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quinta-feira 17 de outubro de 2024 às 09:59h

Entrevista: ‘A Igreja não pertence ao bolsonarismo, nem ao petismo’, diz deputado pastor que abençoou Lula em cerimônia

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Uma das lideranças da bancada evangélica, o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que participou de cerimônia na última terça no Palácio do Planalto com o presidente Lula, disse em entrevista a Bernardo Mello, do O Globo, que o PT foi “consumido por uma pauta identitária” e que precisaria “se reinventar” para reduzir o “abismo imenso com a maioria dos evangélicos”. Ele reconhece, porém, ter errado no passado ao associar a esquerda a pautas como a pedofilia, e critica o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo que chama de “arrogância” no trato às igrejas.

O senhor se dispôs a ser um interlocutor de Lula com o eleitorado evangélico?

Não, eu apenas quis mostrar que a igreja não pertence ao bolsonarismo, nem ao petismo, está acima disso, embora pareça desde 2018 que fomos arrebatados pela política. O fato de eu ter antagonismo político com o PT não muda o papel da igreja de orar pelas autoridades. Mas ficaria incoerente levantar uma bandeira pró-Lula.

Lula já teve excelente relação com as principais igrejas evangélicas em seus primeiros mandatos. O que mudou?

Lula e o PT foram consumidos por uma pauta identitária que é claramente oposta à nossa visão. Embora Lula diga que não defende essas pautas, a partir do momento em que permite que seus ministros defendam pautas como o aborto, isso cria um abismo imenso com a maioria dos evangélicos, que são conservadores. Um gesto como o de sancionar o Dia da Música Gospel não é suficiente.

Que tipo de gesto seria necessário?

Para haver uma aproximação entre Lula e a igreja, o presidente teria que reinventar a si mesmo e ao PT, e isso não vai acontecer. Mas esse abismo não me impede de orar. Jesus sempre abriu diálogo com quem a religião jamais conversaria: prostitutas, cobradores de impostos…

O senhor teme que sua foto ao lado de Lula lhe traga rejeição e afete sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja gestão o senhor apoiou?

Eu nunca fui do partido de Bolsonaro, meu voto não vem do “bolsominion”. Eu sou de uma igreja, o Ministério de Madureira (da Assembleia de Deus), que não se submete à política do momento, e que por isso consegue estar à frente de várias lutas dos evangélicos. E acho que a eleição deste ano deixou a lição de que é preciso haver mais humildade e diálogo com as lideranças evangélicas. A igreja evangélica não tem papa, ela é plural.

Bolsonaro falhou em entender isso nas eleições deste ano?

Acharam que Bolsonaro falar “vote em fulano” bastava. Isso é arrogância, a igreja evangélica não vai a reboque. O eleitor vota em quem faz políticas públicas que chegam até ele, e o evangélico não é diferente. No caso dos programas sociais do governo federal, os mais beneficiados são os evangélicos, temos maior penetração na base da pirâmide. Pelo mesmo raciocínio, se o (prefeito do Rio) Eduardo Paes faz uma boa gestão para os cariocas, isso também é bom aos evangélicos.

Em 2020, o senhor chegou a vincular Paes e a esquerda a um plano de “implementar pedofilia nas escolas”, o que é falso. Reconhece que errou?

Hoje faço uma autocrítica, sim, de que aquilo foi equivocado. Eu errei, naquele momento de paixões políticas, em ter falado sem nenhuma prova sobre um possível risco que nossas escolas corriam.

O senhor apoiou a reeleição de Paes neste ano. Também apoiará uma possível chapa dele ao governo do Rio em 2026, abrindo palanque para Lula?

A maioria dos evangélicos votou em Paes porque seu comportamento não é o de um político esquerdista, diferentemente do PT. Se Paes for candidato em 2026, estarei com ele, mas não com Lula.

E qual será seu papel numa eventual campanha de Paes?

Estou disponível para qualquer missão. Há mais de 20 anos a igreja consegue eleger um candidato ao Senado quando há duas vagas. Crivella se elegeu duas vezes (2002 e 2010), e Arolde de Oliveira, em 2018. Se houver um entendimento de Paes e do meu bispo Abner (Ferreira, do Ministério Madureira) de que sou um nome bem posicionado, poderíamos nos colocar na disputa.

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