quinta-feira 6 de fevereiro de 2025
Foto: Reprodução/Facebook Embraer
Home / NOTÍCIAS / FAB corta compra de cargueiro militar e abre crise inédita com a Embraer
sábado 13 de novembro de 2021 às 09:42h

FAB corta compra de cargueiro militar e abre crise inédita com a Embraer

NOTÍCIAS


A Força Aérea Brasileira (FAB) reduziu de forma unilateral segundo informa a Folha de S. Paulo, a encomenda dos cargueiros militares KC-390 da Embraer, ato inédito que expôs seu incômodo na relação de 52 anos com a empresa, abrindo uma crise sem precedentes.

A empresa disse que vai estudar “medidas legais” acerca do caso, reiterando sua confiança na qualidade e potencialidade do avião. Suas ações chegaram a despencar 8,4% nesta sexta (12), e fecharam o pregão com queda de 4,4%.

A aeronave é a maior aposta no setor de defesa da Embraer, e uma compra governamental inicial robusta é necessária para alavancar sua exposição no mercado externo —o KC-390 já foi comprado por Portugal e Hungria, membros da Otan (clube militar ocidental), e está ofertado a outros países.

A informação foi adiantada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em texto publicado no site da FAB nesta sexta, o comandante da Força, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, afirmou que a decisão “indesejável” ocorreu por responsabilidade da Embraer.

Segundo ele, quando a Aeronáutica informou que a restrição orçamentária sobre programas estratégicos do governo Jair Bolsonaro (sem partido) afetaria a compra dos KC-390, em abril, foram abertas negociações com a empresa.

Baptista Junior diz que as conversas se estenderam além do prazo inicial, agosto, chegando a uma data limite na quinta (11). “A Embraer informou a não aceitação da proposta da Aeronáutica”, diz o chefe militar.

A empresa, que nasceu do ventre da FAB em 1969 e foi privatizada em 1994, vai avaliar “medidas legais relativas ao reequilíbrio econômico e financeiro dos contratos, bem como avaliará os efeitos da redução dos contratos em seus negócios e resultados”, segundo disse em nota Antonio Carlos Garcia, vice-presidente financeiro. Até agora, quatro KC-390 foram entregues à Força.

Com a decisão da FAB, a encomenda inicial de 28 aviões cairá para 15, um processo que ocorrerá “dentro dos limites previstos na lei”. Ainda não é público o que isso significa em termos de dispêndio com o programa, que consumiu R$ 720 milhões em 2020.

Pelo contrato assinado em 2014, os 28 aviões seriam comprados por R$ 7,2 bilhões (cerca de R$ 11 bilhões hoje, corrigidos pela inflação). Não está claro se o valor seguirá o mesmo para as 15 unidades ou se haverá uma redução no valor.

Como o título em tom de questionamento do artigo do brigadeiro Baptista Junior indica, “FAB e Embraer: caminhos futuros em prol de interesses convergentes?”, o mal-estar é enorme.

Segundo a reportagem ouviu de pessoas com acesso às negociações, a Embraer se queixou do escopo da decisão, considerada inusitada dado que o programa já havia sofrido cortes de verbas no passado, meramente atrasando o cronograma de entrega e desenvolvimento da aeronave.

Na empresa, há queixas sobre o conceito, entre os militares, de que a Embraer ainda é uma estatal à mercê de seus desígnios.

Alé disso, a FAB tem insistido em comprar dois aviões multifuncionais Airbus A330-MRTT, ao custo de mais de R$ 800 milhões cada. São aeronaves de transporte e reabastecimento aéreo de outra categoria, maiores do que o KC-390, mas mesmo entre militares há dúvidas sobre a lógica do negócio.

Por fim, há especulações de que a FAB está querendo ganhar espaço fiscal para fazer um anúncio de compra de uma nova leva de caças Gripen, fabricados pela sueca Saab em parceria com a Embraer e outras empresas nacionais.

Do lado dos militares, há uma percepção de que a Embraer não foi flexível, apesar de o KC-390 ser um produto desenvolvido a partir de 2008 com R$ 5 bilhões (R$ 11 bilhões em valores atuais) injetados pelo governo federal. Esse valor será reembolsado com royalties das exportações do avião.

Mais do que isso, o próprio Baptista Junior indica no seu texto o incômodo com o que os militares veem como uma ingratidão da Embraer, dada a relação íntima entre seus programas de sucesso e a FAB.

“Esta história de parcerias nem sempre é feita apenas de vitórias e convergências. Sim, foi a Força Aérea Brasileira que, abrindo mão de importar os mais modernos sistemas de armas disponíveis no mercado mundial a preços compatíveis com nossas possibilidades, optou por um processo de nacionalização industrial”, escreveu.

“Em cada um dos programas militares dos quais participamos, contribuímos para a aquisição ou expansão das capacidades tecnológicas da empresa, conhecimentos esses que transbordaram para as áreas dos aviões comerciais e executivos”, continuou.

Um exemplo clássico disso é a produção do avião de ataque ítalo-brasileiro AMX, que deu à Embraer capacitação para desenhar o jato regional ERJ-145, o avião que salvou a empresa após sua privatização. Movimento semelhante ocorre agora com o Gripen, que é supersônico e agrega tecnologias de ponta de fusão de dados e uso de materiais compostos.

Dando seu recado, o brigadeiro arrematou: “E passaram a produzir os produtos vitoriosos, que garantem os seguidos lucros aos seus acionistas, principalmente após o processo de privatização, ocorrido em 1994”.

A expectativa agora é sobre os termos dessa repactuação unilateral, e descobrir se ela pode caminhar para uma judicialização que fira de forma mais grave a relação siamesa entre FAB e Embraer.

Para a fabricante, claro, é péssima notícia, não só pelo impacto na imagem externa do KC-390. A empresa já vem de dois baques enormes, o cancelamento da venda de sua área de aviação comercial para a americana Boeing e o impacto da pandemia no mercado aeronáutico.

No terceiro trimestre, sua divisão de Defesa e Segurança alcançou receita líquida de R$ 916,5 milhões, ante R$ 1,27 bilhão da aviação comercial e R$ 1,27 bilhão, da executiva.

Veja também

Auditoria do TCM da Bahia aponta irregularidades na merenda escolar em Vitória da Conquista

Os conselheiros da 2ª Câmara julgadora do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM-BA) …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!