Com a proximidade do fim do governo de Jair Bolsonaro, ministros já começaram a planejar o futuro. Os destinos traçados incluem a continuidade na política, seja em governos estaduais ou no Congresso, e a ida para a iniciativa privada. As informações são de Daniel Gullino e Jussara Soares, do O Globo.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, deve puxar a fila e deixar seu posto ainda em dezembro para retornar à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, cargo que ocupava até assumir a pasta, em abril de 2021. O governador do DF, Ibaneis Rocha, afirmou ao GLOBO que a volta de Torres já está acertada e que pode ocorrer ainda neste ano.
Outros membros do governo podem ir trabalhar com seu ex-colega de Ministério Tarcísio de Freitas, eleito governador de São Paulo. Os titulares da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, e da Advocacia-Geral da União (AGU), Bruno Bianco, foram convidados para integrar a gestão paulista. Os dois, no entanto, ainda avaliam o convite, porque também receberam propostas da iniciativa privada.
Tarcísio também chegou a convidar o ministro da Economia, Paulo Guedes, para a Secretaria Estadual da Fazenda, mas ele declinou. Por outro lado, o presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, aceitou convite para comandar a pasta de Gestão e Governo Digital.
Já o ministro das Comunicações, Fábio Faria, decidiu não concorrer a nenhum cargo depois de ser eleito deputado federal quatro vezes. Ele vai iniciar carreira na iniciativa privada. Uma das hipóteses é que ele passe a trabalhar com o bilionário Elon Musk, dono de várias empresas, entre elas a Starlink, de satélites.
Musk tem o projeto de instalar internet de alta velocidade por satélites em escolas da Amazônia. Faria, no cargo de ministro, estreitou relação com o empresário, com quem teve reuniões no Brasil e nos Estados Unidos.
De volta ao passado
Alguns membros do governo devem retornar às suas antigas atividades. Único ministro com mandato parlamentar, o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), vai voltar ao Senado logo em janeiro e promete fazer oposição ao governo Lula. Já no início do ano, Nogueira deve ter um papel importante na eleição da Mesa Diretora do Senado, que ocorre em fevereiro. O PL espera contar com o apoio do PP, do qual Ciro é presidente licenciado, para a candidatura do senador eleito Rogério Marinho (RN) contra o atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Célio Faria (Secretaria de Governo), por sua vez, ainda não tem destino definido, mas tende a voltar ao seu cargo de economista da Marinha. Joaquim Leite (Meio Ambiente), ex-conselheiro da Sociedade Rural Brasileira por 23 anos, consultor e ex-diretor de uma empresa farmacêutica, deve ir novamente para o setor privado.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que é cardiologista, também deve retomar suas atividades, mas, antes, irá tirar um período de férias. Queiroga diz não ter interesse em iniciar uma carreira política. Já Marcelo Sampaio (Infraestrutura) analisa convite da iniciativa privada, mas é analista de infraestrutura concursado.
Tradicionalmente, ex-chanceleres são convidados a assumir cargos no exterior, então há expectativa sobre o destino de Carlos França. Anteontem, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou Mauro Vieira para o Ministério das Relações Exteriores. Ele já ocupou o cargo no governo Dilma Rousseff e, na gestão Bolsonaro, foi designado para ser embaixador na Croácia, cargo considerado de pouco prestígio. Por isso, há a expectativa se haverá uma “retribuição” contra França.
Conflito de interesses
Alguns ministros também se anteciparam e realizaram uma etapa burocrática: a consulta à Comissão de Ética Pública (CEP) sobre eventual conflito de interesse após deixar o cargo. A legislação determina que todos os ministros devem realizar essa medida quando desejarem ingressar na iniciativa privada.
Quatro ministros já realizaram a consulta, e a CEP considerou que há conflito para todos eles: Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), Victor Godoy (Educação), Adolfo Sachsida (Minas e Energia) e Daniel Ferreira (Desenvolvimento Regional).
Quando a CEP considera que há um possível conflito, ela determina a imposição de uma quarentena de seis meses, período no qual o antigo servidor continua recebendo uma remuneração. O objetivo é evitar que os ex-membros do governo utilizem informações privilegiadas na nova atividade.
Ao fim do governo de Michel Temer, ao menos oito ministros tiveram que cumprir quarentena. Entre eles, Ilan Goldfajn (Banco Central), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Eliseu Padilha (Casa Civil).