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sábado 1 de agosto de 2020 às 12:34h

Estágios remotos comprometem a formação prática de universitários

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Desde a transição para o ensino remoto até a suspensão total de atividades, os impactos da Covid-19 nas universidades vão além das aulas teóricas. Cursos que exigem a realização de estágio obrigatório, como os da área da saúde, enfrentam dificuldades de adaptação.Uma portaria do MEC (Ministério da Educação), de 16 de junho, permite a realização de estágios remotos. O órgão não orienta, porém, sobre quais atividades podem substituir a prática presencial, deixando a decisão a critério das universidades.

Segundo o MEC, a medida exclui os quintos e sextos anos de estágio em medicina, que ainda devem ser feitos presencialmente.

A permissão de práticas remotas para graduações na área da saúde foi contestada pelo CNS (Conselho Nacional de Saúde), que emitiu, no dia 1º de julho, uma recomendação ao MEC para que as atividades a distância não sejam consideradas.

“Uma formação inadequada prejudica os estudantes e coloca em risco a sociedade como um todo”, diz a nota de recomendação do conselho.

Os professores se sensibilizaram com a situação dos estudantes, que podem ter a formatura atrasada.

“É um esforço de olhar para este momento com outros olhos e procurar fazer com que esse aluno não seja penalizado pela situação”, diz a coordenadora da graduação em serviço social da PUC-SP, Elizabeth de Melo Rico.

Lucas Assunção Cavalcante Silva, 24, estudante de biologia na USP (Universidade de São Paulo), cursava a disciplina prática de didática, oferecida pela Faculdade de Educação, quando as aulas foram suspensas em decorrência da pandemia.

A disciplina previa a realização de 30 das 200 horas de estágio escolar necessárias para a obtenção da licenciatura. “A professora optou por substituir o estágio por entrevistas com docentes para entender a escolha pela profissão”, conta.

Ele diz que ficou aliviado com o cancelamento. Mas, antes da pandemia, seu desejo era de que a prática em escolas tivesse uma participação maior dos estagiários. “Ficar 200 horas sentado na sala ouvindo os alunos pulando e o professor tentando dar aula é frustrante.”

Estudante de serviço social na PUC-SP, Mônica Lemes Neiva, 45, realizou o estágio de forma remota. Ela trabalha em uma empresa que serve à CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) desde o terceiro ano do curso, momento em que se iniciam as 450 horas de atividades práticas previstas para a formatura.

Mônica recebeu computador e celular da empresa para atender as famílias, mas acha a transição prejudicial. “Nem todos têm acesso ao digital. Às vezes, a família tem R$ 10 no mês para usar em um pacote de dados”, diz.

Para Rodrigo Vianna, diretor-geral da Mappit, empresa especializada em recrutamento de profissionais em início de carreira, a adaptação para atividades digitais não é um desafio para os universitários, mas há prejuízo.

“Eles têm dificuldades em aspectos comportamentais: a convivência em grupo e o aprendizado de cultura das organizações”, diz.

A preocupação com aspectos sociais do estágio também é grande entre docentes, tanto pela qualidade da formação, quanto pelo bem-estar dos estudantes.

No curso de medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) faltaram equipamentos de proteção para os alunos, sem os quais seria inviável realizar os estágios de forma segura.

“Priorizamos os EPIs [equipamentos de proteção individual] para médicos, equipe de enfermagem e técnicos de enfermagem”, diz o coordenador do curso, Aécio Góis.

Depois de fazer uma campanha para arrecadar os itens, os estágios foram retomados, mas haverá um atraso na formatura de cerca de 200 estudantes.

Outro caso de atraso na formatura ocorrerá no curso de psicologia da Unifesp, na Baixada Santista. Segundo a coordenadora Maria Inês Badaró Nogueira, a alteração de calendário, tanto de estágios, quanto de aulas, impacta os planos dos alunos.

Mas a preocupação com a mudança na realidade dos estudantes foi maior. A opção por atrasar as atividades, que serão retomadas no dia 3 de agosto, veio para contemplar aqueles com acesso reduzido à internet e que tiveram alterações na rotina.

“Muitas alunas e alguns alunos se tornaram cuidadores de familiares idosos”, conta. “Aqui na psicologia, falamos: nenhum aluno a menos”, afirma.

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