Conflito entra no quarto ano com Estados Unidos sob Donald Trump se aproximando da Rússia. Em Kiev, líder da UE promete plano para aumentar a produção de armas e fala em integrar estrutura energética ao bloco. Líderes políticos da Europa e do Canadá se reuniram nesta segunda-feira (24) em Kiev para marcar o terceiro aniversário da guerra na Ucrânia. O objetivo do encontro é discutir estratégias de apoio à Ucrânia com o presidente do país, Volodimir Zelenski, num momento em que os Estados Unidos, sob a liderança do presidente Donald Trump, se aproximam da Rússia e lançam o destino ucraniano a um novo grau de incerteza.
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reafirmou a defesa da soberania ucraniana, argumentando que a sua indústria de defesa deveria ser integrada ao aparato da União Europeia (UE), com a Ucrânia como membro do bloco.
“Uma Ucrânia livre e soberana não está apenas no interesse europeu, mas no interesse do mundo todo”, ela disse. “Os autocratas ao redor do mundo estão observando cuidadosamente se há impunidade caso você viole fronteiras internacionais ou invada seu vizinho, ou se há verdadeira dissuasão.”
De volta à Casa Branca, Trump investiu contra Zelenski e assumiu a narrativa do presidente russo, Vladimir Putin, sobre a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, afastando-se da postura do seu antecessor democrata, Joe Biden.
Ao iniciar conversas com a Rússia sem a Ucrânia e países europeus na semana passada, o presidente americano bruscamente interrompeu uma das maiores fontes de apoio para os ucranianos. A gestão republicana de Trump afirmou ainda ser irrealista que a Ucrânia possa aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e recuperar o território ocupado pela Rússia.
Já o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, declarou que os acontecimentos das últimas duas semanas “não fizeram mais do que reforçar” o compromisso europeu com a Ucrânia.
“Temos que garantir que a Ucrânia não seja obrigada a aceitar um acordo ruim”, disse Steinmeier, que participou virtualmente do encontro desta segunda-feira.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, também se posicionou contra Trump ao afirmar que a guerra não foi provocada pela Ucrânia, após a sua contraparte americana ter responsabilizado Kiev pelo conflito.
“Não se pode alcançar uma paz justa e duradoura sem os ucranianos na mesa”, disse Trudeau.
Apoio militar reduzido dos EUA
Washington também deixou claro que não enviará tropas como uma garantia de segurança para o caso de um acordo de paz, colocando o fardo sobre as potências europeias, que provavelmente enfrentarão dificuldades sem o apoio americano.
Diante de preocupações com a diminuição do papel dos EUA, von der Leyen disse ainda que apresentará um plano de investimento “abrangente” para impulsionar a produção de armas e capacidades de defesa da UE e da Ucrânia em uma reunião de emergência dos líderes do bloco europeu prevista para 6 de março.
Ela também disse que a comissão executiva da UE havia desenvolvido um plano de segurança energética que “integraria totalmente” os mercados da Ucrânia e da Moldávia ao bloco até o fim de 2026. Segundo a chefe da diplomacia europeia, trata-se de uma resposta ao ataque “implacável” da Rússia contra a infraestrutura de energia ucraniana.
A UE “aproveitará todo o potencial dos vastos depósitos de gás da Ucrânia, dos quais 80% estão localizados mais perto dos estados-membros da UE, e isso gerará renda para a Ucrânia”, disse von der Leyen.
Os líderes que se pronunciaram em Kiev também enfatizaram que Zelenski é o líder democraticamente eleito da Ucrânia, depois que Trump o chamou de ditador por não ter convocado eleições no fim de seu mandato no ano passado. O republicano ignorou que a lei ucraniana proíbe a ida às urnas em tempos de guerra.
“Putin não nos dará a paz, ou a dará em troca de algo. Temos que conquistar a paz por meio da força, da sabedoria e da unidade”, disse Zelenski aos líderes presentes em Kiev.
Outros países representados no encontro incluíam Diamarca, Islândia, Letônia, Lituânia, Finlândia, Noruega, Espanha e Suécia. Fizeram intervenções por videoconferência líderes de Albânia, Reino Unido, Croácia, República Tcheca, Japão, Moldávia, Holanda, Polônia, Suíça e Turquia.
Baixas civis e militares
Enquanto isso, a Rússia acusou a Europa de prolongar a guerra: “Os europeus continuam no caminho da queda livre das sanções, no caminho da convicção na necessidade de continuar a guerra”, disse a jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em resposta a um novo pacote de sanções imposto por Bruxelas.
Milhares de cidadãos ucranianos morreram e mais de 6 milhões vivem como refugiados no exterior desde que Putin ordenou a invasão da Ucrânia por terra, mar e ar há exatos três anos, dando início ao conflito mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Na última madrugada, a Ucrânia registrou recorde de ataques de drones russos.
As perdas militares até agora foram catastróficas, embora permaneçam segredos bem guardados. As estimativas públicas ocidentais baseadas em relatórios de inteligência variam muito, mas a maioria diz que centenas de milhares de pessoas foram mortas ou feridas em cada lado.
As tragédias da guerra atingem famílias em todos os cantos da Ucrânia, onde os funerais militares se tornaram frequentes tanto nas principais cidades quanto em vilarejos distantes.