A quinta edição da Cpac Brasil, marcada para este final de semana em Balneário Camboriú (SC), deve consolidar segundo Fábio Zanini, da Folha de S. Paulo, a aliança do bolsonarismo com movimentos mundiais da direita radical.
O evento no sábado (6) e domingo (7), inspirado em uma conferência que ocorre anualmente nos EUA desde os anos 1970, dará palco ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao atual chefe de Estado argentino, Javier Milei.
A expectativa é de uma imagem dos dois juntos e de provocações ao presidente Lula (PT) nos discursos.
“Milei e Bolsonaro no palco vai ser uma humilhação para o Lula, não vai nem poder pisar em Santa Catarina mais”, diz a deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), uma das palestrantes do evento.
O argentino irritou o governo brasileiro ao vir ao país em caráter não oficial, ignorando os protocolos diplomáticos. No domingo, terá uma agenda carregada, com encontros com empresários e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), antes de falar no evento.
Outras figuras de proa da direita latino-americana e europeia estarão presentes. Do Chile virá José Antônio Kast, que perdeu no segundo turno a eleição presidencial para o esquerdista Gabriel Boric em 2021 e desponta como favorito no pleito do ano que vem.
Ministro da Justiça de El Salvador, Gustavo Funes deve ser recebido efusivamente pela plateia, já que a política de linha-dura contra o crime no país centro-americano, com encarceramento em massa de suspeitos, tornou-se uma referência para a direita brasileira.
Também estão previstas as presenças de representantes de partidos europeus como o português Chega! e o Grupo de Conservadores e Reformistas do Parlamento do bloco. Ambiciosa, a organização do evento chegou a convidar o ex-presidente americano Donald Trump, sem sucesso.
“A direita pela primeira vez está criando uma rede internacional, que a esquerda já tem há muito tempo. A Cpac é uma ótima oportunidade para trazer pessoas que estão sofrendo as mazelas das redes globalistas da esquerda em várias partes do mundo”, diz a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), outra palestrante.
O ambiente internacional favorável à direita ajuda a manter os ânimos empolgados. A Cpac ocorre numa conjuntura em que Trump desponta como favorito para retornar à Casa Branca e a Reunião Nacional, de Marine Le Pen, tem chance real de formar o novo governo na França.
O evento foi trazido ao Brasil em 2019 pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), espécie de representante do pai para a direita global.
Atualmente, o ICL (Instituto Conservador-Liberal), presidido por Eduardo, cuida da organização. Por isso, embora a Cpac se apresente como uma conferência para conservadores de forma geral, é na prática um acontecimento quase que exclusivamente bolsonarista.
A expectativa é de presença de cerca de 4.000 pessoas, o que fará a edição deste ano a maior já realizada no Brasil. Contribui para essa dimensão o fato de acontecer em Santa Catarina, considerado o estado mais direitista do país.
Cada participante pagou R$ 250 pelo ingresso. Completam o orçamento patrocínios de empresas e entidades, uma delas a Aprosoja, que reúne produtores de grãos e é alinhada ao bolsonarismo.
As discussões no evento não ficarão restritas à pauta internacional, contudo. Temas da agenda cultural, como aborto, drogas e armas, devem ter destaque na sucessão de oradores, que inclui a nata do bolsonarismo na Câmara e no Senado.
Permeando todo o evento estarão as eleições municipais deste ano, uma vez que haverá diversos pré-candidatos presentes, mas também as presidenciais de 2026. Um dos possíveis candidatos da direita à sucessão de Lula, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), confirmou presença.
Apesar disso, a Cpac deve reforçar que o plano A para a disputa é mesmo Bolsonaro, que está inelegível por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e precisaria de uma anistia para poder concorrer.
“Quem está planejando outros candidatos saiba que não vai rolar. Não existe direita sem Jair Bolsonaro”, diz Zanatta.
O cerco judicial contra o ex-presidente também deve reforçar as críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na quinta-feira (4), Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal na investigação sobre as joias recebidas por governos estrangeiros.
“Vamos certamente tratar da soberania e da defesa das liberdades, e aí as pessoas que se opõem a isso, que trabalham de forma a sufocar a liberdade de forma tirânica, serão contempladas nas críticas”, afirma Kicis.