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sábado 11 de maio de 2024 às 18:46h

Eurovision: quando a música se mistura com a política

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O Eurovision Song Contest se define como evento meramente cultural, mas também teve seus momentos de tensão ao longo de sua história. Neste ano, festival é marcado por tensões no contexto da guerra Israel-Hamas.É uma questão que surgiu repetidas vezes: o Festival Eurovisão da Canção (Eurovision) é político?

A União Europeia de Radiodifusão (EBU), que organiza a competição, insiste que o Eurovision é apenas um evento cultural, sem lugar para política. As regras proíbem claramente declarações políticas e até mesmo slogans.

Israel, que participa do Eurovision há 51 anos, enfrenta protestos em Malmo, Suécia, na edição deste ano por causa do impacto sobre civis palestinos da guerra que trava contra o Hamas na Faixa de Gaza – uma ação deflagrada em resposta aos ataques terroristas do grupo radical islâmico em 7 de outubro de 2023.

Mas não é a primeira vez que o conflito no Oriente Médio chama a atenção no evento.

Em 1973, a cantora Ilanit foi a primeira artista a representar Israel na competição. Sua participação se deu sob rigorosas medidas de segurança – um ano antes, terroristas palestinos haviam matado 11 atletas israelenses que competiam nas Olimpíadas de Munique.

Ilanit teria subido ao palco usando um colete à prova de balas e se apresentado para um público que teve que permanecer sentado. Os fotógrafos tiveram que tirar fotos do teto para provar que suas câmeras não eram armas camufladas.

Canção de Israel em 2024 teve nome alterado

A candidata de Israel neste ano, Eden Golan, de 20 anos, também se apresenta sob esquema de segurança.

No início do ano, por causa da guerra, vários países participantes já haviam solicitado à EBU que excluísse Israel da competição, o que quase aconteceu – mas não como reação direta aos pedidos de boicote.

De acordo com a EBU, o título original, “October Rain”, lembrava muito os ataques de 7 de outubro.

O título foi alterado e Golan, admitida.

Os protestos, contudo, não arrefeceram.

“A União de Radiodifusão reconhece os fortes sentimentos e opiniões que o Eurovision deste ano – no contexto de uma terrível guerra no Oriente Médio – evocou”, disse a organização em comunicado.

Golan, segundo o Eurovision, participa “para compartilhar sua música, sua cultura e a mensagem universal de união através da linguagem da música”. Ela é uma das favoritas ao prêmio.

O Eurovision nunca foi apolítico

A primeira competição do Eurovision aconteceu em 1956 em Lugano, Suíça. Na época, ainda era chamado de “Gran Premio Eurovisione Della Canzone Europea”, ou “Grand Prix”, em francês. O evento tinha por objetivo promover o entendimento internacional, reunindo em uma competição amigável países que foram inimigos na Segunda Guerra Mundial. Sete países participaram, incluindo a Alemanha.

A competição foi crescendo, chegando a 17 países participantes em 1968. Naquele ano, houve uma clara dissidência de natureza política: o candidato espanhol queria cantar em catalão, uma língua reprimida pelo regime fascista de Francisco Franco. Outro cantor foi enviado para cantar uma versão anglo-espanhola da música, intitulada “La La La”.

Após a divisão do Chipre em 1974, Grécia e Turquia se tornaram inimigos. Em 1975, Atenas boicotou o Eurovision. Ancara fez o mesmo em 1976, mas transmitiu o festival pela televisão mesmo assim, apenas para interromper a transmissão na hora da apresentação grega e substituí-la por uma música nacionalista turca.

Em 1978, a Jordânia, país árabe vizinho de Israel, também encerrou a transmissão quando ficou claro que Izhar Cohen, de Israel, venceria o torneio.

Em 1982, no auge da Guerra Fria na Europa, a jovem cantora alemã Nicole subiu ao palco com um violão branco, cantou uma mensagem de paz e venceu a competição, fazendo surgir o questionamento: o Eurovision pode ser político se a mensagem for positiva?

Ainda é sobre música?

O fato de que até a EBU nem sempre conseguiu ser apolítica foi demonstrado pela exclusão da Geórgia em 2009. O motivo: um trocadilho anti-russo no título da música “We Don’t Wanna Put In”.

Belarus foi expulsa em 2021 por seu óbvio apoio ao presidente Alexander Lukashenko, sancionado por violar os direitos humanos.

Já a exclusão da Rússia do torneio em 2022 foi uma reação à guerra de agressão russa contra a Ucrânia. Independentemente de posição política, artistas russos e sua música de repente deixaram de ser parte do show.

Júris nacionais com claras preferências

Desde o início, os júris nacionais frequentemente não esconderam por qual país tinham simpatia e qual desgostavam abertamente – mesmo que isso não tivesse nada a ver com a qualidade da música.

Certamente não era sobre música quando o júri nacional russo respondeu à performance da drag queen Conchita Wurst, da Áustria, com zero pontos em 2014 – o que, porém, não impediu o público russo de levar a artista adiante na competição por voto popular. Ao final, Conchita acabou tendo uma vitória avassaladora no Eurovision daquele ano.

Em 2016, a Rússia se opôs à performance de “1944” pela ucraniana Jamala. A música evoca a deportação dos tártaros da Crimeia sob Josef Stalin. A EBU argumentou na época que a música não era sobre política, mas sim sobre história familiar. Jamala, ela mesma uma tártara da Crimeia, levou para casa o troféu do Eurovision.

Multa a artista por exibir bandeira palestina

Demandas claras e slogans da plateia ou artistas também ocorreram várias vezes e foram penalizados.

Na edição de 2019 do Eurovision, em Tel Aviv, a banda islandesa Hatari exibiu a bandeira palestina durante a parte de pontuação da noite, o que rendeu uma multa à emissora islandesa pela EBU.

A apresentação de Madonna na mesma noite já havia causado polêmica: uma de suas dançarinas carregava uma bandeira palestina; outra, uma israelense.

Malmo diz estar preparada para um Eurovision sem incidentes graves. Não haverá uma área externa para os fãs, e a presença policial foi aumentada.

Dois grandes protestos contra Israel foram anunciados para a semana do festival, que começou em 5 de maio e terá sua final neste sábado (11).

Com as autoridades suecas esperando o pior, fãs israelenses foram proibidos de circular com sua bandeira nacional. A delegação israelense foi instruída a deixar seus quartos de hotel apenas para ensaios e apresentações.

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