Aliado de Jair Bolsonaro, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), elogiou a proposta da Reforma Tributária, aprovada na Câmara, após a inclusão de artigos mantendo condições especiais à Zona Franca de Manaus. Ele afirmou segundo Bernardo Mello, do O Globo, que, pela defesa dos interesses de seu estado, não pode abrir mão do diálogo com o governo Lula. O governador, contudo, apresentou ressalvas à política ambiental da atual gestão. Quanto ao ex-presidente, prevê que ele manterá “relevância” política mesmo inelegível.
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O senhor é aliado de Jair Bolsonaro, mas apareceu ao lado do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e elogiou a Reforma Tributária. Por quê?
Estive em Brasília para entender como ficaria a Zona Franca de Manaus nesse processo. Fui brigar por aquilo que está dentro do texto da Constituição, que é a preservação da sua competitividade até 2073, o que é fundamental para a atividade econômica do estado (do Amazonas). Sem a Zona Franca, o estado seria terra arrasada, e enfraquecê-la é o primeiro passo para queimar a floresta. Para honrar esse compromisso, vou fazer o que tem que ser feito. Não podemos prescindir da relação com o governo federal.
O ex-presidente entrou em atrito com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por ter feito algo semelhante. Acha que Bolsonaro foi intransigente?
Todos sabem meu posicionamento político. No entanto, fui eleito governador para representar o estado, isso está em primeiro lugar. Essa aprovação (da Reforma Tributária) representa um avanço muito grande para o país. Dá mais transparência e conversa com as práticas internacionais.
Bolsonaro se isolou depois da eleição ao manter uma postura radical, abrindo espaço a outros nomes?
É difícil dizer que o presidente tinha que fazer assim ou assado. Mas acho o seguinte: com Bolsonaro, a direita ganhou protagonismo. O país saiu dividido da última eleição, e não é o processo de tornar Bolsonaro inelegível que vai acabar com o conservadorismo. A partir daí, a gente tem uma série de situações que devem se desenrolar, de outras lideranças que fazem parte desse processo, mas Bolsonaro manterá uma relevância nisso.
Lula se elegeu com um discurso de preservação da Amazônia e criticando a postura de Bolsonaro, apoiado pela maioria dos governadores da região. Esse é um ponto de difícil entendimento com o atual governo?
Me preocupa muito a construção dessa imagem de protetor ambiental a qualquer custo. A repressão é insuficiente, porque não tem polícia nem satélite que vá conseguir guardar uma área como a do estado do Amazonas. Vai chegar um momento, com tanta restrição que temos na Amazônia devido a uma interpretação equivocada de preservação ambiental, que nossa população vai virar pedinte.
A exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, por exemplo, hoje bloqueada pelo Ibama, é necessária?
O que defendo é a necessidade de bom senso e equilíbrio. No Amazonas, temos uma mina de potássio com capacidade de abastecer o agronegócio brasileiro, que hoje importa quase a totalidade de seus fertilizantes. E eu tenho uma legislação ambiental que não me permite. Já fiz um apelo à ministra Marina Silva (Meio Ambiente) para que fosse ao Amazonas, para que a gente entenda como conciliar preservação com desenvolvimento econômico e social.
O diálogo na área ambiental tem avançado com o Pará, escolhido para sediar a próxima COP. Há preferência do Palácio do Planalto por atender governadores aliados?
Naturalmente, quem é aliado do governo federal tem um canal de diálogo muito mais estreito. O governador Helder (Barbalho, do Pará) tem um irmão que é ministro das Cidades. Então, isso é do jogo. Mas quem está no Executivo precisa ter a noção de que governa para todos, inclusive para quem não votou nele. Na minha base, por exemplo, tenho deputado do PT e aliados próximos de Bolsonaro. A eleição presidencial foi uma das mais apertadas de todos os tempos, há um país dividido, e é preciso entender essa conjuntura.