A fábrica da montadora chinesa BYD na Bahia ainda não tem endereço certo. Pelo anúncio oficial, feito nesta última terça-feira (4) em Salvador, sabe-se apenas que será em Camaçari. Nessa cidade fica a antiga fábrica da Ford, que está à venda e os chineses demonstram interesse em comprá-la. Se americanos e chineses não chegarem ao consenso nessa negociação que se arrasta há meses, o governador Jerônimo Rodrigues (PT), promete dar um jeito de achar outro lugar, em Camaçari mesmo, diz Marli Olmos, do jornal Valor.
O esforço do governador baiano vale a pena. A empresa confirmou ontem investimento inicial de R$ 3 bilhões para, na primeira fase, contratar mil funcionários e produzir 150 mil veículos por ano. Com o tempo, segundo a vice-presidente global da companhia, Stella Li, serão 5 mil funcionários.
Li, que também comanda as operações da BYD nas Américas, se destacou na festa que o governo estadual preparou para o anúncio. Quando os primeiros grupos musicais locais subiram ao palco ela acompanhou o ritmo com palmas, batendo os pés no chão. Aos poucos se soltou. Bateu o bumbo do instrumentista do grupo Ilê Aiyê e seguiu, com perfeição, a coreografia de bailarinas baianas quando o Olodum entrou em cena. Até fitinhas do Senhor do Bonfim a executiva chinesa colocou no pulso.
Sem endereço da fábrica ainda definido, a festa aconteceu no Farol da Barra, onde foram expostos veículos da marca chinesa. Em seu discurso, Li disse que no futuro empreendimento, a BYD produzirá carros, ônibus e caminhões elétricos. Ela prometeu, ainda, produzir no país carros elétricos acessíveis e fazer da Bahia “um centro de inovação”. O início de produção está previsto para o último trimestre de 2024.
Segundo o governador, o documento de cooperação assinado com a BYD também prevê “pesquisa e produção de minérios” no Estado. Minérios, como lítio, são essenciais para a produção de baterias. O investimento da BYD na Bahia vai se inserir num programa de incentivos estadual que prevê redução de 95% do ICMS até 2032.
Numa entrevista concedida em Salvador, logo depois do evento de anúncio do investimento, o consultor da BYD no Brasil, Alexandre Baldy, disse que “não existem entraves” na negociação da empresa chinesa para compra da fábrica da Ford.
“Não seremos a mesma Bahia quando usarmos carros carregados em tomadas de 110 e 220 volts”
“O que existem são tratativas entre duas empresas, que são multinacionais”, destacou Baldy, que estava ao lado de Li quando a direção da empresa foi questionada por jornalistas sobre o que estaria travando a conclusão da compra da fábrica que pertence à montadora americana.
Na mesma entrevista, Rodrigues falou sobre as negociações para liberar para a BYD o porto que pertencia à Ford. Localizado na Baía de Aratu, em Candeias, o empreendimento foi construído pelo governo baiano exclusivamente para servir à Ford, que fechou a fábrica em Camaçari em 2021.
A empresa também está à espera de uma posição do governo em relação a incentivos federais. Na semana passada Li e Rodrigues estiveram reunidos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em São Paulo, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), que representa os concessionários, comemorou ontem o resultado dos incentivos fiscais concedidos pelo governo federal para elevar as vendas de carros de até R$ 120 mil. O benefício totalizou R$ 800 milhões, que foram convertidos em descontos para o consumidor.
Em junho foram vendidos 179,6 mil carros e comerciais leves, um aumento de 8,6% em relação ao mesmo mês de 2022. No semestre – 934,5 mil unidades -, o crescimento foi de 9,76%. Incluindo caminhões e ônibus, o mercado totalizou 189,5 mil veículos em junho, elevação de 6,46% em relação ao mesmo mês do ano passado. No semestre, o total de 998,2 mil unidades somou aumento de 8,7%.
Com o fim dos incentivos fiscais, a Fenabrave anunciou que pretende levar ao governo um plano que, segundo o presidente da entidade, Andreta Jr., trará “uma solução que vise o crescimento sustentado para o setor sem perdas de arrecadação”.