Vinte anos após o início do primeiro mandato de Lula, o grupo formado pelos antigos conselheiros do presidente está mais distante segundo Jeniffer Gularte e Sérgio Roxo, O Globo, e guarda níveis diferentes de relação com o petista. A maioria, conforme o jornal, preserva a atividade nos bastidores da política e os “palpites” — diretamente ou via interlocutores. Entre eles estão o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-chefe de gabinete Gilberto Carvalho, e o presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto.
Um dos nomes mais influentes do PT, Dirceu mora em Brasília e não deixou de ser um nome lembrado. Apesar de não frequentar o Palácio do Planalto e estar há 17 anos sem ir ao Congresso, conversa com assiduidade com dois ministros: Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral).
Dirceu é visto por integrantes do governo e até da oposição como um conselheiro estratégico, pela capacidade de leitura do cenário político e por conversar com todos os campos: é amigo, por exemplo, de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Dirceu, no entanto, não tem planos de retornar à vida pública. Apesar de manter uma rotina discreta, quando aparece em eventos públicos é festejado pela militância e disputado para selfies e conversas.
Ao avaliar o governo Lula para pessoas próximas, ele faz comentários positivos do primeiro semestre, mas cita uma diferença: na primeira gestão, acredita que o bom entrosamento dos auxiliares mais próximos do petista era resultado do fato de já estarem militando juntos há pelo menos 20 anos na ocasião. Agora, pondera, o núcleo mais próximo é formado por nomes que não haviam trabalhado juntos anteriormente. A opção por renovar seu time foi do próprio Lula. Quando venceu as eleições, o presidente disse a Gilberto Carvalho: “O técnico pode ser velho, mas os jogadores precisam ser novos”.
Pé de igualdade
Uma avaliação comum entre auxiliares palacianos é que hoje Lula não tem um conselheiro que converse com ele em condições de igualdade. Por ter anos de amizade e um relacionamento intenso, esse grupo formado também por Carvalho, Paulo Okamotto e Luiz Dulci, tinha um grau de liberdade maior junto a Lula.
Okamotto e Carvalho combinaram de não entrar no governo para se dedicarem à relação do PT com a base. Carvalho, porém, aceitou uma secretaria no Ministério do Trabalho. A decisão aborreceu Lula, mas não os afastou totalmente. O ex-ministro tem conversas esporádicas com o presidente. Uma vez ou outra, vai ao Planalto almoçar com o atual chefe de gabinete, Marco Aurelio Ribeiro, que o leva até Lula para um café.
Os encontros, porém, não contemplam conversas longas nem momentos a sós. Gilberto Carvalho aproveita a oportunidade para reforçar o recado que não podem se descuidar da participação popular e da aproximação com setores não simpáticos a Lula.
Okamotto costuma ir a Brasília, em média, duas vezes por mês. Nessas ocasiões, em geral, ele se encontra com Lula, apesar de ter perdido espaço devido à falta de proximidade com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Apesar disso, é visto como uma pessoa com liberdade para criticar os rumos do governo para o presidente. De acordo com um aliado, a relação deles hoje, porém, “não tem nem comparação com o que já foi no passado”. Ainda assim, é nome de confiança. Okamotto integra a diretoria do Instituto Lula e é um dos responsáveis por administrar a vida prática do presidente em São Paulo.
Dulci, por sua vez, vive em Minas Gerais e é o mais distante. Ministro da Secretaria-Geral nos oito anos dos dois primeiros mandatos de Lula e presença constante no período em que ele ficou longe do Planalto, hoje está afastado.
Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) se ofereceu para fazer o papel de assessoramento mais próximo do presidente. Amigo de Lula há mais de quatro décadas, o parlamentar chegou a discutir, no fim do ano passado, a possibilidade de ocupar algum ministério. A pessoas próximas, Wagner demonstrou interesse a assumir um posto no Planalto com um grupo de assessores. O presidente, porém, decidiu que o seu companheiro deveria “cuidar” do Senado.