As recentes aparições a primeira-dama Michelle Bolsonaro — que entrou definitivamente na campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro — movimentou conforme a coluna Sonar, do O Globo, os perfis nas redes sociais de influenciadores e líderes evangélicos. As postagens sobre Michelle no perfil do pastor André Valadão gerou quase 600 mil interações no Instagram, e no do pastor Silas Malafaia, cem mil interações, com destaque para a presença dela na Marcha para Jesus, no último dia 13, no Rio, e a presença no culto pelos 50 anos do ministério do pastor Marcio Valadão, fundador da igreja Lagoinha, em Belo Horizonte, no dia 7.
— A partir de julho, ela aparece com muita força por causa da convenção do PL. Teve muita repercussão. E não são necessariamente os conteúdos dela, até porque ela só tem uma rede social. As páginas do segmento evangélico de direita repercutem, fazem vídeos, engajam e viralizam os temas que ela tem abordado nesses eventos — explica Andréa Laís Barros Santos, doutoranda em Ciências Sociais pelo PPGCS da UFBA e assessora de Pesquisa na Casa Galileia.
No culto de celebração na Lagoinha, por exemplo, a declaração feita por Michelle Bolsonaro de que o Palácio do Planalto era consagrado a demônios e agora é consagrado ao Senhor Jesus teve grande repercussão. Os conteúdos evangélicos tomaram a fala da primeira-dama como uma confirmação de que estão travando uma batalha espiritual que precede a disputa política, segundo a pesquisadora.
No meio evangélico, cresce a percepção de que Michelle não tem medo de se posicionar em relação à fé em Deus. A grande repercussão dos stories que ela compartilhou em seu instagram — em que Lula está tomando um banho de pipoca num ritual de religião de matriz africana e diz que “isso pode, né” —, corrobora com o discurso da legitimidade da fé evangélica cristã, pelo direito de se expressar sem censura. Após o post, ela foi acusada de intolerância religiosa pela esquerda e entidades religiosas.
A cientista social Andréa Laís Barros Santos diz que o crescimento de Michelle nesse recorte nas redes é algo inédito. Normalmente, a grande repercussão entre os perfis evangélicos são de conteúdo próprio.
— Ela está se tornando a grande porta-voz oficial do governo. Está criando um canal direto com evangélicos e o grande público que também tem valores mais conservadores — analisa, destacando que o discurso de Michelle tem encantado figuras evangélicas como Silas Malafaia, reconhecidamente dono de uma oratória mais agressiva.
No último sábado, Michelle foi aclamada pela multidão que acompanhou a Marcha para Jesus. Ela fez coreografia, mandou beijos e interagiu com o público, que a aplaudiu intensamente. E, principalmente, fez aceno aos evangélicos, segmento que apoia totalmente Bolsonaro, de que política e religião podem se misturar. “O Estado é laico, mas eu sou cristã. E vamos levar, sim, o nome de Deus para o governo”.
A primeira-dama tem angariado likes do público evangélico também fora do ambiente da religião. As postagens do Dia dos Pais, com a família Bolsonaro reunida, e do retorno das visitas cívicas de escolas públicas do Distrito Federal para conhecer o Palácio do Planalto e da Alvorada também tiveram grande interações desse segmento, de acordo com monitoramento da Casa Galileia.
Ainda é cedo para afirmar se a primeira-dama conseguirá furar a bolha evangélica de direita em grandes proporções. As análises feitas por Andrea se resumem a esses perfis. Porém, ela aponta alguns detalhes do discurso que mostram a intenção de atingir outros públicos cristãos.
— Ela se comunica com mais pessoas, acaba tendo uma linguagem que fala com católicos, com simpatizantes que não frequentam a igreja, mas gostam dos ideais conservadores. Ela falou em “rezar”, “boas energias” e termos que não fazem parte do meio evangélico. Não é um erro dela, é uma pretensão de falar com mais gente — explica.