O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega criticou as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o teto de gastos, regra constitucional que limita os gastos do governo à inflação.
“O mercado está reagindo às declarações do presidente Lula, por exemplo, que disse que o teto de gastos é uma estupidez. Eu acho, com todo respeito, que estupidez é dizer que o teto de gasto é uma estupidez”, disse o economista em entrevista à CNN Brasil nesta quarta-feira (4), em painel do qual também participaram Paula Magalhães, economista-chefe da A.C. Pastore & Associados, e Pedro Fernando Nery, consultor legislativo e professor do IDP.
“(O teto) é uma medida sensata, tem problemas, precisa ser atualizado, mas foi uma medida fundamental para interromper a trajetória explosiva da dívida pública que nos levariam a situação de volta grave da inflação”, completa.
A fala de Lula sobre o teto de gastos foi feita no domingo, (1°), em discurso de posse no Congresso, onde defendeu a revogação da regra.
“O SUS é provavelmente a mais democrática das instituições criadas pela Constituição de 1988. Certamente por isso foi a mais perseguida desde então, e foi, também, a mais prejudicada por uma estupidez chamada teto de gastos, que haveremos de revogar”, defendeu no Congresso Nacional na tarde deste domingo (1º).
Mailson também criticou falar recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que chamou de “anômala” e fora de propósito a taxa de juros praticada atualmente no Brasil.
“Ontem, ele (Haddad) escorregou, falando que a taxa de juros está num patamar fora de propósito. Quando a política monetária está institucionalizada, tem regras, como é o caso do Brasil – inclusive porque o Banco Central é agora independente -, a decisão sobre a taxa é feita por um colegiado, baseado em estudos, opiniões de mercado e assim pro diante. Você não pode chegar agora como ministro da Fazenda e começar a dar palpite. É uma regra de ouro que o ministro da Fazenda e o presidente da República não falem sobre juros. Menos ainda nas proximidades da próxima decisão do Copom”, disse.
Reforma da Previdência
Maílson também criticou a declaração feita na véspera pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, durante discurso de posse. Lupi disse que o governo precisa discutir o que ele classificou como “antirreforma da Previdência”, em referência às mudanças do sistema previdenciário realizadas em 2019, e negou que haja déficit no setor.
“O ministro está usando o discurso que era muito comum nos anos 70 e 80, dizendo que a Previdência não tem déficit. O argumento, na época, era: há benefícios previdenciários que os beneficiários não contribuem, por exemplo, beneficio de prestação continuada. Então, se dizia que isso deveria estar no orçamento da União e não no da Previdência Social. Até acho isso, mas os mercados se preocupam é com o resultado final, porque as finanças públicas não são analisadas de forma segmentada, portanto, se você transfere despesa, o déficit permanece”, disse.