Pesquisas internas da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) indicam que um percentual entre 8% e 10% dos eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno podem trocar de candidato. A diferença no percentual varia conforme o levantamento.
Esta possibilidade estatística se tornou o principal foco da campanha do presidente porque, em um confronto direto, cada voto virado tem peso dobrado Bolsonaro aumenta e Lula cai. Para conseguir essa conversão de eleitores em uma disputa tão polarizada, a campanha usa todos os argumentos: pauta de valores, defesa de economia liberal, combate à corrupção e aumento da rejeição ao adversário.
O grande esforço para tentar virar votos caberá à militância e para mobilizá-la a campanha de Bolsonaro está usando a propaganda eleitoral no rádio e na TV. Uma das peças mostra uma espécie de competição em que diferentes apoiadores contam vantagem por conseguirem votos para Bolsonaro.
Também é feito um trabalho com lideranças políticas e religiosas. Isso explica a presença do presidente em cultos e reuniões com prefeitos. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também foi escalada e passará a semana em viagem por igrejas evangélicas do Norte e Nordeste.
Mas não basta apenas motivar a militância, é preciso abastecê-la com argumentos. A equipe de Bolsonaro disponibilizou um QR Code que encaminha para um link contendo as entregas do atual governo. Auxílio Brasil ampliado, Vale-Gás e obras da transposição do rio São Francisco são alguns dos itens citados.
Ao mesmo tempo, existe um trabalho de tentar atingir Lula, associando o adversário a temas condenados pelo eleitor conservador como aborto, descriminalização das drogas e defesa de direitos de homossexuais e pessoas trans. Detalhes de escândalos de corrupção também são utilizados para tentar virar votos.
Na definição da campanha, o segundo turno ocorre em um contexto em que qualquer ferramenta será usada para ativar os medos e aversões dos eleitores.
Minas Gerais
Além da tentativa de virar votos que foram de Lula no primeiro turno, existem metas a serem atingidas em determinadas regiões e estados. Uma delas é reverter o resultado em Minas Gerais, onde Bolsonaro ficou meio milhão de votos atrás do adversário. O crescimento da votação no segundo maior colégio eleitoral do país é considerado vital para uma chance de vitória.
Mas o eleitorado mineiro carrega um enigma. Ele reelegeu o governador Romeu Zema (Novo), ferrenho opositor do PT, consagrou o bolsonarista e conservador Nikolas Ferreiras (PL-MG) o deputado federal mais votado do Brasil e, mesmo assim, preferiu Lula.
Se reverter esse quadro é considerado fundamental, a estratégia para atingir tal objetivo não foi descoberta. A campanha de Bolsonaro entende que parte da derrota é consequência de Zema não ter declarado apoio para Bolsonaro no primeiro turno.
Agora a aliança com o presidente foi fechada, mas a avaliação é de que o diagnóstico sobre os motivos da vitória de Lula não está completo. Os integrantes da equipe tentam compreender a situação para saber como abordar o eleitor mineiro na hora de tentar virar votos.
São Paulo
O primeiro turno acabou com Bolsonaro na frente em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil. Ele recebeu 12,2 milhões de votos contra 10,4 milhões para Lula. Mas a derrota nos nove estados do Nordeste resultou em tamanha diferença que a vitória no eleitorado paulista não fez frente.
Neste segundo turno, a campanha de Bolsonaro espera ampliar a vantagem em São Paulo para amortecer uma vitória de Lula no Nordeste. Para isso, conta com o apelo da pauta conservadora e da economia liberal no interior paulista, muito ligado ao agronegócio.
O presidente também conta com o apoio do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo. O aliado incluiu uma série de críticas ao adversário, Fernando Haddad (PT), na estratégia de comunicação do segundo turno. O objetivo é ao agredir o petista que concorre ao governo (Haddad) atingir o petista que tenta a Presidência da República.
Sul
O presidente venceu nos três estados da região Sul, fazendo 6,95 milhões de votos a mais que o adversário. A vitória era esperada e a expectativa é de que se repita no segundo turno. Mas, para o esforço de vencer a eleição dar certo, Bolsonaro planeja ampliar a margem.
Um exemplo é Santa Catarina. O candidato à reeleição obteve 62,21% dos votos no estado. Jorginho Melo (PL), candidato a governador e aliado do presidente, espera um resultado muito maior no segundo turno. “Vamos fazer 80% dos votos [para Bolsonaro]”, declarou durante evento com o presidente em Balneário Camboriú na terça-feira (11).
A diferença em Santa Catarina para o restante do país é que o trabalho não é para virar votos de petistas. Em um estado tão bolsonarista, quem escolhe a oposição é porque tem posição política contrária ao presidente bem definida. O esforço junto ao eleitorado catarinense é pela queda de abstenção, fazendo quem votou Bolsonaro em 2018 e não foi às urnas no primeiro turno voltar a escolher o presidente.
Nordeste
Já a estratégia da campanha de Bolsonaro no Nordeste é diferente da planejada para o restante do Brasil.
Ainda que tenha ficado 12,9 milhões de votos distante de Lula no primeiro turno, Bolsonaro conquistou 1,32 milhão de votos a mais na região do que em 2018. A estratégia de comunicação para redes sociais, rádio e TV foca o Nordeste para preservar esse capital.
A tarefa é tocada com empenho máximo no momento porque a campanha identificou uma ofensiva do PT na região. Lula criticou declaração de Bolsonaro afirmando que o petista venceu nos estados com mais analfabetismo e que todos ficam no Nordeste.
A equipe do candidato do PL ainda reclama que fake news foram espalhadas nas redes sociais. Na avaliação da campanha bolsonarista, a esquerda aprendeu a jogar este jogo.
Para manter o eleitorado obtido no primeiro turno, foi montada uma força-tarefa que inclui estratégia de comunicação, o tour da primeira-dama pelos nove estados nordestinos e uma visita de Bolsonaro programada para o final de semana. No sábado, ele vai ao Piauí, Maranhão e Ceará.