Em meio às costuras políticas em Brasília, com a disputa partidária por ministérios, uma organização saltou à frente de várias legendas ao emplacar, desde já, dois titulares de pasta no iminente governo Lula. O sucesso coube ao Colégio Estadual Luiz Tarquínio, em Salvador, onde estudaram segundo Luã Marinatto, do O Globo, na década de 70, os futuros ministros Rui Costa (PT), que assumirá a Casa Civil, e a cantora Margareth Menezes, escalada para a Cultura. Até agora, somente o PT, sigla do presidente eleito, soma mais representantes já confirmados no Planalto.
Tanto o governador Rui Costa, de 59 anos, quanto Margareth, de 60, nasceram em Salvador, onde passaram a infância e a adolescência. A artista morava justamente na região da Boa Viagem, bairro onde fica a Luiz Tarquínio, na chamada Cidade Baixa, próximo à zona portuária soteropolitana. Em 2015, dias depois de iniciar seu primeiro mandato à frente do Executivo baiano, Rui Costa chegou a levar a cantora para uma visita à unidade.
O governador estudou no colégio entre 1974 e 1978, da 5ª à 8ª série — equivalente ao período que vai, hoje, do 6º ao 9º ano, na reta final do Ensino Fundamental —, e teve a agora companheira de ministério como colega que cursava uma turma acima. Na época, o Luiz Tarquínio ainda se chamava Centro Integrado de Educação, atendendo da pré-escola até o antigo 2º grau, com formação profissional em nível técnico.
Em 1997, porém, o Centro Integrado foi extinto, dando origem a duas novas unidades públicas com o mesmo nome: a Escola Estadual Luiz Tarquínio, exclusiva para Ensino Fundamental, e o Colégio Estadual Luiz Tarquínio, com o Ensino Médio na modalidade técnico-profissionalizante. Nos anos 2000, graças a um projeto do governo federal durante os primeiros mandatos de Lula, os estudantes passaram a contar com ensino em tempo integral.
Atualmente, o colégio soma cerca de 200 alunos. No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) disponível para a unidade, de 2019, a média alcançada nos anos finais foi de 3,5, abaixo do registrado na rede estadual da Bahia como um todo (3,8). No mesmo ano, a média nacional para escolas públicas do Ideb, que mede o progresso dos alunos de todo o país, foi de 4,6.
Na mesma área, embora com gestões separadas, funciona ainda o Colégio da Polícia Militar Luiz Tarquínio. O “complexo” educacional vem passando por obras de ampliação e modernização. Segundo a Secretaria estadual de Educação, as obras incluem novas salas, refeitório, auditório, quadra poliesportiva coberta e piscina semiolímpica, com investimento de quase R$ 18 milhões.
As duas escolas que levam o mesmo nome ficam no entorno da Avenida Luiz Tarquínio, também batizada em homenagem a uma importante figura da história soteropolitana e brasileira. Filho de uma escrava liberta e de origem muito humilde, Luiz Tarquínio (1844-1903) ascendeu de vendedor de bilhetes de loteria, na infância, a um dos maiores industriais baianos na segunda metade do século XX.
O empresário tornou-se conhecido por, mesmo antes da existência de leis trabalhistas, oferecer benefícios como licença-maternidade e assistência médica a seus empregados. Foi dele a iniciativa de construir, em Salvador, aquela que é considerada por muitos historiadores a primeira vila operária do Brasil, onde viviam trabalhadores da Companhia Empório Industrial do Norte (Cein), fundada por Tarquínio.
A sede da Cein funcionava a menos de 300 metros do local onde, oito décadas depois, foi erguida a escola cujos corredores abrigaram os dois futuros ministros. Na época em que a dupla circulava por ali, um projeto estimulava os alunos a elegerem anualmente um “governador mirim” para cada escola da rede estadual.
— Foi a Margareth quem lembrou que eu, que devia ter uns 10, 11 anos de idade, fui o escolhido — contou Rui Costa em entrevista à “Globonews”, na qual revelou a relação pregressa entre os dois.
— Uma escola com dois ministros? Tem que fazer uma festa nesse colégio — brincou a apresentadora Miriam Leitão em seguida.