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Carlos Lupi, presidente nacional do PDT - Foto: Divulgação
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quinta-feira 7 de novembro de 2024 às 07:32h

Entrevista: ‘Se cortar direitos na previdência, não tenho como ficar no governo’, diz ministro Carlos Lupi

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Enquanto o governo discute formas de cortar gastos, o ministro Carlos Lupi (Previdência Social) afirmou em entrevista a Lauriberto Pompeu, do O Globo, que deixará a gestão de Lula da Silva (PT) caso a iniciativa alcance benefícios previdenciários que são “direitos adquiridos” ou modifique a política de aumento do salário mínimo”. Presidente licenciado do PDT, ele descarta uma federação com o PSDB, diz que há negociações mais promissoras com outros partidos e reconhece a possibilidade de o ex-presidenciável Ciro Gomes deixar a legenda caso uma aliança seja formada com o PT no Ceará.

Defende que Lula faça mais alianças ao centro na provável campanha à reeleição?

O Geraldo (Alckmin) representa isso, como o José Alencar (ex-vice de Lula) já representou. A prática na administração é o que dá a conotação ideológica. O governo está com a inflação sob controle, com ganho real de salário, e as políticas sociais são fortes.

A vaga de vice-presidente precisa sair do PSB e ir para um partido como o MDB?

Uma informação que muda esse quadro: uma federação com PDT, PSB, Cidadania, PV e Rede é do tamanho do MDB. É um time forte. Pode garantir a permanência do vice-presidente Alckmin (como vice)? Tudo é possível. Ele foi governador de São Paulo três vezes, não é um nome descartado. O candidato vai ser o Lula? É provável, mas será? E quem serão os adversários? É muito cedo para definir.

O PDT vai apoiar a reeleição de Lula?

Não estaremos jamais com o que o (Leonel) Brizola chamava de direita carcomida, hoje representada pelo Bolsonaro. Ou trabalhamos para construir uma alternativa ou vamos lutar com o governo. Na fotografia de hoje, o Lula é o candidato mais forte do nosso campo. Vai continuar sendo em 2026? Pode ser que sim, pode ser que não. Hoje tem alguma alternativa viável no nosso campo de centro-esquerda? Não vejo. Pode surgir? Pode.

O PDT já negociou federações com vários partidos, como PSDB, Cidadania, Solidariedade, Podemos e PSB. Com quais dessas legendas há negociações mais avançadas? E quando isso vai sair do papel?

A federação só pode existir com projeto, não pode ser ajuntamento eleitoral. Eu estou no Ministério. Essa federação vai fazer parte do governo ou vai para oposição? Se for para oposição, tem que sair do governo. Não é coerente, não consigo fazer jogo duplo. Acho difícil a federação com o PSDB e com o Solidariedade. O Marconi Perillo (presidente do PSDB) estava outro dia aplaudindo o senador Rogério Marinho (PL-RN): “Você é um baluarte das reformas trabalhista e previdenciária”. É conosco que vai fazer essa aliança? Somos a antítese dessas reformas, não tem afinidade ideológica. Estou conversando bem com Rede, Cidadania e PV. Retomamos o diálogo com o PSB. Agora, não é para amanhã.

Rede, Cidadania e PV estão em federações diferentes. Esses partidos vão sair para formar outra?

A informação que eu tenho é que eles não ficam. O prazo de quatro anos dessas federações termina no fim do ano que vem. O que eu sei é que o Cidadania está saindo da federação com o PSDB, a Rede vai deixar a do PSOL, e o PV provavelmente vai sair da federação com o PT. Os três me procuraram. Vou aprofundar a discussão dentro do PDT.

Sem o Ciro Gomes no PDT, uma federação com o PSB fica mais fácil?

Quero saber quais vão ser as consequências em Fortaleza para saber a possibilidade ou não com o PSB. Tenho uma excelente relação com (Carlos) Siqueira (presidente do PSB) com o João (Campos, prefeito do Recife). Aquele rompimento, quando todo mundo saiu do PDT para o PSB no Ceará, atrapalhou muito. Não sei se esse impedimento vai continuar. Tenho que esperar até o fim do ano.

O PDT elegeu 168 prefeitos a menos do que em 2020 e perdeu o comando de Fortaleza e Aracaju. O que explica esse resultado? A posição do Ciro Gomes de enfrentar o PT no Ceará atrapalhou?

Saíram 60 prefeitos do PDT no Ceará após o rompimento entre os irmãos (Ciro e Cid Gomes). O Ciro é uma personalidade das mais inteligentes que eu já conheci, mas tem o temperamento muito duro. Ele e o irmão nunca foram muito fortes em Fortaleza. A aliança (entre PDT e PT) que era forte. Rompe e o que acontece? Sarto (prefeito de Fortaleza, do PDT) não conseguiu fazer uma boa comunicação da gestão. Lula é muito forte lá e houve a polarização entre os candidatos do PT (Evandro Leitão) e do PL (André Fernandes), que era a marca do voto do Bolsonaro. Ganhou o PT, graças a Deus. O Ciro deu a opinião dele, mas não fez campanha para ninguém (no segundo turno em Fortaleza).

Existem deputados defendendo a saída do Ciro do PDT…

Minha relação com o Ciro é de profundo carinho e amizade. As pessoas só querem lembrar do que ele fez na última eleição. Esquecem que na outra, em 2018, ele ajudou a eleger 27 deputados. O Ciro só sai do partido se quiser.

Ele quer?

Não.

Mas não vai sair se o PDT voltar a se aliar com o PT no Ceará?

Só perguntando a ele. Acho que isso vai criar uma grande dificuldade (para Ciro). Vamos esperar até o final do ano para ver como vai avançar.

Os principais aliados de Ciro no PDT apoiaram o candidato do PL em Fortaleza. Eles ficam no PDT?

Temos que conversar. Como ficou muito polarizado, eu já estou sentindo dificuldades. Meu amigo André Figueiredo, que está respondendo pela presidência do partido, foi fazer campanha para o Evandro (Leitão), assim como eu. Ele (Figueiredo) quer que o partido participe do governo, e eu concordo. Acho que vai dar problema porque o (ex-prefeito) Roberto Cláudio (PDT) não quer participar. Precisamos de uma conclusão. Quem não quiser participar do governo, como vai fazer? Vai ser uma linha de oposição de que maneira? Não vamos continuar apoiando o PL. Mas tem que esperar decantar.

O governo prepara um pacote de corte de gastos. Qual valor deve ser cortado de seu ministério e que áreas serão atingidas?

Nosso grande desafio é o equilíbrio fiscal. Como fazê-lo em cima da miséria do povo brasileiro? Quero discutir taxação das grandes fortunas. O (Fernando) Haddad (ministro da Fazenda) até está propondo isso. Quem tem que doar algo nesse processo é quem tem muito, não quem não tem nada. Como vai pegar a Previdência? A média salarial das pessoas é R$ 1.860. Vou fazer o que com isso? Tirar direito adquirido? Não conte comigo. Vou baixar o salário? Não conte comigo. Vou deixar de ter ganho real (no salário mínimo)? Não conte comigo. Se isso acontecer, não tenho como ficar no governo. Acho que o governo não fará isso. Temos que cobrar os grandes devedores, a sonegação e as isenções indevidas.

O governo pediu ao senhor um tamanho de corte específico?

Despesa obrigatória não tem como ser cortada. Acha que algum congressista vai tirar direito de aposentado? Tenho que nascer de novo para acreditar nessa história. O que podemos fazer, e estamos fazendo, é apertar as irregularidades. Estamos fazendo uma economia grande conferindo gente que não tem mais direito à licença por doença. Se um cara teve uma doença e se curou, como continua tendo licença? O grande desafio da Previdência é que mais da metade dos nossos pedidos são de auxílio-doença. O Brasil está doente assim? Temos que melhorar, por exemplo, a biometria. Precisamos botar tecnologia de ponta e ajudar quem tem direito, separar o joio do trigo.

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