Há pouco mais de um ano, em abril de 2018, a notícia de que uma estação espacial chinesa estava descontrolada e prestes a cair na Terra causou um rebuliço internacional. Muitos ficaram com medo de que partes da Tiangong-1 atingissem áreas urbanas. Na última sexta (19), foi a vez de sua irmã mais velha encarar o mesmo fim. Mas, ao contrário da primeira estação espacial chinesa, a segunda teve uma reentrada controlada na atmosfera.
Ambas caíram no Oceano Pacífico sem causar qualquer vítima ou estrago material, só que, desta vez, não foi por sorte: a Tiangong-2 foi deliberadamente destruída, e seu local de impacto cuidadosamente escolhido. Ela caiu em uma região remota de mar aberto entre a Nova Zelândia e o Chile. O lugar tem sido usado como cemitério de espaçonaves há décadas — mais de 260 cápsulas e estações espaciais velhas foram descartadas ali.
Cumprindo uma promessa feita em setembro do ano passado, de que daria um fim com menos adrenalina à Tiangong-2, o escritório de engenharia da agência espacial chinesa (CMSA) acionou os motores na manhã de ontem em preparação para a reentrada de hoje. Boa parte do módulo foi completamente incinerada na atmosfera, com apenas um ou outro pedaço de metal tendo afundado no oceano. Tiangong-2 teve vida longa e produtiva.
Lançada em setembro de 2016, passou cerca de mil dias em órbita, muito mais do que os dois anos planejados inicialmente. Dois taikonautas (os astronautas chineses) estiveram lá no mês seguinte ao lançamento, onde participaram do último e mais longo voo espacial tripulado chinês. Jing Haipeng e Chen Dong passaram 33 dias a bordo conduzindo uma série de experimentos focados principalmente em melhorar os sistemas de suporte à vida.
Alguns meses depois, em abril de 2017, uma cápsula Tianzhou-1 não-tripulada levou cargas até o laboratório para testar procedimentos de acoplagem a reabastecimento no espaço. O bem-sucedido programa Tiangong (que em chinês significa “Palácio Celestial”) é um passo estratégico no sentido de verificar e desenvolver tecnologias para que a China construa sua própria estação espacial de grande porte. É uma ambição antiga dos chineses, desde 1992.
Segundo a CMSA, esse projeto será um complexo orbital que contará com três módulos que juntos vão pesar entre 60 e 100 toneladas — quase dez vezes o peso da Tiangong-2. Eles trabalham com o prazo de concluir a construção em órbita em 2022, com o lançamento do módulo principal previsto já para 2020. Mas para isso será preciso retomar os voos do foguete Long March 5, suspensos após uma falha em julho de 2017.