Há semanas, as imagens divulgadas nas redes sociais de percevejos rastejando num assento de trem ou à espera de um cliente em uma cadeira de cinema colocaram a França em um estado de alerta. Na escola de ensino médio Elisa-Lemonnier, no 12º arrondissement de Paris, 14 turmas foram “infectadas”, segundo uma mensagem da diretora enviada aos professores na manhã de sexta-feira e consultada pela AFP.
“Entre pais e alunos, há uma psicose absoluta. Continuo recebendo mensagens de pais que dizem que não vão mandar o filho enquanto houver percevejos”, diz uma professora que pediu anonimato.
No total, sete estabelecimentos de ensino foram fechados no país, declarou o ministro da Educação. “E em um pouco mais de 15, creio que 17, estabelecimentos, nós detectamos, em vários níveis, percevejos”, acrescentou Gabriel Attal.
Em Amiens, a biblioteca municipal Louis Aragon reabrirá neste sábado (7), após vários dias de fechamento devido à presença do inseto “nas suas áreas de leitura”. Após um tratamento de dedetização, um cão farejador não detectou nenhum percevejo, o que permitiu que o local voltasse a funcionar, disse à AFP a prefeita da cidade, Brigitte Fouré.
Apesar dos relatos, as autoridades têm alegado que o fenômeno é potencializado pela viralidade nas redes sociais, em meio a um ano em que o país se prepara para receber os Jogos Olímpicos, em julho de 2024. O ministro dos Transportes, Clément Beaune, salientou esta semana que “não há alta” de ocorrência percevejos, porém as declarações não evitaram que a paranoia começasse a atravessar as fronteiras.
A Argélia – país de origem de muitos franceses ou familiares que vivem na Europa – acaba de anunciar “medidas preventivas” contra a propagação da praga.
“Está coçando”
As ocorrências tomaram dimensões de um assunto de Estado. “Todos os ministérios estão trabalhando e mobilizados sobre este tema”, admitiu uma fonte do governo, após uma reunião interministerial no Palácio Matignon, sede do gabinete.
A aposentada Marie-Christine Gesta, 72 anos, conta à AFP que passou o último ano lutando contra os percevejos que descobriu em sua casa, depois de passar alguns dias em um hotel infestado. “Arruinou a minha vida”, explica ela, relatando que agora voltou a “verificar em todo o lado, inclusive na sacola de compras”.
Ver o assunto tomar as capas dos jornais “despertou más lembranças”, conta a senhora. “Já sinto coceira só de pensar nisso”, lamenta a mulher.
Nas ruas, móveis que se acredita estarem infestados agora são colocados em sacolas de lixo e etiquetados “com percevejos”. “Há colchões alinhados na minha rua com pequenos cartazes pedindo para não tocá-los. Temos medo da ‘pulga’”, disse o autor americano Alfredo Mineo, que vive em Paris, ao Guardian.
Estresse pós-traumático
“Há um pequeno efeito de pânico coletivo, em que até as pessoas que não têm percevejos têm medo de tê-los, às vezes com um lado um pouco obsessivo”, analisa o psiquiatra Antoine Pelissolo, do CHU Henri-Mondor, em Créteil.
Quem passou pelo drama vivencia “quase uma síndrome de estresse pós-traumático”, observa Marie Effroy, diretora da empresa de exames Eco-Flair, também presidente do Instituto Nacional de Estudo e Controle de Percevejos (Inelp). As pessoas afetadas ficaram tão marcadas pela experiência que a Eco-Flair teve que formar os seus colaboradores em “gestão do estresse do cliente”, continua.
Esses pedidos de desinfecção estão em forte alta, relata, tanto entre particulares, quanto os transportes públicos.
A rede de transporte público de Montpellier, a TAM, por exemplo, divulgou na sexta-feira fotos de uma “operação de detecção”, apresentando um agente acompanhado de um cão farejador.