O ex-líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, utilizou secretamente segundo o Financial Times, grandes bancos ocidentais para fazer pagamentos a empresas africanas controladas pelos mercenários, à medida que se expandia por um continente e era alvo de sanções internacionais. Em causa estão os bancos JPMorgan Chase e HSBC, que processaram os pagamentos involuntariamente.
A revelação foi feita nesta terça-feira (24) através de documentos confidenciais a que o Centro de Estudos Avançados de Defesa (C4ADS) teve acesso, de acordo com o Financial Times. Tais documentos mostram que, por exemplo, uma empresa sudanesa controlada por Prigozhin fez compras de equipamentos industriais à China em 2017, cujos pagamentos passaram pelos bancos ocidentais.
Em causa está a empresa mineira sudanesa Meroe Gold – um testa de ferro para o grupo Wagner. Entre os documentos está uma fatura datada de agosto de 2017, que mostra que a empresa sudanesa processou um pagamento de uma conta bancária local através do banco norte-americano JPMorgan Chase como intermediário para um vendedor chinês.
Existe ainda uma outra fatura do mesmo ano, que mostra que a Meroe Gold realizou o pagamento da compra de geradores a diesel e peças sobressalentes a uma empresa chinesa através do Hang Seng Bank, que faz parte do grupo HSBC. A empresa sudanesa não era alvo de sanções por parte dos EUA no momento dos pagamentos, mas Prigozhin e o grupo Wagner eram-no desde 2016.
A Meroe só foi sujeita a sanções dos EUA posteriormente, em 2018, por ser “propriedade ou controlada por Prigozhin” e por ajudar o à data líder do grupo de mercenários a “explorar os recursos naturais do Sudão para ganho pessoal”.
Não existem, contudo, provas de que os bancos envolvidos nestas operações tivessem conhecimento de que estavam a processar as transações. De acordo com o Financial Times, o grupo britânico HSBC recusou-se a comentar as transações específicas no Sudão, mas o banco afirmou estar “profundamente empenhado no combate ao crime financeiro e na integridade do sistema financeiro global”.
Já o banco JPMorgan disse não ter registo das ações em causa. “Após uma análise dos detalhes limitados partilhados connosco, não encontrámos quaisquer registos que correspondam a essas transações”, afirmou.
O C4ADS, que publicou um relatório sobre os documentos a que teve acesso, sublinha que as transações mostram que Prigozhin e o grupo Wagner não teriam sido capazes de criar uma base de apoio em África sem beneficiar do sistema financeiro legítimo.