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Elmano de Freitas (PT-CE) em live nas redes sociais — Foto: Divulgação
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domingo 9 de junho de 2024 às 13:39h

Entrevista: ‘A esquerda tem que atualizar o discurso e propor ação dura contra o crime’, diz governador do Ceará

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Representante da nova geração de governadores petistas no Nordeste, o cearense Elmano de Freitas avalia que a esquerda não pode mais achar que a injustiça social é o único motivo da violência urbana. É preciso, diz, que as organizações criminosas sejam tratadas como “inimigas do povo brasileiro”.

Favorável à criação de um Ministério da Segurança Pública, ideia rechaçada no início do governo Lula, o governador defende mais policiamento nas ruas para reagir à escalada recente de homicídios no estado, e culpa o cenário de disputas entre facções criminosas. Na semana passada, o ex-secretário de Segurança do Rio Roberto Sá assumiu a pasta correlata no Ceará.

Elmano chama ainda de “atabalhoada” e “descabida” a postura do ex-governador e presidenciável Ciro Gomes, que levou a um rompimento entre PT e PDT no estado.

A segurança pública é sempre citada como uma dificuldade da esquerda. O senhor acha que esse campo ideológico ficou para trás nesse debate?

Nenhuma força política no país apresentou até agora uma proposta consistente. Mas a esquerda tem que se atualizar, porque por muito tempo enfatizamos que a injustiça social, a desigualdade e a pobreza são causas importantes da violência nos centros urbanos, e ainda acredito nisso. Só que não é a única causa. Se olharmos a nossa experiência no primeiro e segundo governos do presidente Lula, a vida do povo brasileiro melhorou muito, e nesse período a violência também aumentou. A vasta maioria de homicídios é por disputa de território de organizações criminosas.

Não existir um ministério específico para segurança pública atrapalha?

Eu sou favorável a ter o Ministério da Segurança Pública. Ajudaria a dar o foco nessa integração, com uma política de segurança que articule todos os entes federativos e Poderes. É importante trazer junto Judiciário e Ministério Público. A polícia passa anos para prender um cara muito perigoso, e às vezes essa pessoa é solta por decisão judicial, talvez porque o inquérito teve uma falha processual. Isso desestimula. Hoje, nosso grau de integração está deixando a desejar.

A esquerda deixou colar em si mesma o rótulo de que “defende bandido”?

A diferença que nós temos com a extrema-direita é que eles defendem uma política de segurança sem lei, em que pode tudo: torturar, matar, descer a um nível que o Estado civilizado não pode permitir. Mas a esquerda tem que atualizar o discurso e propor uma ação muito dura contra o crime. É defender claramente que as organizações criminosas são inimigas do povo no seu dia a dia, e que querem abalar nossas instituições. Precisamos de um projeto com oportunidades para a população, mas, se a pessoa resolver ir para o mundo do crime, vamos tratá-la como inimiga do povo e da democracia.

Roberto Sá, seu novo secretário de Segurança, deixou o cargo no Rio sob intervenção federal em 2018, após o esgotamento de programas como a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O que ele pode fazer no Ceará?

Precisamos de uma presença mais forte de polícia na rua para enfrentar a sensação de insegurança, e o Roberto tem essa experiência. Ele é também delegado da Polícia Federal, e sua escolha passou por uma conversa minha com o diretor-geral Andrei (Rodrigues, da PF), dentro dessa ideia de integração. No Rio, quando ele foi secretário, havia calamidade financeira, salários não pagos, falta de viatura. O Ceará tem uma realidade diferente hoje, com investimento em tecnologia e contratação de profissionais de segurança.

PT e PDT romperam no Ceará. Com Ciro Gomes não tem mais diálogo?

Não posso sentar à mesa com alguém que faz uma acusação genérica de que meu governo tem corrupção e, quando peço judicialmente para apresentar um fato, a pessoa se esconde. Apenas porque quer fazer denúncia barata, como também já fez em relação ao presidente Lula. Um requisito básico é ter respeito. Infelizmente, a mágoa de ter sido derrotado da forma que foi na eleição de 2022, inclusive na sua cidade, em Sobral (CE), gerou no coração do Ciro uma situação em que não consegue colaborar com nada. O povo já deu a resposta nas urnas a uma linha política absolutamente atabalhoada, descabida e marcada por muito ódio.

Já o irmão dele, o senador Cid Gomes (PSB), é aliado do seu pré-candidato à prefeitura de Fortaleza, o petista Evandro Leitão. É uma relação similar à que teve com o ex-governador, hoje ministro da Educação, Camilo Santana. O PT do Ceará é tutelado pelo Cid?

Fui candidato para continuar o projeto que o Cid começou: escola de tempo integral, interiorização da saúde pública, ações concretas de emprego e renda. Estamos num processo de continuidade das políticas públicas, o que é uma das grandes conquistas do Ceará. O Estado brasileiro tem a meta de alfabetizar 80% das crianças em 2030; o Ceará alcançou isso em 2023 e hoje tem 85%.

Ex-governadores do Nordeste que foram vitrines do modelo de gestão do PT , como Rui Costa (Casa Civil), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e o próprio Camilo, enfrentam agora desgastes à frente de ministérios em Brasília. Como avalia isso?

Nos estados em que o PT governa, sempre trabalhamos para garantir equilíbrio fiscal, porque sabemos que isso é necessário para a população receber política pública. Essa é uma diferença hoje no caso da União, que busca as condições para recuperar esse equilíbrio. A segunda dificuldade é que, enquanto no Ceará tenho 35 dos 47 deputados na base, o presidente Lula não tem essa condição no Congresso. Mesmo assim, Lula conseguiu aprovar reforma tributária, Pé de Meia, Bolsa Família reforçado, volta do Minha Casa Minha Vida.

No futuro do PT sem Lula, espera que o protagonismo seja dos governadores do Nordeste?

Protagonismo se decide na atividade política real, não é uma definição de gabinete ou de discursos. Eu acho, isso, sim, que temos de ter uma atenção à renovação de quadros no partido. Aqui no Ceará estamos vivenciando isso, dando o passo para novas lideranças se afirmarem, além de discutir uma atualização programática em áreas como a segurança.

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