Apesar da pressão do União Brasil para comandar a Embratur, o atual presidente da agência de promoção do turismo, Marcelo Freixo (PT), disse não se sentir “nem um pouco” ameaçado no cargo”. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o petista garantiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca conversou com ele sobre uma possível troca na presidência da empresa, mas reconheceu que é preciso haver uma composição política para garantir a governabilidade.
“Eu, particularmente, não vejo nenhum problema do desejo do União Brasil. Não vejo como ameaça, nem como nada grave. Cabe ao União Brasil dizer que quer espaço no governo. Isso é da política, é legítimo. Qual o espaço cada partido vai ter, quem define é o presidente da República”, declarou.
Apesar de a Embratur ser vinculada ao Ministério do Turismo, hoje comandado por Celso Sabino, do União, Freixo enfatizou que não é necessário um alinhamento ideológico entre a chefia da pasta e o comando da Embratur. “Não há subordinação”, emendou o petista. Ele disse ter uma “relação ótima” com Sabino e afirmou querer “parceria total” com o novo ministro.
Filiado recentemente ao PT, Freixo disse que o partido “jamais” será um obstáculo a qualquer iniciativa do presidente. “Se Lula entender que tal espaço tem que ser cedido, vai contar com toda a nossa compreensão”, declarou, em meio à cobiça do Centrão pelo Ministério do Desenvolvimento Social, comandado pelo petista Wellington Dias.
Ao dizer que sua gestão no órgão tem mostrado resultados, Freixo também destacou o papel que o turismo sustentável terá na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que ocorrerá em 2025 no Brasil. Ele ainda afirmou que a tendência é que não seja candidato à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2024.
Veja os principais trechos da entrevista.
Estadão/Broadcast: Como o senhor viu a troca no comando do Ministério do Turismo, com a demissão de Daniela Carneiro e a entrada de Celso Sabino?
Marcelo Freixo: Cabe ao presidente Lula a escolha dos ministros e me cabe trabalhar com todos eles. Evidente que tem também uma separação. A Embratur é uma empresa que trabalha com a imagem do Brasil para fora e com o turismo internacional. O Ministério trabalha com turismo doméstico. Não há subordinação. Nunca houve um necessário alinhamento político ou ideológico entre o ministro e o presidente da Embratur. O ideal é que se trabalhe junto, se tenha diálogo, se tenha a parceria que eu tenho com Celso Sabino. A gente foi deputado junto, nossa relação sempre foi ótima.
Broadcast Político: O União Brasil sinalizou que gostaria de presidir também a Embratur. O senhor se sente ameaçado no cargo?
Freixo: Nem um pouco. Eu, particularmente, não vejo nenhum problema do desejo do União Brasil. Não vejo como ameaça, nem como nada grave. Cabe ao União Brasil dizer que quer espaço no governo. Isso é da política, é legítimo. Qual o espaço cada partido vai ter, quem define é o presidente da República. Em nenhum momento, nesses seis meses que estive à frente da Embratur, houve qualquer gesto, qualquer conversa, qualquer indicativo de que pudesse haver mudança no nosso cargo. Pelo contrário.
Broadcast Político: O senhor se reuniu com o ministro Rui Costa, da Casa Civil, nesta semana. Como foi a conversa?
Freixo: Ele é um ministro bastante central na política do governo, e nossa conversa hoje foi 100%, 120% de planejamento do Turismo, de orçamento, de projeto. Não houve uma única vírgula sobre qualquer coisa que não fosse trabalho. Então eu estou tranquilo como sempre estive, e trabalhando muito, entregando. A Embratur entrega, tem resultado. Isso me deixa muito tranquilo, além da minha relação com o Partido dos Trabalhadores, com o presidente Lula e com o governo.
Broadcast Político: O ministro Celso Sabino citou para o senhor uma possível troca no comando da Embratur?
Freixo:Todas as minhas reuniões com o Sabino, antes e depois de ele tomar posse, foram sobre o tema do Turismo, agenda e trabalho. A gente nunca conversou sobre vaga porque não cabe a ele nem a mim, cabe única e exclusivamente ao presidente Lula. Da nossa parte, nunca houve qualquer conversa, qualquer indicativo, sobre a Embratur. Pelo contrário, a Embratur tem uma entrega muito qualificada que nos tranquiliza.
Broadcast Político: Em algum momento Lula o procurou para garantir que o senhor continua no cargo?
Freixo: Zero. Nunca houve qualquer comentário de possibilidade de sair nem para tranquilizar nem para não tranquilizar. Nunca foi assunto, nem com o presidente nem com ninguém do governo.
Broadcast Político: Diante das especulações, o senhor fez algum movimento para permanecer no cargo?
Freixo: Quando esse assunto começou a surgir, algumas coisas legais aconteceram. Os resultados estão aparecendo. Em pouco tempo a gente fez muita coisa porque se montou uma equipe muito qualificada. Por exemplo, de janeiro a maio, a gente teve gastos de turistas estrangeiros no Brasil de R$ 13 bilhões. A gente tem chance, esse ano, de bater o recorde pré-pandemia de arrecadação financeira com turistas estrangeiros.
Broadcast Político: Como o senhor está vendo essas negociações do governo com o Centrão em busca de uma governabilidade? Por exemplo, a principal especulação é do Ministério do Desenvolvimento Social e há chance de o PT perder espaços na Esplanada. O senhor acha que o governo faz bem em tentar alocar o Centrão?
Freixo: O mesmo povo que votou e fez de Lula presidente da República não votou para que a gente tivesse uma maioria no Parlamento. Hoje o nosso governo tem 130 deputados. Então, claro que você tem que compor, tem que ter governabilidade, tem que colocar para dentro [os partidos]. Agora, não vai ser igual ao governo passado. Lula não é Bolsonaro. No governo passado, o Centrão era o governo, e o presidente era uma alegoria ideológica da extrema direita. Lula vai controlar esse processo de entrada no governo.
Broadcast Político: Como integrante do PT, o senhor acha que o partido poderia fazer um sacrifício em nome da governabilidade?
Freixo: É evidente que jamais o PT será obstáculo a qualquer iniciativa ou ação do presidente Lula. Se Lula entender que tal espaço tem que ser cedido, vai contar com toda a nossa compreensão sempre porque ele é o líder desse processo todo que é tão importante para o Brasil. O PT vai caminhar com o Lula sempre.
Broadcast Político: O que o senhor apresentou para o Sabino nas reuniões?
Freixo: Apresentei o calendário, qual é a agenda do Turismo até o final do ano. Não é simples a gestão de tempo, então entreguei as demandas, tudo organizado, porque eu quero uma parceria total. Isso é bom para o governo, é bom para a sociedade.
Broadcast Político: Quais são os projetos prioritários da Embratur?
Freixo: A gente tem parceria na inovação com o governo português e com a Itaipu. Tem uma parceria com o Google, que é extremamente importante porque hoje quem escolhe o lugar para viajar escolhe através da internet, ninguém mais fica ligando. A gente tem hoje 35 mil agências de viagens, e essa parceria com o Google é para capacitar essas agências, de que maneira elas podem acessar melhor a informação para buscar esse cliente para vir para o Brasil. Entender as tendências ajuda a direcionar que tipo de promoção você vai fazer para cada país.
Broadcast Político: Que tendências vocês já captaram?
Freixo: O segundo país que mais visita o Brasil, depois da Argentina, é os Estados Unidos. Eles gostam de visitar muita coisa relacionada com sol e praia, mas também com cultura. Esse aspecto do afroturismo, da nossa raiz africana, é importante. Hoje, se você olhar, não há muitos voos dos EUA para a Bahia. Então, ampliar a malha aérea em função de um mercado que pode ser mais ativo é um planejamento que a Embratur está fazendo. Neste ano, a gente já tem 40% a mais de voos internacionais do que no ano passado. O nosso papel é ampliar o número de voos internacionais para cá.
Broadcast Político: Qual é a expectativa para a COP 30?
Freixo: É o evento mais importante que vai ter no Brasil nos próximos tempos. A agenda da sustentabilidade climática é o que coloca o Brasil no centro mundial de geopolítica, e o presidente Lula tem feito isso muito bem. A Embratur é essencial porque divulga a imagem do Brasil. E o turismo é a grande atividade econômica que pode gerar sustentabilidade.
Broadcast Político: O senhor pretende se candidatar a prefeito do Rio de Janeiro no ano que vem?
Freixo: Não pretendo. Está cedo ainda para essa decisão. Minha pretensão é consolidar o trabalho da Embratur. Claro que quero ajudar muito na eleição do Rio de Janeiro. Eu sempre fui muito bem votado no Rio, não posso desconsiderar. Quero ajudar a eleger vereadores, prefeitos, não só na cidade do Rio, mas no Estado inteiro, são 92 municípios. Participarei ativamente da eleição do Rio. Se vai ser como candidato ou não, ainda é cedo, mas a tendência é que não seja.