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sexta-feira 21 de abril de 2023 às 08:17h

Erro de estratégia fez governo Lula se curvar à oposição e aceitar CPMI de 8/1

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


Nos primeiros dias da semana, assessores do ministro da Justiça, Flávio Dino, baixaram no Congresso Nacional em um último esforço para evitar a formação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos de 8 de janeiro.

O pedido para a criação da comissão já tinha então as assinaturas de 194 deputados e 37 senadores – bem mais do que o necessário para que ela fosse instalada. O governo, segundo a colunista Malu Gaspar, ainda acreditava que seria possível barrá-la na conversa.

Nos papos de corredor e visitas a gabinetes, os enviados do governo perguntavam aos deputados do que eles precisavam e como podiam atendê-los, na tentativa de chegar a algum tipo de acordo para a retirada dos nomes, diz Malu Gaspar em sua coluna no O Globo.

Mas as imagens do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional sem reação diante dos invasores do Palácio do Planalto em 8 de janeiro jogaram todo o esforço por água abaixo.

Os líderes de Lula foram então obrigados a finalmente aceitar a Comissão Parlamentar de Inquérito que vinha tentando evitar há meses – e no pior cenário possível para o governo, o de uma comissão mista de deputados e senadores, a CPMI, e não apenas de senadores (CPI).

Após dois meses da invasão de 8 de janeiro na praça dos Três Poderes, em Brasília, o Senado e a Câmara dos Deputados ainda não conseguiram se recuperar totalmente das depredações deixadas nos salões legislativos. Obras e recuperações, que já custaram para a Câmara R$ 3.556.509,14 (três milhões, quinhentos e cinquenta e seis mil, quinhentos e nove e quatorze centavos) e para o Senado R$ 483.082,98 (quatrocentos e oitenta e três mil, oitenta e dois reais e noventa e oito centavos), estão previstas até os últimos meses do ano.

Os dois pedidos estavam no Congresso desde janeiro, mas o governo desestimulou a do Senado, pedido por Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que não chega a ser da base do governo, mas estava aliada do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e outros governistas na proposta da CPI.

Enquanto isso, na Câmara, onde o PL de Jair Bolsonaro não só havia apresentado o requerimento para a CPI como tem a maior bancada, deputados da base do governo e muitos ligados a Arthur Lira não se acanharam em assinar o pedido e colocar a comissão em ponto de aprovação.

Agora, enquanto procuram difundir a versão de que a comissão será um “tiro no pé” dos bolsonaristas, parlamentares ligados ao governo lamentam nos bastidores o “erro grave” que Lula e seus ministros cometeram, ao boicotar o pedido de CPI apresentado por Soraya Thronicke.

Por ser formada apenas por senadores e capitaneada pelo grupo que liderou a CPI da Covid durante o governo Bolsonaro – como Renan Calheiros (MDB-AL), por exemplo – ela seria mais fácil de controlar do que uma comissão mista com deputados, por exemplo.

Soraya também coletou mais do que assinaturas necessárias para a abertura de uma comissão, mas esbarrou na resistência de Lula e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que, ao contrário do que havia prometido, até hoje não leu o requerimento pela abertura da CPI.

“Nós temos instrumentos para fiscalizar o que aconteceu nesse país. Uma comissão de inquérito pode não ajudar e ela pode criar uma confusão tremenda, sabe? Nós não precisamos disso agora”, disse o próprio Lula em entrevista à Globonews, em 18 de janeiro.

Desde então, Soraya chegou a procurar os ministros Dino e Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) para tratar do assunto, mas segundo ela os dois sempre minimizaram a importância de uma comissão.

Assim que a saída de Gonçalves Dias foi confirmada, Soraya ainda tentou uma cartada de última hora, reforçando um pedido que estava parado no Supremo Tribunal Federal (STF) havia dois meses para obrigar Pacheco a ler o requerimento de abertura da CPI.

O relator do caso, Gilmar Mendes, não decidiu até agora. Mas, ao final da noite, a CPMI, com 16 deputados e 16 senadores, já era um consenso entre governo e oposição.

“Defendo que apoiemos”, disse a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, ao GLOBO. “Será um tiro no pé dos bolsonaristas”, afirmou o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). Nos bastidores, porém, o ânimo não é o mesmo.

Embora digam que tem direito a indicar a maioria dos membros, há dúvida sobre como vão se comportar partidos do Centrão que tem mantido um pé em cada canoa – um da na independência, outro na do governo.

Só quando a composição da comissão for definida é que será possível entender quais os cenários possíveis para o governo e para a oposição.

“CPI é como futebol. Quem não faz, leva”, costuma dizer Calheiros. A crise provocada pelas imagens do general Dias provocou o pênalti que fez o governo tomar sua primeira invertida. Ainda há tempo para reverter a vantagem – desde que não repita os erros do começo.

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