Campanha foi marcada por assassinatos de líderes políticos, incluindo um presidenciável. Tema da segurança domina reta final do pleito no país, que também atravessa crise política e econômica. O Equador vai às urnas neste domingo (20) sob tensão, após uma campanha marcada por uma onda de violência sem precedentes, que incluiu no espaço de três semanas o assassinato de três líderes políticos do país, incluindo um candidato à Presidência.
O assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio em 9 de agosto, após um comício na capital, Quito, chocou o país sul-americano de 18 milhões de habitantes, que enfrenta uma tripla crise: política, econômica e de segurança pública.
Pouco menos de duas semanas antes, o prefeito da cidade de Manta, Agustín Intriago, já havia sido assassinado. Finalmente, em 14 agosto, foi a vez de Pedro Briones, um dirigente do partido do ex-presidente Rafael Correa, ser vítima de assassinato.
É sob esse clima de tensão que o eleitorado equatoriano decidirá quem vai liderar o país. No momento, o país está sob estado de exceção decretado pelo governo, mas as eleições foram mantidas.
Candidatos
Estão no páreo oito candidatos, entre veteranos políticos e empresários. Entre eles estão o ambientalista Yaku Pérez; a ex-deputada ‘correísta’ Luisa González; o o ex-legionário franco-equatoriano e empresário da área de segurança Jan Topic; o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner; o político empresário Xavier Hervas; o empresário e ex-deputado Daniel Noboa; e o independente Bolívar Armijos.
A luta contra o crime tem sido uma das principais promessas dos candidatos que querem suceder o atual presidente, o conservador Guillermo Lasso, que desistiu de concorrer à reeleição.
Em maio, Lasso decretou a dissolução do Congresso do país por meio de um mecanismo institucional chamado “morte cruzada”, um dia depois de apresentar sua defesa em um processo de impeachment contra ele no Legislativo, controlado pela oposição. Com a medida, Lasso também anunciou eleições gerais antecipadas.
As pesquisas mais recentes indicam liderança da correísta Luisa González na corrida. Em um dos levantamentos, ele registou 24% das intenções de voto.
Já o ex-deputado Fernando Villavicencio, apareceu em segundo lugar, com cerca de 12%, mesmo após o seu assassinato. Neste caso, os votos podem ir para seu substituto na campanha, o jornalista Christian Zurita, que ainda está com seu registro pendente.
Na terceira colocação, e subindo nas últimas pesquisas, aparece Jan Topic, um bilionário que já serviu na Legião Estrangeira e usa a música do filme “Top Gun” em eventos de campanha. Ele vem atraindo atenção pela promessa de adotar uma política de “mão firme” contra o crime, no mesmo estilo de Nayib Bukele, o presidente El Salvador, que prendeu dezenas de milhares de pessoas em seu país para combater facções criminosas, mas também foi acusado de graves violações dos direitos humanos.
Com esse cenário pulverizado, é provável que a disputa passe para um segundo turno. Pelo sistema equatoriano, para vencer, um candidato precisa de mais de 50% dos votos válidos, ou 40% com uma vantagem de ao menos 10% em relação ao segundo colocado.
Protesto
O que vai dominar as eleições, segundo especialistas, será o anticorreismo e a frustração, especialmente com a violência. “As pessoas estão fartas”, avalia Efrén Guerrero, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Equador, em entrevista à DW. “O Equador entra nas eleições cansado e com medo.”
O Equador encerrou 2022 com a maior taxa de mortes violentas de sua história, registrando 25,32 por 100 mil habitantes, a grande maioria associada, segundo o governo, ao crime organizado e ao narcotráfico, que ganhou força no litoral e transformou os portos em grandes polos de distribuição de cocaína para Europa e América do Norte.
Era uma crise anunciada, avalia Wolf Grabendorff, pesquisador especializado no Equador. No entanto, o que só agora se manifesta é “a dimensão estrutural desta crise, que torna visível a influência dos diferentes grupos criminosos no Estado”. Grabendroff também acredita que essa será “definitivamente uma eleição de protesto”.
O Equador também vem enfrentando problemas desde a pandemia de covid-19, que mergulhou o país em uma profunda crise econômica. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Inec), atualmente o nível de pobreza ainda está acima do nível pré-pandêmico, com um em cada quatro equatorianos vivendo nessa situação.
Tudo isso também alimenta a violência, que também tem sido amplamente impulsionada pelo tráfico de drogas. Nos últimos anos, os homicídios quintuplicaram, as prisões se tornaram palco de guerras de gangues e, segundo a ONU, este ano o Equador ultrapassou a Colômbia como principal exportador de cocaína, apesar de a Colômbia continuar sendo o principal produtor.
“Há uma crise econômica, uma crise emocional e uma crise de segurança, mas também uma enorme crise de saúde mental”, resume Efrén Guerrero.
“Equador é a nova Colômbia”
A cooptação do sistema, os vínculos entre a máfia e a política e os assassinatos de candidatos presidenciais tornaram inevitável a comparação da situação do Equador com a da Colômbia na década de 1980. “O que a Colômbia sofreu na década de 1980 e o que o México sofreu nos anos 1990, o Equador está sofrendo hoje”, avaliou o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner.
A comparação é válida, diz Garbendorff. No entanto, a dinâmica do narcotráfico evoluiu no contexto globalizado. Enquanto na Colômbia predominavam, os cartéis nacionais, como o cartel de Medellín ou o cartel de Cali, no Equador enfrenta a influência de atores internacionais, incluindo mexicanos ou mesmo europeus.