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domingo 9 de fevereiro de 2020 às 06:55h

Envelhecimento do Brasil já compromete o crescimento da economia, diz Fundação Getúlio Vargas

ECONOMIA, NOTÍCIAS


Como quase toda economia emergente e jovem, o Brasil sempre se beneficiou do bônus demográfico – ou seja, da maior quantidade de brasileiros que entrava no mercado de trabalho em relação à que deixava. Por anos, essa combinação garantiu uma contribuição ao ritmo de crescimento econômico e até ajudou a custear a aposentadoria dos mais velhos. Agora, o envelhecimento dos brasileiros pode impor restrições ao crescimento da economia no médio e longo prazo e pressionar ainda mais as contas públicas.

De forma geral, segundo reportagem do G1, a entrada de novos trabalhadores no melhor momento do bônus demográfico contribuía anualmente com 0,5 ponto percentual para o crescimento do PIB, segundo cálculos da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em tese, o aumento de pessoas no mercado de trabalho ajuda a elevar a produção do país, o que colabora para melhorar o desempenho da atividade econômica.

Agora, com processo de encerramento do bônus demográfico, os analistas apontam que começa a ficar mais urgente a necessidade de o país investir numa agenda de produtividade, se quiser colher um crescimento mais acelerado, e garantir bons salários para que os trabalhadores possam custear os futuros aposentados.

“De um lado, há o desafio da questão fiscal e previdenciária. E de outro, o aumento necessário da produtividade do trabalhador brasileiro. Tudo isso está relacionado com o fim do bônus demográfico”, afirma o diretor da FGV Social, Marcelo Neri

Os primeiros sinais do encerramento do bônus demográfico já começaram a aparecer. Em 2018, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a razão de dependência cresceu pela primeira vez, para 44,03. Ou seja, no ano passado, havia 44 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa. Em 2017, a razão era de 43,98.

O crescimento surpreendeu. O IBGE só esperava um aumento da razão de dependência em 2023.

Para calcular o índice, o IBGE classifica como dependentes crianças e idosos, na sua maioria, enquanto a população em idade ativa engloba de forma geral a fatia de brasileiros com idade entre 15 e 65 anos.

A previsão é de que a razão de dependência avance em todos os anos daqui em diante. Em 2060, deve chegar a 67,23.

Os movimentos demográficos costumam ser lentos, mas já era praticamente certo que o Brasil iria se deparar com este tipo de questão. A expectativa de vida aos nascer do brasileiro cresce desde 1940, quando era de 45,5 anos. Em 2017, chegou a 76 anos.

“Nos últimos anos, houve uma diminuição da mortalidade e aumento da expectativa de vida. A chance de uma pessoa envelhecer é cada vez maior”, afirma o demógrafo do IBGE Marcio Minamiguchi. “Hoje, é quase certo que alguém vai se tornar um velhinho no futuro.”

A nova equipe econômica liderada por Paulo Guedes tem se valido do argumento de que o envelhecimento da população é uma das razões para que o país enderece uma reforma da Previdência. Por ora, o governo já sinalizou que deve propor um regime de capitalização com a adoção de idade mínima para aposentadoria.

Desafio para o crescimento

Agora, sem o “motor” do bônus demográfico, o país se torna dependente de outros estímulos de crescimento, sobretudo do aumento da produtividade do trabalhador. E o desafio é grande porque o país está estagnado. Um trabalhador nos dias de hoje produz o mesmo que um profissional dos anos 1980, segundo os economistas.

A agenda para melhorar a produtividade é bastante grande. Nela, por exemplo, estão pautas que passam por melhora da educação, aprovação de reformas importantes para melhorar o ambiente de negócios do país, além de investimento em inovação e infraestrutura.

“A reforma trabalhista que flexibilizou o mercado de trabalho pode ajudar”, afirma o economista da consultoria Tendências Thiago Xavier. “Às vezes, por exemplo, as mulheres não estão disponíveis para uma jornada padrão, o que pode deixá-las fora do mercado de trabalho. Agora, com a reforma, a ideia é que as pessoas sejam atraídas de volta ao mercado e tragam um ganho para o país”, afirma.

O avanço da produtividade também se torna fundamental para que garantir a sustentabilidade do sistema de aposentadorias do Brasil. Trabalhadores mais produtivos recebem melhores salários e, consequentemente, contribuem mais com a previdência. As projeções do governo indicam que o déficit da Previdência deverá ser crescente. Neste ano, o rombo estimado é de R$ 300 bilhões.

“Nos últimos 30 anos, o PIB per capita do Brasil tem crescido, mas isso ocorreu pelo aumento do número de trabalhadores. Já o PIB produzido por cada trabalhador cresceu muito pouco”, afirma o coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper, Naercio Menezes.

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