A olho nu, o Japão, carrasco de Alemanha e Espanha na primeira fase, e primeiro colocado no Grupo E, é uma impressionante sincronia tática. Quando não tem a bola, a seleção de Hajime Moriyasu se vira no jiraya formando um bloco compacto no sistema 5-3-2 difícil de ser superado. Quando retoma a bola, se inspira no influenciador futebolístico Pep Guardiola e se atira ao ataque em um veloz e furioso 2-3-5. Junte-se a tudo isso uma impressionante sabedoria oriental para tirar do banco um robô capaz de fazer o impossível: a segunda virada diante de uma seleção campeã do mundo nesta Copa: 2 x 1.
Quando a bola rolou nesta quinta-feira (1º/12) no International Khalifa Stadium, a sensação era de que a Espanha golearia o Japão. Talismã de Luis Enrique, o centroavante Morata finalmente começou jogando e precisou de um lance todo trabalhado para ele. De pé em pé em pé, La Roja ergueu a bola na área e o camisa 7 subiu entre os zagueiros para abrir o placar.
O mal dos campeões do mundo que duelaram com o Japão é calçar um Luís XV. Como disse no início, o mestre Moriyasu tem uma incrível capacidade de fazer os jogadores se virarem no jiraya nos vestiários. Havia sido assim contra a Alemanha. Foi também diante da Espanha. O time partiu para o segundo tempo como se estivesse competindo com os camelos nas tradicionais corridas do Catar e mudaram a rotação do jogo em três minutos.
Assim como no jogo contra a Alemanha, mestre Moriyasu se virou nos 15 minutos do intervalo e colocou em campo Doan, um dos heróis da virada contra a Alemanha. Bastou um lance para ele receber a bola e chutá-la de canhota para o fundo da rede de Unai Simon. A bola ainda bateu no goleiro espanhol antes de entrar.
Desorientada como quem caçava aqueles pokémons no meio da rua na febre do brinquedinho japonês, a Espanha não conseguia achar o adversário. Elétricos, os samurais aplicaram o segundo golpe aos cinco minutos em um lance controverso. Num ataque em alta velocidade, a bola chegou à grande área da Fúria e deu pinta de ter atravessado a lin de fundo. Só o VAR foi capaz de conter o êxtase de Tanaka, que aproveitou o cruzamento.
A sincronia tática citada lá no início do texto continuou perfeita. Quando a Espanha rompia o bloco formado no 5-3-2, que por vezes virava 5-4-1, o goleiro Gonda entrava em ação. Agiu pouco até diante de uma Espanha perplexa diante da impotência para empatar a partida. Quando o árbitro apitou o fim do jogo, a imagem de um Japão celebrando um título contrastava com os semblantes atônitos de uma Espanha que pagou caro por usar reservas. Luis Enrique menosprezou a capacidade do adversário e perdeu a liderança.
Com direito a volta olímpica no fim da partida para festejar com a torcida, o Japão é o primeiro colocado do Grupo E. Enfrentará a Croácia nas oitavas de final. Um dos dois pode enfrentar o Brasil nas quartas de final. A Espanha enfrentará Marrocos. Única seleção capaz de igualar o penta cananinho, a Alemanha cai na fase de grupos pela segunda edição consecutiva em uma despedida melancólica diante da Costa Rica.
Copa do Mundo
Grupo E – 3ª rodada
Japão 2 x 1 Espanha
Estádio Internacional Khalifa, Doha, Catar
Japão
Gonda; Itakura, Yoshida e Taniguchi; Ito, Morita, Tanaka (Endo) e Nagatomo (Mitoma); Kamada (Tomiyasu), Kubo (Doan) e Maeda (Asano).
Técnico: Hajime Moriyasu.
Espanha
Unai Simón; Azpilicueta (Carvajal), Pau Torres, Rodri e Balde (Alba); Busquets, Pedri e Gavi (Ansu Fati); Nico Williams (Ferran Torres), Dani Olmo e Morata (Asensio).
Técnico: Luis Enrique.
Gols: Morata, aos 11 do 1ºT (Espanha); Doan, aos 3 do 2ºT, Tanaka, aos 5 do 2ºT (Japão)
Cartões amarelos: Itakura, Taniguchi, Yoshida (Japão)
Árbitro: Victor Gomes (África do Sul)