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segunda-feira 9 de setembro de 2024 às 18:01h

Estudantes querem revogar título de cidadão honorário dado a Hitler por cidade alemã

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Cerca de 4 mil localidades alemãs presentearam o ditador nazista com tal homenagem, que expirou automaticamente com a morte dele. Alunos de uma escola querem que Bad Honnef se distancie da honraria.Há alguns meses, durante uma aula de história na escola secundária Siebengebirgs-Gymnasium, em Bad Honnef, no oeste da Alemanha, uma turma do décimo ano teve a ideia de fazer, ela mesma, história. Os alunos apresentaram um pedido formal para que a cidade de 25 mil habitantes nos arredores de Bonn renunciasse a um de seus cidadãos honorários, o ditador nazista Adolf Hitler.

Kathi, Lilly, Ronja, Mia e Selin, cinco alunas que falam em nome da classe, fazem uma declaração clara contra as ideias de extrema direita, juntamente com seu professor Thomas Rott: “Vivemos nesta cidade, por isso é claro que sua história também nos diz respeito. E então nos perguntamos se poderíamos usar nossa influência para mudar alguma coisa na história e na cidadania honorária de Hitler. Nosso professor também nos despertou o interesse pelo tema. E cada um de nós simplesmente escreveu um e-mail para o prefeito.”

A iniciativa resultou em uma petição que acabou sendo assinada por mais de 1.363 pessoas – 5% dos residentes de Bad Honnef e, portanto, número necessário para que a câmara municipal votasse a iniciativa. Um grande sucesso para os alunos. Eles coletaram assinaturas, tocaram campainhas e fizeram trabalho educativo.

As porta-vozes da turma descrevem suas experiências: “A maioria das pessoas com quem conversamos não sabia nada sobre a cidadania honorária de Hitler, e muitas assinaram imediatamente. Se alguém tivesse nos dito há um ano que poderíamos realizar algo tão grande como uma pequena classe escolar, não teríamos acreditado. Mas existem cada vez mais extremistas de direita, especialmente nas mídias sociais, e temos que lutar contra eles.”

Quatro mil cidades alemãs homenagearam Hitler

Bad Honnef deu a Adolf Hitler o título de cidadão honorário em 5 de abril de 1933 – um mês após a vitória do partido nazista NSDAP nas eleições para o Reichstag. A pequena cidade foi uma das primeiras a renderem essa homenagem ao líder nazista e, em 1934, um total de 4 mil localidades já tinham feito o mesmo.

Embora a cidadania honorária do ditador nazista tenha expirado automaticamente com seu suicídio em 30 de abril de 1945, Bad Honnef não a revogou até hoje. “Durante nossa pesquisa, encontramos a carta de agradecimento de Hitler, assim como a ata de uma reunião da câmara municipal de 1983. Eleitores do Partido Verde haviam apresentado uma moção à câmara municipal de Bad Honnef que não foi colocada em votação. Esse foi o gatilho para dizermos que tínhamos que continuar com essa luta”, disse o professor Thomas Rott.

Os estudantes ganham apoio também de membros da própria administração local. O funcionário do arquivo da cidade Jens Kremb vasculhou os arquivos municipais e encontrou documentos como a carta de agradecimento de Hitler, embora muita coisa tenha sido incendiada quando os soldados americanos tomaram a cidade, em março de 1945. O prefeito Otto Neuhoff recebeu a turma para uma reunião na prefeitura.

Distanciamento em três etapas

Nos últimos anos, muitos municípios tomaram a iniciativa de se distanciarem de Adolf Hitler enquanto cidadão honorário – principalmente como um sinal contra uma mudança social e política para a extrema direita que ocorre na Alemanha.

De acordo com o historiador Thomas Schlemmer, do Instituto de História Contemporânea de Munique, essa reavaliação da história ocorre no país como uma espécie de movimento em ondas. A primeira onda teria, segundo ele, começado logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Kiel, por exemplo, revogou a cidadania honorária de Hitler já em dezembro de 1945.

“Em 1945 e 1946, estamos lidando com uma ruptura do sistema político, que, por sua vez, tem a ver não só com os Aliados, mas também com uma necessidade generalizada por parte das elites políticas”, analisa Schlemmer. “Isso também foi acompanhado pelas mudanças de nome de ruas e praças – quase não havia uma localidade sem uma rua ou praça chamada Adolf Hitler. Mas esse impulso antinazista no período imediato ao pós-guerra se extinguiu mais ou menos rapidamente entre 1948 e 1950.”

Então, de acordo com Schlemmer, haveria uma inversão entre perpetrador e vítima na Alemanha. As muitas pessoas responsáveis pelas atrocidades nazistas de repente se viram como inocentes que foram seduzidos por um pequeno grupo de criminosos nazistas centrados em Hitler e obrigados a fazer coisas que, na verdade, não queriam fazer.

A Alemanha deixou a reavaliação de sua própria história em suspenso por décadas. “A resposta legal formal das décadas de 1970 e 1980 foi: a cidadania honorária de Hitler expirou com seu suicídio, a questão nem sequer existe mais”, explica o historiador. “Mas, ao mesmo tempo, o debate sobre o passado nazista recebeu um novo impulso em janeiro de 1979 com a transmissão da série americana Holocaust. E não só historiadores com formação acadêmica mas também muitos leigos, como crianças em idade escolar e professores, de repente querem saber como a era nazista se desenrolou em nosso país.”

Importante passo simbólico como início

Nesse período, há 40 anos, também ocorreu a primeira tentativa malsucedida de Bad Honnef de se distanciar de seu cidadão honorário Adolf Hitler. Agora, 91 anos após a nomeação, a cidade quer finalmente pôr um fim a esse capítulo inglório. Para o historiador Thomas Schlemmer, esse é um passo atrasado com grande valor simbólico – e uma expressão de um processo que está em andamento em toda a Alemanha.

Ainda mais importante, entretanto, é o que isso significa para o presente. “O que exatamente levou a democracia a ser destruída naquela época? Que lições podemos aprender com isso, se tivermos que defender a democracia novamente hoje? Esses atos de distanciamento simbólico são uma ótima oportunidade para, muito além da questão da cidadania honorária de Adolf Hitler, examinar mais intensamente a história de nosso próprio município entre 1930 e 1950”, sublinha o historiador.

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