Único representante do PSB na Câmara Municipal de Salvador, o vereador Sílvio Humberto pediu “cuidado” ao próprio partido com o ingresso de Igor Kannário nas fileiras da legenda.
O ex-parlamentar federal teve a filiação registrada no último sábado (6), data limite da janela partidária, mas desde então a agremiação tem enfrentado resistências internas. Na executiva municipal a entrada foi reprovada segundo Evilásio Júnior, da rádio Salvador FM, por 14 votos a dois, mas a direção estadual sacramentou a adesão do “Príncipe do Gueto”. A medida, no entanto, ainda não garante a candidatura, que depende da nominata a ser enviada à Justiça Eleitoral no período das convenções.
O líder da oposição no Legislativo soteropolitano entende que a sigla “precisa ousar para o 40 ser mais conhecido”, mas, na mesma linha da deputada Fabíola Mansur, defendeu que “é preciso colocar limites ao pragmatismo”.
“Quando você não coloca limites, você coloca em choque a política do ponto de vista ideológico. Eu convivi com ele lá dentro e tenho a visão de que é uma pessoa que sabe comunicar bem com um segmento da juventude, mas acho que ele é um desses que estão no xadrez político com a cabeça de quem joga damas”, avaliou, em entrevista ao programa Fora do Plenário, da Rádio Salvador FM, ao sentenciar: “Não tem aderência o projeto político dele com o nosso. É preciso pensar a política como um projeto”.
Cotado para integrar a chapa encabeçada pelo vice-governador Geraldo Júnior (MDB), Sílvio ainda atribuiu ao “racismo institucional” o fato de o seu grupo político não conseguir unidade para lançar uma candidatura negra para disputar a prefeitura da capital baiana este ano.
“A gente está falando de disputa de poder. A gente está falando das elites dessa cidade, que são as mesmas elites da virada do século 19, quando terminou a escravidão. As oligarquias hoje apenas mudaram de personagens, mas são as mesmas, porque detêm, além do poder político, o poder econômico. E a massa negra está onde? Barrada pelas condições de miserabilidade e pela pobreza. E nós sabemos como o clientelismo e o patrimonialismo funcionam. […] Esse modelo racial que nós temos, esse mito da democracia racial, sobretudo em Salvador, sempre favoreceu tanto a esquerda, quanto o centro e a direita. É preciso dizer isso. É preciso reconhecer que os partidos são as pessoas brancas que estão controlando. […] As pessoas negras não têm nenhum problema em votar nas pessoas brancas. O contrário é que é o problema”, comparou.
Primeira capital do país, com a maior população preta fora do continente africano, Salvador jamais elegeu um prefeito negro. Atual vereador, Edvaldo Brito (PSD) comandou o Palácio Thomé de Souza entre 1978 e 1979, nomeado no período da ditadura militar pelo então governador Roberto Santos, após eleição indireta pela Assembleia Legislativa da Bahia. Até hoje ele é o único gestor negro da história da cidade.