Líder do PDT no Senado e da base do governo na Casa, o senador Cid Gomes (CE) demonstra insatisfação com o início do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista a Lauriberto Pompeu, do O Globo, o pedetista mirou sua artilharia em ministros que diz serem “porta-vozes do sistema financeiro”, criticou a aliança do Palácio do Planalto com o Centrão, que classificou como “tragédia”, e não descartou que o partido tenha uma candidatura própria a presidente em 2026. Para o senador, o PDT terá que avaliar na metade do mandato de Lula se as propostas da sigla estão sendo respeitadas e, então, debater se vale a pena continuar participando do governo.
Irmão do ex-ministro Ciro Gomes, Cid, porém, disse ter considerado o rompimento de seu partido com o PT no Ceará, seu estado, um equívoco, mas trata os duros ataques feitos pelo então presidenciável pedetista como estratégia eleitoral. Segundo ele, contudo, foi uma posição pessoal de Ciro, e não partidária.
- Como avalia o início do governo Lula?
Tenho várias preocupações. O Lula critica juro, e o que está por trás de juro é a especulação financeira. Eu vejo pessoas no governo muito influentes, que são porta-vozes do sistema financeiro. Vide agora o caso do (ministro da Previdência, Carlos) Lupi (em que ele tentou baixar os juros do empréstimo consignado para 1,7%). Ele conversou com o presidente antes de reunir o conselho do Ministério da Previdência, e depois a Casa Civil disse que não tinha sido acertado. Uma desautorização pública.
- Como vê as críticas dentro do PT ao ministro da Fernando Haddad (Fazenda)?
O Lula é mestre nisso, um critica e outro elogia para ele mediar. Enquanto ele mediar em uma direção progressista, eu estarei satisfeito. Mas, se a crítica for só para inglês ver e, no fundo, as ações forem conservadoras… O Haddad é bem intencionado.
- E com relação à articulação política no Congresso?
Uma preocupação que eu tenho é esse conformismo com o status quo, o Centrão, a Câmara. O (Arthur) Lira é só mais um e vai ser mudado. O poder do Lira não é um poder dele, é um poder da presidência (da Câmara), que vinha de pressão junto a governos frágeis, como foi o do Bolsonaro e como foi o do Michel Temer. O Brasil não vai mudar só porque tirou o Bolsonaro e botou o Lula. É o Centrão, é o mesmo povo, com a conivência e o entusiasmo do (ministro das Relações Institucionais) Alexandre Padilha, que é o articulador político do governo.
- Quais são suas críticas à atuação do ministro Padilha nessa articulação da base?
Eu acho que ele (Padilha) está levando o presidente Lula para uma tragédia. Se a defesa dele é que o Centrão volte a mandar no governo, como mandou nos mandatos do (Jair) Bolsonaro e do Michel Temer, vai levar o Lula para o buraco. No governo Dilma, o Centrão só se revoltou porque não mandou tanto quanto queria.
- O PDT está na base de Lula, mas o candidato do seu partido ao Planalto, seu irmão, Ciro Gomes, fez uma campanha com muitas críticas ao PT. Há espaço para reconciliação?
É natural que em uma campanha, quando você é candidato contra outro, que mostre as diferenças. O Ciro não apoiou o Lula no segundo turno. É uma posição dele, não é uma posição partidária.
- O senhor acredita que a estratégia dele foi válida?
Depende. Boa parte das pessoas se decepcionou com Bolsonaro durante o governo. Era o público liberal que o Ciro queria atrair, mas que não enxergou alternativa. A principal preocupação deles era o PT assumir o governo, e como não viram alternativa, acabaram voltando para o Bolsonaro. Isso poderia ter sido diferente. Essas pessoas poderiam ter migrado para o Ciro.
Nós sempre tivemos uma convicção de que o projeto nacional, a candidatura do PDT e do Ciro, não interferiria na aliança que nós temos com o PT no Ceará. Esse sempre foi o nosso entendimento há duas décadas. Nessa última eleição, o Ciro resolveu mudar e nacionalizar a eleição estadual. Eu achava que era uma estratégia equivocada, mas fui voto vencido.
Um partido que decide participar de um governo tem que ter um motivo forte para lançar uma candidatura. Não pode fazer isso de forma oportunista às vésperas da eleição. Participar do governo do Lula não impede daqui a três anos que o PDT venha ter um candidato a presidente, mas essa decisão tem que ser tomada com o tempo de não parecer que ficamos até a última hora e saímos para lançar um candidato. Vamos avaliar metade do governo do Lula e ver: vale a pena continuar? O PDT tem tido suas propostas respeitadas? Tem, então vale a pena fazermos o sacrifício. Não tem, então vamos nos preparar com antecedência para termos um candidato.