Cientistas do Centro de Pesquisa Redoxoma, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), descobriram que os protetores solares disponíveis no mercado, que ajudam a evitar os efeitos da radiação ultravioleta (UVB e UVA), podem não fornecer proteção suficiente para a pele. Segundo o pesquisador Maurício Baptista, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do estudo, quando se analisou o espectro da luz visível, as faixas violeta e azul demonstraram ter capacidade de causar efeito tóxico nas células da epiderme (queratinócitos).
Como mostra a pesquisa que será publicada na edição de junho deste ano da revista científica Journal of Photochemistry and Photobiology B: Biology, dependendo do tempo de exposição à luz visível, são geradas moléculas prejudiciais, lesões no DNA e danos em estruturas internas das células. Também ocorre o acúmulo do pigmento chamado lipofuscina, que aumenta a sensibilidade das células à luz.
“Nosso artigo mostra que o high energy blue [luz azul de alta energia], que chamamos aqui de violeta, deveria ser um dos alvos importantes para o desenvolvimento de protetores solares. O violeta é bem próximo de 400 nanômetros, que é a linha que separa o UVA do visível. Essa linha não tem uma razão específica para a pele. Ela tem uma razão para os nossos olhos, porque temos receptores que ‘enxergam’ o violeta e o azul, mas não ‘enxergam’ o UVA. Porém, em termos de comprimento de onda e de efeito biológico, essas faixas da radiação são muito parecidas entre si”, diz Maurício Baptista.
Infelizmente, segundo os pesquisadores, a maioria das pessoas, incluindo profissionais de saúde, desconhece os efeitos da luz visível na pele. Grande parte da indústria que produz filtros solares também desconsidera a capacidade de a luz visível penetrar mais profundamente na pele e induzir desequilíbrios e respostas celulares semelhantes às criadas pela radiação UVA.
Tomar sol é saudável, antes das 9h da manhã e após as 16h, mas o que faz mal é o excesso, alerta Baptista, que também está estudando os benefícios da radiação solar para a saúde humana. A luz visível exerce efeitos positivos, como regeneração tecidual e alívio da dor, e mesmo a radiação ultravioleta tem papéis benéficos, como, por exemplo, na síntese de vitamina D. Tudo é uma questão de tempo de exposição.
“O problema é que as pessoas se sentem protegidas pelo filtro solar e abusam do tempo sob o Sol. Com o filtro, elas podem estar protegidas contra a radiação ultravioleta, mas não contra a luz visível”, comenta o cientista da USP.
Efeitos tóxicos
Nossa pele é constantemente atingida pela luz. São bilhões de fótons que penetram nas diferentes camadas da pele, influenciando seu funcionamento. Os danos induzidos pela radiação solar se devem principalmente à fotossensibilização, um processo no qual as moléculas que absorvem a energia dos fótons passam do estado fundamental para o excitado, que é mais reativo.
Para investigar os efeitos das diferentes faixas da luz visível, os pesquisadores irradiaram queratinócitos de pele humana com doses fisiologicamente relevantes de violeta, azul, verde e vermelho.
Eles descobriram que o componente violeta/azul da luz visível se comporta de forma semelhante à radiação UVA nos queratinócitos, produzindo lesões no DNA. Além disso, essa faixa causou mau funcionamento de estruturas internas das células, provocando o acúmulo de lipofuscina, o que aumentou a sensibilidade das células à luz visível.
Em todos os experimentos, a luz violeta se mostrou mais tóxica do que a azul, que, por sua vez, é mais tóxica do que a verde. Apenas a luz vermelha, na dose utilizada, não causou danos significativos aos alvos biológicos estudados.
A luz visível representa cerca de 47% da radiação solar total que atinge a pele humana, em comparação com cerca de 5% de radiação UV. E também é a faixa espectral que forma os maiores níveis de radicais livres gerados na pele sob exposição solar, respondendo por 50% do total.