Um dos assuntos mais relevantes para a economia (e menos compreendidos pelo investidor) é o conceito da curva de juros.
Apesar do termo assustador, conforme Cláudio Gradilone, na IstoÉ, é um princípio bastante simples, e um indicador preciso das expectativas dessa entidade chamada mercado, que nada mais é do que uma multidão de pessoas e um grupo um pouco menor de investidores profissionais tentando ganhar dinheiro com os movimentos de preços. Vamos explicar esse princípio de maneira didática.
Começamos com um exemplo simples. Suponha que você realize uma tarefa por R$ 1.000. O que é melhor em termos financeiros: receber esses R$ 1.000 no momento da conclusão da tarefa ou receber R$ 1.000 daqui a um ano?
É intuitivo que receber os R$ 1.000 no momento da conclusão da tarefa é melhor. Você poderá gastar o dinheiro antes. E mesmo que não tenha necessidade urgente de gastar esse dinheiro, você poderá investir os R$ 1.000 para ganhar juros ou, na hipótese mais conservadora, defender seu dinheiro da inflação.
Então, está claro que receber R$ 1.000 daqui a um ano é pior do que receber R$ 1.000 agora. Quanto pior? Aí entramos na história da curva de juros.
Vamos supor que você tenha realizado uma tarefa em março de 2022 sabendo que o pagamento de R$ 1.000 seria realizado em março de 2023. Para não perder muito, você propõe a quem te contratou pagar os R$ 1.000 mais juros. A remuneração desse dinheiro vai tornar indiferente receber o dinheiro agora ou daqui a um ano, pelo menos em termos monetários.
Quais juros? Para facilitar as coisas, ambos concordam que será a taxa referencial de juros Selic. Que, naquele momento, está em 11,75% ao ano. Ou seja, em março de 2023 você vai receber R$ 1.117,50.
Se os juros fossem sempre iguais ao longo do tempo, esse raciocínio poderia ser aplicado a qualquer caso de pagamentos posteriores. Porém, isso não é o que ocorre na prática. No dia a dia da economia, a alteração das expectativas de inflação e a atuação do Banco Central fazem os juros oscilar bastante. No caso brasileiro, entre março de 2021 e março de 2022, a taxa Selic subiu de 2% ao ano para 11,75%, e deve subir mais um pouco ao longo do primeiro semestre.
Depois dessa longa explicação técnica, vamos olhar o que está ocorrendo no mercado de juros americano. Lá, como aqui, há títulos públicos de vários vencimentos. Os mais negociados são os títulos com prazos de dois, cinco e dez anos.
Na manhã desta terça-feira (5), os títulos de dois anos estavam sendo negociados a 2,46% ao ano. Os de cinco anos eram negociados a 2,60% ao ano. Isso faz sentido: como cinco anos é um prazo maior que dois anos, é razoável esperar que a remuneração seja maior. Porém, os títulos de dez anos estavam sendo negociados a 2,45% ao ano. Abaixo dos de cinco anos e levemente abaixo dos de dois anos. O que, em termos teóricos, é um absurdo.
Porém, apesar de parecer contraditório, esse fenômeno tem uma explicação. As expectativas de prazo mais longo são de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, reduza os juros no futuro, pois os prognósticos para a economia não são bons. Se isso vai ocorrer ou não, é impossível saber agora. O que o movimento dos juros está indicando – e esse fenômeno já vem ocorrendo há algumas semanas – é que a expectativa dos agentes de mercado é de economia menos aquecida e juros mais baixos no futuro.