Responsável pela oferta da vacina russa Sputnik V ao Brasil, o ex-deputado Rogério Rosso, nega segundo a Folha de S. Paulo, que seu histórico político tenha algo a ver com a grande probabilidade de o imunizante receber autorização emergencial para uso no Brasil.
Há algumas semanas, a Sputnik V ganhou o interesse do governo Jair Bolsonaro, apesar de possuir estudos de fase 3 no Brasil. Nesta quarta-feira (3) a Anvisa confirmou mudanças nos critérios para autorização de uso emergencial no Brasil, abrindo mão do critério de testes no país. Assunto forte em Brasília, o imunizante chegou a gerar a projeção de que enfim havia chegado a “vacina do centrão”.
O grupo político sustenta o governo Bolsonaro na Câmara e na segunda-feira (1), com o líder do grupo Arthur Lira (PP), conquistou a presidência da Casa.
Quando deputado, Rosso integrava a bancada do PSD e era próximo do cacique Eduardo Cunha, presidente da Câmara à época do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Rosso, inclusive, presidiu a comissão que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Ele atualmente é o diretor de Negócios Internacionais da União Química, farmacêutica paulista que é parceira do governo russo na questão da Sputnik V. Rosso, no entanto, nega a associação. “A vacina é boa e tivemos uma grande coincidência em nosso favor”, disse à Folha.
Na terça-feira (2), a publicação britânica The Lancet divulgou o estudo de fase 3 da vacina fabricada pelo Instituto Gamaleya e a apontou como segura e com eficácia de 91,6%.
Em 2018, após perder a pelo governo do Distrito Federal, Rosso retornou ao setor privado e foi contratado pela União Química para desenvolver uma estratégia internacional.
“Visitei mais de 15 países desde que comecei, em março de 2019. Um deles foi a Rússia, onde queríamos montar uma rede para nossos produtos veterinários”, afirmou Rosso à reportagem. Foram apresentadas as sete fábricas da empresa, inclusive o novo centro fabril de biotecnologia em Brasília, aberto em 2017.
“Quando veio a pandemia, lá para abril de 2020, o governo russo entrou em contato conosco. Tínhamos na fábrica de Brasília já pronta equipamentos idênticos aos do Gamaleya para produzir a vacina localmente. Era só uma questão de mudar parâmetros das máquinas, é uma chamada fábrica flex”, disse.
A Folha ainda afirma que a fábrica já está em operação piloto, para testes, de produção do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), a matéria-prima da Sputnik V. Se tiver uso aprovado, será a primeira do país a fazê-lo, antes do Instituto Butantan e sua Coronavac ou da Fiocruz com a vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford.
Se for aprovada, sua produção em plena capacidade é de 8 milhões de doses por mês, bem menos que as rivais. Mas planos de expansão não são descartados.