Presidente, diretores, gerentes e coordenadores de empresas brasileiras estão ganhando menos. É o que indica a “Pesquisa de Remuneração e Práticas de Gestão de Pessoas 2023”, da consultoria Deloitte, obtida com exclusividade pelo Valor. O levantamento nacional, que acaba de ser concluído, mostra que as lideranças tiveram reduções líquidas de 3% a 5% nos salários, descontando a inflação, entre novembro de 2021 e novembro de 2023.
“O ano passado foi um período de incertezas, com orçamentos mais restritos nas organizações”, explica Davi Ernani, diretor da área de consultoria empresarial da Deloitte. “Com essa dúvida sobre o ambiente econômico, o recurso financeiro destinado à remuneração variável, que os executivos recebem, também pode ter sido impactado.”
De acordo com o estudo, em 2023, a maior parte das empresas (33%) destinou de 1% a 1,99% do faturamento líquido para programas de remuneração variável. Em 2021, o quadro era ainda mais restrito: a maioria (39%) reservou menos de 1%.
Na ponta do lápis, a queda salarial por nível hierárquico no intervalo analisado foi de 5% para diretores e gerentes, 4% para presidentes e de 3% entre coordenadores. Em contrapartida, observou-se um movimento oposto para profissionais de nível superior que não ocupam posições de liderança, com 6% de aumento salarial; e entre funcionários de nível médio e técnico, como assistentes, auxiliares e operadores de máquinas, com um salto de 4%.
Bônus futuros
O estudo indica que as áreas que mais apresentaram uma tendência de valorização nos ganhos das equipes foram saúde (com 16% de incremento nos pagamentos); antes de companhias de marketing e de tecnologia da informação (7%). No final do ranking, os principais setores com propensão de corte nos holerites foram construção (-13%) e telecomunicações (-21%). Todos os percentuais são líquidos, considerando o desconto da inflação no período de novembro de 2021 a novembro de 2023, segundo o relatório.
A pesquisa da Deloitte é realizada há 30 anos. A edição atual analisou 532 cargos em 93 empresas no Brasil, sendo a maioria (58%) de grande porte, de segmentos como serviços, tecnologia e telecomunicações (32%), além de saúde (16%), energia e recursos naturais (16%), bens de consumo (13%), indústria da transformação (13%), atacado e varejo (10%).
Diante do resultado do estudo, o consultor recomenda às empresas, mesmo em momentos de indefinição nos negócios, mais atenção às recompensas financeiras, a fim de reter talentos qualificados. “As companhias devem estabelecer vínculos remuneratórios de longo prazo, como bônus para os anos seguintes e [oferta de] participação societária”, sugere.