O trágico e misterioso desaparecimento da aviadora Amelia Earhart enquanto sobrevoava o Oceano Pacífico intriga o mundo há 86 anos, estimulando inúmeras investigações e expedições em busca de respostas sobre o que aconteceu com a exploradora.
O grupo mais recente a se juntar à busca, uma equipe de arqueólogos subaquáticos e especialistas em robótica marinha da empresa de exploração oceânica Deep Sea Vision, diz que pode ter encontrado uma pista que poderia dar fim ao mistério de Earhart.
Usando imagens de sonar, uma ferramenta para mapear o fundo do oceano que utiliza ondas sonoras para medir a distância do fundo do mar à superfície, o grupo detectou uma anomalia no Oceano Pacífico, a mais de 4.800 metros debaixo d’água, que se assemelha uma pequena aeronave.
Os pesquisadores acreditam que a anomalia pode ser um Lockheed 10-E Electra, o avião com capacidade para 10 passageiros que Earhart pilotava quando desapareceu enquanto tentava voar ao redor do mundo.
A Deep Sea Vision anunciou a descoberta por meio de uma postagem no Instagram no dia 27 de janeiro.
“Algumas pessoas consideram um dos maiores mistérios de todos os tempos. Penso que, na verdade, é o maior mistério de todos os tempos”, disse o CEO da empresa, Tony Romeo, piloto e antigo oficial de inteligência da Força Aérea dos Estados Unidos.
“Temos a oportunidade de encerrar uma das maiores histórias americanas de todos os tempos”, ressaltou.
Resolvendo um mistério subaquático
As imagens foram registradas a cerca de 161 quilômetros de distância da Ilha Howland, segundo Romeo, o próximo local onde Amelia Earhart e o navegador Fred Noonan deveriam pousar após sua última decolagem de Lae, na Papua Nova Guiné.
A dupla foi declarada perdida no mar após uma extensa busca de 16 dias conduzida pelo governo dos EUA.
A Deep Sea Vision escaneou mais de 13.468 quilômetros quadrados do fundo do oceano usando um veículo subaquático autônomo avançado conhecido como Hugin 6000, que mapeia o fundo do mar usando tecnologia de sonar.
A expedição da empresa começou no início de setembro de 2023 e terminou em dezembro, disse Romeo à CNN.
Romeo espera retornar ao local dentro de um ano para confirmar que a anomalia se trata de um avião, o que provavelmente envolveria o uso de um ROV (veículo operado remotamente) com uma câmera que permitiria investigar o objeto mais de perto.
A equipe também estudaria a possibilidade de trazer a descoberta à superfície, destacou Romeo.
“Embora seja possível que este seja um avião e talvez até mesmo o avião de Amelia, é muito prematuro dizer isso de forma definitiva. Também pode ser ruído nos dados do sonar, algo geológico ou algum outro plano”, ponderou Andrew Pietruszka, arqueólogo subaquático do Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia, em San Diego, e arqueólogo-chefe do Project Recover, uma organização dedicada a encontrar soldados e aeronaves que sumiram na Segunda Guerra Mundial.
“Dito isto, se eu estivesse procurando o avião de Amelia e tivesse esse alvo no conjunto de dados, gostaria de analisá-los mais detalhadamente”, ressaltou Pietruszka.
Mais teorias sobre o desaparecimento de Earhart
Um documentário do History Channel de 2017 propôs a teoria de que Earhart e Noonan haviam caído nas Ilhas Marshall, a cerca de 1.609 quilômetros de distância da Ilha Howland, onde foram capturados e levados para a Ilha Saipan, mantidos como reféns e eventualmente morreram.
A teoria foi baseada em uma foto do Arquivo Nacional dos EUA que apresentava várias figuras borradas. Os investigadores afirmaram que a aviadora e seu avião estavam na imagem.
O Grupo Internacional para Recuperação de Aeronaves Históricas, ou TIGHAR, teorizou em 2016 que Earhart e Noonan sobreviveram a um pouso difícil em um recife no Oceano Pacífico, mas mais tarde morreram como náufragos após não conseguirem pedir ajuda pelo rádio.
A equipe TIGHAR afirmou que o esqueleto de um náufrago encontrado na ilha de Nikumaroro, Kiribati, em 1940, correspondia à “altura e origem étnica de Earhart”.
Entretanto, a teoria mais amplamente aceita, defendida pelo governo dos Estados Unidos e pela instituição Smithsonian, é que Earhart e Noonan caíram no Oceano Pacífico perto da Ilha Howland quando o avião ficou sem combustível.
A nova imagem do sonar da suposta aeronave desaparecida é de particular interesse devido à proximidade da anomalia com a Ilha Howland, disse Dorothy Cochrane, curadora de aviação geral no departamento de aeronáutica do Museu Nacional do Ar e do Espaço Smithsonian.
Nas últimas comunicações de Earhart, suas transmissões de rádio ficaram progressivamente mais fortes à medida que ela se aproximava da Ilha Howland, indicando que ela estava se aproximando da ilha antes de desaparecer, pontuou Cochrane.
Análises são necessárias
No entanto, o objeto em forma de avião encontrado pela Deep Sea Vision carece de certas características do Lockheed Electra de Earhart, como os motores duplos, de acordo com David Jourdan, cofundador e presidente da Nauticos, uma empresa de exploração oceânica profunda que conduziu operações de busca para a aeronave perdida.
“É impossível identificar qualquer coisa apenas a partir de uma imagem de sonar, pois o som pode ser complicado, e o artefato pode ser danificado de maneiras imprevisíveis, alterando sua forma. Por esse motivo, você nunca pode dizer que algo é (ou não é) apenas a partir de uma imagem de sonar”, ressaltou Jourdan.
Confirmar que a anomalia recém-descoberta é o avião de Earhart exigiria retornar ao local para investigar melhor o avião e, mais definitivamente, localizar a certificação “NR16020” que estava impressa na parte inferior da asa do Lockheed, continuou o especialista.
Se o avião fosse descoberto em tal profundidade no oceano, onde as temperaturas são muito frias e com baixo teor de oxigênio, o avião poderia estar muito bem preservado, concluiu.
“(Earhart) era uma espécie de estrela do rock da época, a Taylor Swift da época. Todo mundo está torcendo por ela, eles queriam que ela desse a volta ao mundo, e ela desapareceu sem deixar rastros. É o mistério do século 20, e agora do século 21”, disse Cochrane.