Segundo o Ministério Público, o esquema montado na prefeitura do Rio conta com um velho personagem envolvido em denúncias de esquema de corrupção segundo o jornal Extra: o empresário Arthur Soares Filho, o Rei Arthur. Além de denuncia-lo, o Ministério Público reservou um capítulo na denúncia apresentada apenas para o que chama de “Núcleo Empresarial”, que teria como líder o próprio Rei Arthur.
A participação do empresário no esquema é revelada na delação premiada de Ricardo Rodrigues. Ele conta que o Rei Arthur afirmou antes de Crivella ser eleito, que aquela seria uma “grande oportunidade de participar de um governo”. Atualmente o empresário está finalizando os termos de sua delação premiada, que deve ser assinada em breve.
O Ministério Público narra na denúncia que houve uma reunião na casa de Arthur Soares com a participação de Marcello Faulhaber e Rafael Alves — que teria afirmado ser a pessoa que cuidaria, durante o futuro governo de todos os acordos, negócios e liquidações financeiras. Para isso, não seria nomeado para poder “operar e circular com maior facilidade”.
Na reunião, segundo os investigadores, o grupo teria concordado com o pagamento de R$ 1 milhão para a campanha de Crivella. Em uma outra reunião, também na casa de Soares e com a participação de Eduardo Lopes, o suplente de Crivella e Rafael Alves teriam dito que Crivella ficou “muito feliz com a contribuição do grupo e que inclusive acataria eventuais sugestões de nomes para cargos de segundo e terceiro escalão e que os compromissos pedidos em contrapartida seriam todos entregues”.
Selfie para Crivella
Para mostrar a proximidade entre o grupo ligado à Crivella ao Rei Arthur, o MP apresentou uma troca de mensagens entre Faulhaber e Alves, em que Rafael diz que “Ele é o Rei. Eu vou ser o Príncipe. E eu vou voltar de Miami (onde morava Rei Arthur) e isso vai fortalecer eu e você cada dia mais”. Logo depois eles comentam que irão avisar ao prefeito da ida aos Estados Unidos.
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No dia seguinte, Rafael Alves mandou uma selfie de dentro de um avião a Marcelo Crivella. O prefeito respondeu com uma mensagem:
“Vai com Deus amigo!”, escreveu Crivella.
Argumento usado na Lava Jato
Um recurso jurídico e um personagem conhecido no Rio criam paralelos entre o escândalo que levou o prefeito Marcelo Crivella à cadeia, pouco mais de uma semana antes de passar o cargo ao prefeito eleito Eduardo Paes. Na justificativa para a prisão, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita usa argumento do Ministério Público de “domínio do fato”, usada fartamente durante o julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.
Ao classificar o prefeito de comandante de uma “bem estruturada organização criminosa, que cometeu reiterados crimes de corrupção ativa e passiva “, o argumento dos promotores é de que só pode interessar como autor quem tenha o domínio funcional do fato. O domínio não se subordina à execução pessoal da conduta , mas é uma decisão aritmética de um domínio Integral do fato, do qual cada co-autor focará em certa fração”.
Foi o Rei Arthur quem teria apresentado Rafael Alves a Crivella. A investigação indica que, já na campanha de 2016, eram prometidas a futuros potenciais fornecedores contrapartidas e vantagens em procedimentos concorrenciais caso o então candidato fosse eleito. Amigo de Cabral e Pezão, Arthur Soares foi preso em outubro de 2019 sob acusação de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa. Era o maior fornecedor do estado nos anos Cabral e Pezão.
Lavagem de dinheiro
Na denúncia, o Ministério Público afirma também que o esquema contou com a ajuda da Artex Produções e Propaganda para lavar dinheiro do esquema de corrupção. Em 2016, a Artex recebeu R$ 340 mil para divulgar a inauguração de uma franquia do restaurante Esplanada Grill, na Barra da Tijuca, sendo que a empresa foi indicada pelo empresário Rafael Alves. Um dos sócios do restaurante era a KB Participações, que tem o Rei Arthur entre os sócios.
A acusação toma como base o depoimento de um colaborador das investigações: Ricardo Rodrigues que era sócio do ”Rei Arthur” no empreendimento. O MP descobriu também que quando fechou com a Artex em outubro de 2019 , o Esplanada Grill já havia pago a outra assessoria de imprensa por serviços de divulgação do restaurante, que na verdade ocorreu em setembro.
”Nesse sentido, Marcelo Crivella concorreu eficazmente para a consumação dos crimes de lavagem de capitais acima descritos, pois na qualidade de líder da organização criminosa e chefe do poder executivo municipal, valendo-se de interpostas pessoas, quais sejam, os seus operadores financeiros Rafael Alves, Marcelo Faylhaver e Eduardo Soares Lopes a quem tinha indevidamente delegado parcela de seus amplos poderes no âmbito da administração municipal, disponibilizou os mecanismos para a consumação dos crimes anteriores, tendo prévia ciência e anuído com a necessidade de ocultar e dissimular a origem do proveito criminoso”, diz um trecho da representação.
O Esplanada Grill da Barra encerrou as atividades em março deste ano. Por meio de nota, o grupo que toca o Esplanada informou na época que “a licença de uso e exploração da marca foi descontinuada por quebra de cláusula contratual”.
O que dizem os acusados
Procurada, a defesa de Marcelo Crivella não respondeu até o fechamento da reportagem, mas o prefeito já afirmou que foi preso ‘por perseguição política’ e nega todas as acusçãoes. A defesa de Marcelo Faulhaber diz que vai buscar na Justiça que a denúncia não seja aceita contra ele e que o marqueteiro “não tem qualquer relação com os crimes imputados ao Prefeito Crivella e ao QG da Propina.” Os advogados afirmam que a denúncia em relação a Marcello “se restringe a um único fato de ter apresentado Arthur Soares a Rafael Alves”. A defesa vai buscar na Justiça
“E o próprio Marcello o relatou ao MP quando questionado. Posteriormente, juntou comprovante que pagou sua própria passagem, hotel e que não recebeu qualquer vantagem, nem participou dos atos de arrecadação de campanha. Não é imputado a Marcello nenhum envolvimento de atos durante o governo de Crivella ou de ter participado dos fatos imputados a Crivella e Rafael Alves”, completa a nota.
A defesa de Rafael Alves também não respondeu os questionamentos. O GLOBO não conseguiu contato com os advogados de Arthur Soares e de Eduardo Lopes.