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terça-feira 6 de agosto de 2024 às 16:37h

Evangélicos traçam estratégia para eleger um vereador por igreja nas principais cidades e se unem por prefeituras

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Em uma estratégia que visa a eleger pelo menos um representante de cada denominação evangélica nas câmaras municipais, líderes religiosos montaram uma força-tarefa, nos últimos meses, para escolher os nomes dos postulantes e evitar a divisão de votos nas principais capitais e grandes cidades do país. Para além da vontade individual de cada liderança, a atuação foi coordenada pela Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab). O segmento também está articulado na disputa para as prefeituras.

No Rio, enquanto Silas Malafaia, fundador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, vai apoiar o pastor e cantor de pagode Waguinho (PL) para a Câmara Municipal, o maior ministério da Assembleia de Deus, o de Madureira, está apostando todas as suas fichas na reeleição de Eliseu Kessler (PSD). A Igreja Universal do Reino de Deus, por sua vez, lançou o pastor Deangeles (PSD).

Na capital paulista, a Assembleia de Deus Ministério de Belém apoia para vereador Gilberto Júnior (PL), que também terá a bênção de Malafaia. Já a Universal seguirá com o bispo Atilo Francisco (Republicanos).

Segundo o presidente da Concepab, bispo Rodovalho, da igreja Sara Nossa Terra, há um perfil de candidato buscado pelos evangélicos:

— Para os candidatos a prefeito, a preferência é que sejam evangélicos ou católicos comprometidos. Se não tiver nenhum cristão, vamos com aqueles que fecharem apoio com nossas bandeiras, os mais conservadores.

Até a última sexta-feira, O GLOBO havia localizado nos estado do Rio e de São Paulo — os dois maiores colégios eleitorais do país — 38 candidaturas registradas na Justiça Eleitoral de autodenominados pastores. A maior parte desses postulantes (oito) são filiados ao Republicanos. Em seguida, o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, aparece com quatro candidaturas.

Novo nome

No Rio, Malafaia acabou deixando de fora da disputa à Câmara um antigo aliado. Em seu terceiro mandato como vereador da capital fluminense, Alexandre Isquierdo (PL) não concorrerá à reeleição e permanecerá no cargo de secretário estadual de Juventude e Envelhecimento Saudável.

Em contrapartida, Malafaia se comprometeu a dar apoio à candidatura de Isquierdo como deputado estadual em 2026, já que o seu irmão, Samuel Malafaia, decidiu se aposentar e não tentará novo mandato.

A troca de peças no jogo eleitoral — no caso, com a aposta agora no pastor e cantor de pagode Waguinho —, não é um fenômeno restrito a essa eleição, a Malafaia ou à cidade do Rio.

Em São Paulo, a Assembleia de Deus Ministério de Belém já apoiou nomes que foram mudando ao longo do tempo. Nos anos 1990, por exemplo, o deputado Gilberto Nascimento (PSD) chegou a ser o escolhido, mas a filha do líder José Wellington Bezerra da Costa, Marta Costa, arrematou o apoio posteriormente. Neste ano, é a vez do filho de Nascimento, Gilberto Júnior.

— A alternância de titularidade não é uma particularidade das igrejas. Sindicatos também fazem isso para preservar a cadeira e maximizar as possibilidades eleitorais. Os líderes (religiosos) apenas aprenderam a jogar o jogo político — avalia o cientista político Vinicius do Valle, do Observatório dos Evangélicos.

Quando o assunto são as prefeituras, a tendência é de um movimento em massa por parte dos evangélicos. Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem o aval de todos os líderes das maiores denominações pra a sua reeleição. Nas igrejas menores, contudo, o discurso de Pablo Marçal (PRTB), ligado à prosperidade, tem encontrado aprovação por ter convergência com parte da teologia neopentecostal de que a abundância material dos fiéis é um desejo divino.

Já no Rio, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) tem a preferência quase unânime dos líderes, mas dificilmente terá defesas veementes. Isso porque o prefeito Eduardo Paes (PSD), que busca a reeleição, tem um bom relacionamento com as lideranças, o que neutraliza possíveis ataques.

— No primeiro turno, ficarei quieto e não apoiarei ninguém. Sou amigo de Eduardo Paes há anos, mas agora, dando essa guinada para Lula, me coloca numa situação mais difícil. Se Ramagem estiver no segundo turno, apoiarei ele — afirma Malafaia.

A postura mais passiva também é identificada em outras denominações, como a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. Inicialmente, o partido da igreja, o Republicanos, estava ao lado de Paes, mas houve uma ruptura após a prisão do deputado federal Chiquinho Brazão, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Brazão era um quadro do partido, embora ainda não tivesse migrado do União Brasil por conta da janela partidária.

Além disso, durante a passagem de Brazão pelo secretariado de Paes, a ONG Contato venceu uma licitação de R$ 119 milhões que foi citada nas investigações da Polícia Federal como parte de um esquema de lavagem de dinheiro com emendas parlamentares. O cancelamento da licitação provocou estranhamento entre o prefeito e o partido.

O Republicanos fechou com Ramagem, mas a ala religiosa da sigla seguirá com Paes.

— Nós da igreja não faremos campanha para Paes, mas o nosso pastor vai estar com o prefeito, ao lado da máquina — diz o vereador e bispo licenciado da Universal Inaldo Silva.

O maior ministério da Assembleia de Deus, o de Madureira, também é favorável ao prefeito. O bispo Abner Ferreira liberou que o deputado federal Otoni de Paula (MDB) coordenasse a campanha de Paes entre os evangélicos, além de ter recebido o prefeito em evento no Rio.

O maior impasse do gestor carioca é a Igreja Mundial do Poder de Deus. A denominação foi a primeira a ficar do lado de Paes em 2020, quando ele disputava a prefeitura contra o deputado federal e bispo da Universal Marcelo Crivella, mas a insatisfação pelo não cumprimento de promessas, como a cessão de terrenos para templos, levou os líderes a optar dessa vez por Ramagem. Segundo o pastor Milton Rangel, Paes teria feito “o contrário” do que prometeu.

Já RR Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, está mais focado nas eleições no interior do Rio, onde tem mais igrejas. Em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense que mais mobiliza apoio dos evangélicos, o candidato escolhido para a prefeitura é Netinho Reis, sobrinho do secretário estadual de Transportes, Washington Reis. Os eventos de sua pré-campanha tiveram a presença do vereador Marcos Soares, filho de RR Soares.

Pautas do segmento

Um dos exemplos que costuma ser citado por especialistas para explicar o interesse dos líderes evangélicos em estar nas Casas Legislativas é o esforço que tem sido feito pelas bancadas, desde o início dos anos 2000, para expandir seus canais de comunicação com a população. A presença de representantes do segmento possibilitou a inserção de cultos religiosos nas grades de meios de comunicação; avanço que contribuiu para o crescimento exponencial dos templos nas últimas décadas.

Alinhado a isso, nos últimos anos, a Teologia do Domínio, que prega a importância de dominar os espaços de poder para construir um país cristão, foi importada dos Estados Unidos e hoje já influencia os pentecostais.

Tanto o televangelismo quanto a ascensão de influenciadores digitais cristãos são peças-chave para a projeção que especialistas fazem do país deixando de ter uma maioria católica até 2032.

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