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domingo 26 de novembro de 2023 às 20:54h

Entrevista: ‘Lula é ninja, mas não é para sempre e tem que ajudar a buscar opções’, diz Márcio França

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


Deslocado ao 38º ministério do governo para abrir espaço ao Centrão, Márcio França considera que Luiz Inácio Lula da Silva acertou ao atrair novos partidos, mas vê necessidade de o presidente se envolver em um outro movimento político: ajudar a encontrar alternativas para quando não for mais candidato à Presidência. As informações são de Bruno Góes, do jornal, O GLOBO.

Ele enxerga o vice Geraldo Alckmin, seu correligionário, e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) como nomes que vão participar do processo e o MDB como um ator mais distante de uma eventual chapa à reeleição em 2026. À frente da pasta do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, França prepara mudanças direcionadas ao Microempreendedor Individual (MEI) e defende um refinanciamento de dívidas nos moldes do Desenrola.

O senhor mudou de ministério há dois meses para a entrada do Centrão. O arranjo é sólido?

Atrair Republicanos e PP era importante. Não quer dizer que os votos vão aumentar, mas se a pessoa quiser votar com a gente, ela hoje tem uma desculpa. O Lula está certo de tentar o máximo possível de partidos.

Como o senhor vê o papel de Geraldo Alckmin em 2026? É um nome forte para o governo de São Paulo?

Seria, claro. É o nome mais conhecido de São Paulo. Mas nós somos bastante amigos, e eu tenho a impressão que isso não passa pela cabeça dele.

Aliados debatem a possibilidade de o governador do Pará, Helder Barbalho, ser o vice de Lula na campanha à reeleição. Há demérito ao papel do Alckmin?

É uma disputa política normal. O Helder é um grande governador. Foi reeleito, é jovem e do MDB, um partido relevante. Mas temos que lembrar quem comanda efetivamente o MDB, que é São Paulo. O partido tem a prefeitura de São Paulo, que não é uma coisinha. Se tivesse um alinhamento do PT em São Paulo, com a prefeitura, eu veria lógica (de ter vice do MDB). Mas eu apostaria numa outra lógica. São sinais.

É um cenário discutido…

Houve a vitória do (Javier) Milei na Argentina, há a eleição americana ano que vem. Nunca se sabe. O Lula é um ninja. Um sujeito com a idade dele, as coisas que ele passou, essa disposição… Mas o Lula não é para sempre. Temos que ter alternativas, e ele tem que ajudar a encontrá-las. A relação dele com o Alckmin é quase perfeita. Parece a música do Fábio Júnior, metades da laranja. Eles realmente são muito diferentes, mas se dão superbem na convivência. O Alckmin não faz questão de falar, é muito discreto. Para quem é presidente, é bom, você não fica inseguro. O Alckmin é um vice perfeito. Agora, temos três anos, muita água para rolar.

Quais são as variáveis?

Se a economia continuar como neste ano… O primeiro ano do governo pode ser resumido com as vitórias do Fernando Haddad. Inflação para baixo, juro caindo, dólar equilibrado, Reforma Tributária e Desenrola. Eu sei que o Lula tem um carinho diferente pelo Haddad, porque no momento mais difícil da vida dele, na cadeia, o Haddad foi corajoso de ser candidato. Então, para frente, o Haddad é relevante (para ser uma liderança), mas também é compreensível que os governadores do Nordeste façam a conta deles.

Como o senhor vê o avanço do Congresso no controle do Orçamento?

Vai ter uma desaceleração. A primeira decisão do Supremo do orçamento secreto desacelerou um pouco. Mas é preciso que seja feito de maneira combinada, senão haverá problemas de não aprovação (de projetos).

Logo após a reforma ministerial, o senhor postou uma foto do governador Tarcísio de Freitas com Lula e parabenizou o presidente por ter o apoio do governador. Estava sendo irônico?

Era muito mais em relação ao Tarcísio, que vive pendurado numa situação delicada. Ele vai à posse do Milei na Argentina com o (Jair) Bolsonaro, porque tem que manter essa lealdade. Mas, se ele puder dar uma ciscadinha para o lado de cá, ele também dá. O Tarcísio não quer ter uma indisposição com o presidente, nem o presidente quer ter uma indisposição com o governador de São Paulo. Tarcísio está entrando nos espaços dos adversários, que é o que eu também gosto de fazer. Gritar Corinthians no meio da Gaviões da Fiel é fácil, todo mundo faz.

Como está a negociação para o Datena ser vice da Tabata Amaral (PSB) em São Paulo?

Ele me ligou há uma semana e disse que havia falado com a Tabata. Pela primeira vez, deu a entender que estava pensando em se filiar ao PSB. Em qualquer eleição, ele sempre fará um estrago nos adversários, porque não tem um voto específico. O contrato dele com a Band se encerra no início do ano que vem, e ele disse que estava pensando em fazer um ano sabático. Eu sei que ele gostaria mesmo de uma eleição para o Senado. Mas é um bom esquenta ser candidato agora, para testar.

Acha que Lula pode ajudar as duas candidaturas, do PSB e do Guilherme Boulos?

Não, ele tem compromisso com Boulos. Mas é uma eleição com dois turnos.

A federação PDT -PSB esfriou?

Não, eu voltei a falar isso ainda essa semana com o (Carlos) Lupi (presidente do PDT). É mais ou menos natural. Partidos do mesmo tamanho, com um perfil de posições ideológicas parecidos. A dúvida é se vamos fazer já ou se vamos fazer depois da eleição municipal.

Como está a montagem da sua pasta?

Claro que todo mundo gostaria que fosse no outro ministério. Cada vez que você monta um, dá trabalho. A aprovação de um nome para um conselho passa por 50 instâncias… Em Portos e Aeroportos, foram seis meses para colocar de pé. Tenho a impressão que o Lula pensa assim: “O Márcio tem experiência, então ele vai fazer o lugar ficar interessante”.

Já teve alguma audiência com o presidente Lula para falar só sobre temas da pasta?

Não. Ele me nomeou, dias depois foi fazer a cirurgia e voltou a despachar faz duas semanas.

Quais são as principais ideias para o ministério?

Lula percebeu que o terceiro mandato pode ser o governo para empreendedores. Vou sugerir ao presidente uma mudança, remodelando o formato de micro e pequena empresa.

Como?

As faixas do MEI, micro e Simples estão congeladas há dez anos. A inflação empurrou os empreendedores para o limite. A grande reivindicação é aumentar os limites (faixa de rendimento). É um problema, porque, quando aumenta, também deixa de arrecadar. Quem sabe, se fosse no formato de rampa, contentaria também a Fazenda. Haddad é simpático à tese da rampa.

Como seria essa classificação?

São empreendedores, com faixas de renda, sem denominações de micro ou pequenas empresas. Hoje, a faixa do MEI vai até R$ 81 mil. O que acontece na prática? O sujeito com R$ 79 mil, está em dezembro, pede ao contador para emitir uma nota de R$ 4 mil. O contador fala que não, porque ele será excluído do MEI. Mas não precisa ser assim. Ele pode continuar a ser empreendedor, mas em outra faixa. Porque no ano seguinte, ele pode não ter o mesmo faturamento e voltar para uma faixa anterior. A mesma coisa acontece com o Simples. Você emite nota acima e tem o pavor de mudar para o lucro presumido. Há um instante propício para mudar, que é a nova ordem da Reforma Tributária.

Há alguma outra prioridade?

Falei com Haddad sobre o Desenrola, que é para pessoa física. E o MEI? Qual é o interesse que eu tenho dessa pessoa continuar a ficar devendo? Ele concorda. Possivelmente, a gente faça um Desenrola para pessoa jurídica no início do ano que vem. Se abrir até R$ 20 mil do Desenrola, vai pegar todos os MEIs.

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