Um homem morreu ao se explodir na noite desta última quarta-feira (13) em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), após a detonação de bombas em dois locais da praça dos Três Poderes, em Brasília, levando apreensão às classes política e jurídica da capital federal um ano e dez meses depois dos ataques golpistas contra as sedes da corte, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
Ele foi identificado pela polícia como sendo Francisco Wanderley Luiz, 59, um chaveiro dono de um carro encontrado com explosivos nas proximidades e que disputou a eleição de 2020 como candidato a vereador pelo PL, com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC), sem ter sido eleito —teve 98 votos.
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Duas explosões atingiram a praça dos Três Poderes, por volta das 19h30, uma perto do STF e outra em um veículo Kia Shuma 1999/2000 encontrado próximo a um dos anexos da Câmara dos Deputados, também nas proximidades da sede do Judiciário.
A governadora em exercício do DF, Celina Leão (PP), disse que o homem que morreu tentou entrar no STF, sem sucesso, e em seguida foi para a frente da estátua da Justiça, onde seu corpo foi encontrado. O governador Ibaneis Rocha (MDB) tirou uma semana de férias e está em Roma, na Itália.
Francisco usava roupas com possível alusão à fantasia do personagem Coringa, vilão de histórias de quadrinhos. Ele vestia uma calça e um terno de mesma estampa com os naipes de cartas de baralho, com o fundo de cor verde-escuro e, ao lado do corpo, foi encontrado um chapéu branco.
Antes das explosões, ele publicou nas redes sociais no início da noite referências a bombas e explosões e disse que a Polícia Federal teria que desarmar o equipamento, fazendo referência a um jogo.
“Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda”, disse, em capturas de tela de celular publicadas em sua página no Facebook.
Francisco esteve nas dependências do STF no dia 24 de agosto. Ele chegou a publicar, em seu perfil no Facebook, uma foto sua (não fica claro sobre a possibilidade de ser montagem) em frente ao que seria o plenário do tribunal vazio, dizendo que “deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)”.
O deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC) diz que conhecia Francisco e enviou mensagem em um grupo de WhatsApp com deputados da oposição dizendo que ele “realmente aparentava severos problemas mentais”.
À Folha Goetten afirmou que Francisco esteve em seu gabinete algumas vezes no ano passado e uma última vez em agosto deste ano. “Um cara que eu conhecia há mais de 30 anos, um empreendedor de sucesso, de família do bem. Fiquei contente com a visita dele, sempre fico feliz com visitas, ainda mais quando é um conterrâneo. Estamos muito abalados”, disse.
“No ano passado, comentei no gabinete que tinha achado ele meio estranho, emocionalmente abalado. Ele falava muito da separação dele. Ele me pareceu meio abalado”, afirmou.
Na noite desta quarta, após as explosões, a Polícia Militar foi acionada, e o Batalhão de Operações Especiais, o Bope, iniciou uma varredura na região.
Naquele momento, a Câmara votava uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) sobre isenção tributária para igrejas. A votação foi suspensa e os trabalhos encerrados após as explosões.
O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), decidiu suspender todas as atividades até as 12h de quinta e pediu que o caso seja investigado “com a urgência necessária”. O Senado não terá expediente.
O presidente Lula (PT) se reuniu com os ministros do STF Gilmar Mendes, Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes no Palácio da Alvorada, e o chefe da Polícia Federal também estava presente.
Segundo auxiliares de Lula, ele já tinha conversa marcada com integrantes do Judiciário antes do episódio, para uma reunião de “avaliação de cenário”, que, segundo relatos, vem acontecendo com frequência. Segundo um relato colhido pela Folha de S. Paulo, o clima era de “estupefação”.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) informou que iria fazer varredura no Palácio do Planalto. Lula não estava mais no local desde às 17h30 —já havia ido ao Palácio do Alvorada. O Supremo Tribunal Federal também dedicará a manhã de quinta-feira (14) para verificar eventuais novos explosivos próximos à corte.
“A Polícia Federal investigará com rigor e celeridade as explosões no perímetro da praça dos três Poderes. Precisamos saber a motivação dos ataques, bem como reestabelecer a paz e a segurança o mais rapidamente possível”, disse Jorge Messias, ministro-chefe da AGU (Advocacia-Geral da União).
Em sua rede social, o ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Paulo Pimenta, escreveu que ações contra instituições são ataques “à democracia e ao povo brasileiro”. Também disse que não se pode naturalizar atos antidemocráticos.
Em Roma, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, desejou “total solidariedade às autoridades e servidores dos Três Poderes”. O emedebista chegou a ser afastado do cargo temporariamente pelo STF após os ataques de 8 de janeiro.
A PF enviou o COT (Comando de Operações Táticas) e seu grupo Antibombas para uma varredura na praça dos Três Poderes e vai abrir uma investigação para apurar as explosões.
Segundo o GSI, foi acionado um dos níveis do chamado Plano Escudo, com reforço do Exército, diante da preocupação de que pudesse não se tratar de uma ação isolada.
O prédio do STF começou a ser evacuado por volta das 20h. Em nota, a corte disse que os ministros foram retirados do prédio.
“Ao final da sessão do STF desta quarta-feira (13), dois fortes estrondos foram ouvidos e os ministros foram retirados do prédio em segurança. Os servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela. Mais informações sobre as investigações devem aguardar o desenrolar dos fatos. A Segurança do STF colabora com as autoridades policiais do DF”, diz nota do Supremo.
A corte havia encerrado a sessão de julgamento pouco antes das explosões.
Segundo uma testemunha, um homem passou em frente a um ponto de ônibus, que fica na praça dos Três Poderes, deu um aceno a quem estava lá e logo depois se ouviu uma primeira explosão.
“Os seguranças ouviram e, quando estavam chegando, ele jogou a outra, aí eles se afastaram e recuaram”, disse Layana Costa, funcionária do TCU (Tribunal de Contas da União), cujo prédio também fica próximo da praça dos Três Poderes.