Charles andando atrás do caixão em ternos escuros é uma das fotos mais referenciadas na história contemporânea da realeza. E é também emblemática dos trajes fúnebres reais modernos. Nicole Kidman e Elton John estavam entre as celebridades que obedeceram rigidamente ao código de vestimenta formal e totalmente preto para prestar suas homenagens durante a cerimônia de despedida de Diana, assistida por milhões em todo o mundo.

“Um símbolo visual de luto”

Embora o preto seja a cor preferida para o luto há temos (já era popular entre os ricos durante a Idade Média), ele só se tornou onipresente com o luto no século 19.

De acordo com a historiadora Strasdin, foi durante esse período na Europa e nos Estados Unidos que os códigos de vestimenta do luto se estabeleceram, especialmente para as mulheres, impulsionados pelo aumento de publicações femininas e pelo acesso mais fácil às roupas. A revista “Harper’s Bazaar”, por exemplo, aconselhou leitoras a almejar uma “simplicidade de freira” em 1868.

Até mesmo o modelo de loja de departamentos moderna nasceu do então nascente setor funerário. Segundo Strasdin, por volta de 1840 os “empórios enormes” que surgiram em Londres e Paris deveriam servir como uma parada única para as necessidades funerárias.

“Sob o mesmo teto, era possível comprar tudo, de artigos de papelaria a joias de luto” para comparecer a um funeral.

Vestido drapeado de veludo e vestido de meio luto.
Vestido drapeado de veludo e vestido de meio luto. A loja de departamentos moderna nasceu da popularidade dos estilos de luto.
Foto: De Agostini Editorial/Getty Images

O estilo de luto de uma pessoa “servia como um símbolo visual do pesar, ao mesmo tempo em que demonstrava o status, o gosto e o nível de propriedade de quem o vestia”, observou o texto introdutório à exposição de 2014 “Death Becomes Her: A Century of Mourning Attire”, no Metropolitan Museum of Art.

No século 19, o autor de livros de etiqueta D.C. Colesworthy teve uma visão mais atrevida da tendência em seu livro “Hints of Common Politeness” (“Dicas de Boas Maneiras Comuns”, sem edição no Brasil), lançado em 1867, conforme citado na exposição Met. “Quando vemos as senhoras insistindo em usar zibelina, somos lembrados da resposta que uma jovem viúva deu à sua mãe: ‘A senhora não percebe?’, disse a filha, ‘isso me poupa das despesas de me anunciar para ter um novo marido!’”, escreveu.

O uso do preto foi brevemente aposentado em 1938, após a morte da avó da rainha Elizabeth II, a condessa de Strathmore. Uma fotografia mostra a rainha-mãe usando um vestido branco desenhado por Norman Hartnell para marcar o falecimento de sua mãe. O conceito de “luto branco” seguia o exemplo de Maria, Rainha dos Escoceses, que foi pintada usando um vestido de luto branco depois de perder vários membros da família no século 16.

Rainha Mãe no funeral de sua mãe
A Rainha Mãe quebrou a tradição, usando branco no funeral de sua mãe, em 1938
Foto: Topical Press Agency/Hulton Archive/Getty Images

A “viúva perpétua”

Ninguém teve mais influência no traje de luto do que a rainha Vitória. Após a morte súbita de seu marido, o príncipe Albert, em 1861, a monarca expressou publicamente sua tristeza, vestindo preto todos os dias por quatro décadas — até sua própria morte. Foi Vitória quem ajudou a codificar as nuanças da moda do luto e manteve sua identidade como “a viúva perpétua”, de acordo com Strasdin.

Um vestido de meio luto usado pela rainha Vitória
Um vestido de meio luto usado pela rainha Vitória, 33 anos após a morte de Albert
Foto: The Metropolitan Museum of Art

Na era vitoriana, “mesmo os pequenos detalhes de vestimenta indicando em que estágio do luto você está se tornaram muito importantes”, explicou Strasdin. Era sinal de riqueza e status poder arcar com todo um guarda-roupa de luto, assim como uma demonstração de conhecimento de todas as regras da sociedade.

Por um ano e um dia, esperava-se que as viúvas usassem trajes de luto completos, conhecidos como “roupa de viúva”, feitos em crepe preto fosco sem enfeites, de acordo com Strasdin. À medida que o pesar se desvanecia, as cores e outros tecidos podiam ser lentamente reintroduzidos. Finalmente, nos últimos seis meses do período de dois anos e meio, as roupas de “meio luto” podiam ser usadas, incluindo branco, cinza, amarelo claro ou tons de lilás ou lavanda. Às vezes, as roupas vinham em roxo vibrante. A exposição “Death Becomes Her” trouxe um desses vestidos de sarja de lã e veludo de seda, com ombros ousados, acabamento preto e detalhes intrincados em branco e dourado.

Embora fosse costume voltar a um guarda-roupa normal após o longo período de luto, a rainha Vitória persistiu em usar roupas pretas de luto pelo resto de sua vida. Como mostrou a exposição, um dos vestidos de Vitória de 1894 (33 anos após a morte de Albert) foi feito em crepe preto sombrio com um corte simples.

Trajes de luto
Os estágios de luto foram indicados pela escolha do tecido, cor e adorno. A rainha Alexandra deliberadamente afrouxou os rígidos códigos para trajes de luto estabelecidos sob Vitória.
Foto: Timothy A. Clary/AFP/Getty Images

A eterna demonstração de luto da rainha Vitória foi impopular entre seus súditos, pois encorajou um código de vestimenta mais rígido, observa Strasdin. Sua nora, a rainha Alexandra, marcou uma mudança, afrouxando as restrições quando a rainha Vitória faleceu e depois que seu próprio filho mais velho morreu. Alexandra optou por vestidos de luto brilhantes de chiffon de seda lilás e com lantejoulas, além de trajes amarelos e cinzas claros.

“Ela sabia que o povo havia sofrido com o luto contínuo da rainha Vitória”, afirmou a historiadora. “Por isso, a rainha Alexandra adotou meio luto pelo resto de sua vida, porque sabia que entrar em luto completo não teria sido uma escolha popular”.

Ao longo das décadas, as tradições do guarda-roupa de luto impraticáveis saíram de moda, mas a influência da rainha Vitória ainda está presente nos períodos de luto real moderno, das cores austeras à rígida adesão aos códigos de vestimenta. “Apesar das mudanças, acho que o século 19 ainda influencia os dias de hoje”, disse Strasdin.

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