Conforme publicou o jornal Valor Econômico nesta última sexta-feira (31) em matéria de capa, a decisão do governador da Bahia, Rui Costa (PT), de apoiar o lançamento da major Denice Santiago à Prefeitura de Salvador abriu uma crise na legenda e gerou críticas de aliados.
Segundo o a publicação, diversas lideranças do partido na capital baiana reclamam da falta de vínculo de Denice com a sigla e pressionam para que o candidato seja definido em uma prévia. Em meio a críticas à política de segurança pública do Estado, petistas avaliam que a escolha de uma integrante da Polícia Militar poderá gerar desgastes ao PT na campanha eleitoral.
Na terça-feira (28), Rui Costa, o senador Jaques Wagner (PT-BA), e o presidente do diretório estadual do PT baiano, Éden Valadares, defenderam o lançamento da major Denice em reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dirigentes nacionais do PT. A policial militar comanda a Ronda Maria da Penha e deve deixar a corporação nas próximas semanas para se filiar ao PT. Costa tem dito que a escolha da major é simbólica, por ser mulher, negra e lutar para impedir a violência contra a mulher.
O partido, porém, já tem quatro pré-candidatos em Salvador. A socióloga Vilma Reis, umas das postulantes, cobrou a realização de prévia para escolher quem disputará a capital. “Não é a posição do governador ou de uma ou duas lideranças que vai definir quem será o candidato. Tem que ser uma decisão das instâncias partidárias, da base”, disse. “Não vamos aceitar decisão tirada da cartola. É um escândalo a base partidária não poder se manifestar.” Negra, nascida na periferia, com 35 anos de militância, feminista e ex-ouvidora da Defensoria Pública, Vilma disse ter o apoio de movimentos sociais para lançar-se.
Pré-candidato, Juca Ferreira ressaltou sua experiência na gestão pública e no Legislativo como ministro (da Cultura nas gestões Lula e Dilma Rousseff), secretário (do Meio Ambiente, em Salvador, e da Cultura, em São Paulo) e vereador para defender sua candidatura e disse que o partido ainda tem que discutir quem será o postulante. “A prévia é uma saída que tem carga grande de democracia”, afirmou. “Tem que ter um processo de escolha. É normal”.
Ferreira elogiou o fato de a major atuar em defesa dos direitos humanos, mas ponderou que o lançamento de uma policial em Salvador pode ser ruim para o PT. “A PM em todo o Brasil tem problema com a população pobre e na Bahia não é diferente. Eleitoralmente, a candidatura deve ter uma marca associada ao comportamento da polícia, que deixa a desejar. Há uma imagem negativa”, disse o ex-ministro, que defende a desmilitarização das polícias.
Além de Vilma e Juca, são pré-candidatos a secretária estadual Fabya Reis e o deputado estadual Robinson Almeida.
O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli é um dos maiores críticos à escolha de uma policial militar. “Não é uma boa candidata pelo PT. Ela não tem experiência na luta política, não tem tradição no partido. Dificilmente vai conseguir agregrar a força dos movimentos sociais”, disse. “Não é o melhor nome para a disputa”. Uma das principais lideranças petistas da Bahia, Gabrielli reforçou: “É uma escolha ruim. O partido tem outras candidatas negras. Por que buscar um outsider?”. Em sintonia com críticas feitas por petistas à política de segurança do governador, Gabrielli disse que a PM é “mais caracterizada pela violência, pela imagem negativa”. “Ter a candidatura de uma policial será um passivo e não um ativo”.
Aliados do PT também questionaram a decisão do governador. Militante do movimento de mulheres negras, a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) é pré-candidata e criticou a iniciativa do governador de buscar alguém de fora do PT em vez de compor uma aliança. Olívia descartou participar de uma chapa com Denice e tem se aproximado do PSB.
No dia 12 de fevereiro, o diretório municipal se reunirá para discutir como será a escolha do candidato.