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quarta-feira 6 de maio de 2020 às 12:17h

Entenda o interesse de Bolsonaro na troca do chefe da PF no Rio

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Na manhã desta última terça-feira (5), em rápida declaração em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mandou repórteres calarem a boca quando foi questionado sobre as recentes mudanças na Polícia Federal.

Bolsonaro ainda atacou o jornal Folha de S.Paulo, chamando o jornal de “canalha”, “patife” e “mentiroso”.

O presidente mostrou uma imagem que reproduzia a manchete da edição impressa da Folha de S.Paulo desta terça-feira e, referindo-se à manchete “Novo diretor da PF assume e acata pedido de Bolsonaro”, disse que não interferiu na corporação.

Nomeado um dia antes, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Souza, decidiu trocar a chefia da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, foco de interesse da família de Jair Bolsonaro. O novo superintendente do Rio ainda não foi definido.

Carlos Henrique Oliveira, atual chefe da PF no estado, foi convidado para ser o diretor-executivo, número dois na hierarquia do órgão. A ação de Rolando, o novo chefe da PF, gerou estranhamento dentro da corporação, especificamente por três motivos:

1) a mudança no Rio era um pedido de Bolsonaro, segundo Sergio Moro;

2) o novo diretor-geral e Oliveira, atual chefe da PF no Rio, se conhecem há algum tempo, mas não têm relação de amizade ou proximidade;

3) Oliveira está há menos de seis meses como chefe no Rio de Janeiro, o que é considerado pouco tempo para uma troca.

“Que imprensa canalha a Folha de S.Paulo. Canalha é elogio para a Folha de S.Paulo. O atual superintendente do Rio de Janeiro, que o [ex-ministro Sergio] Moro disse que eu quero trocar por questões familiares.”

“Não tem nenhum parente meu investigado pela Polícia Federal, nem eu nem meus filhos, zero. Uma mentira que a imprensa replica o tempo todo, dizer que meus filhos querem trocar o superintendente [da PF no Rio]”, completou o presidente neste terça-feira.

Como mostrou reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a PF no Rio tem uma série de apurações e interesses que esbarram nele e em sua família.

A preocupação com investigações, desconhecimento sobre processos, síndrome de perseguição, inimigos políticos e fake news são alguns dos principais pontos elencados por pessoas ouvidas pela reportagem para tentar desvendar o que há no Rio.

Capitão reformado do Exército e defensor de pautas das forças de segurança desde o início da vida política, Bolsonaro sempre manteve contato com agentes e delegados das polícias. O filho Eduardo virou escrivão da PF, o que também estreitou laços. No Rio, onde a família mora, a aproximação foi ainda maior.

A candidatura a presidente levou ao auge das relações principalmente com integrantes da Polícia Federal, que faziam sua segurança diária. Segundo relatos, bastidores da Superintendência da PF no Rio, intrigas entre grupos e outras ocorrências passaram a chegar rapidamente a Bolsonaro desde a campanha.

Desde o episódio envolvendo um porteiro do seu condomínio na Barra da Tijuca, na investigação do assassinato de Mairelle Franco (PSOL), Bolsonaro passou a se preocupar ainda mais com o Rio.

O presidente chegou a insinuar que o ocorrido era parte de um plano do governador Wilson Witzel (PSC-RJ). Antes aliados, os dois viraram inimigos políticos desde o final do ano passado.

A partir disso, nos bastidores, Bolsonaro reclamava de que o adversário não virava alvo de investigações. Seus contatos na PF também inflamavam a irritação, dizendo que tipo de apuração poderia vir a ser feita para atender os anseios e espalhavam que os trabalhos não andavam como deveriam.

O caso da “rachadinha” do então gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio não está com a PF, mas o órgão tocava na época investigações envolvendo personagens em comum. Aliados do presidente, no entanto, divulgam por diversas vezes que a polícia possui uma série de informações deste assunto, guardadas em sigilo.

Flávio é investigado desde janeiro de 2018 pelo Ministério Público sob a suspeita de recolher parte do salário de seus empregados na Assembleia de 2007 a 2018. Os crimes em apuração são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.

No pronunciamento de sua despedida do governo, Moro disse que ouviu “expressamente” do presidente que ele queria não só a troca do diretor-geral como também novamente a do superintendente do Rio.

Moro afirmou que os pedidos não tinham uma razão ou causas aceitáveis. Segundo relatos, o ex-ministro detalhou os episódios em seu depoimento no inquérito que está com o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal.

O ex-ministro citou também que o presidente havia expressado preocupação com inquéritos que estão no STF. A Folha de S.Paulo mostrou que a Polícia Federal vê o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.

Respeitado entre os pares, Oliveira conhece há anos o novo diretor-geral, mas não tem relação de amizade ou proximidade com ele, o que aumentou a desconfiança em alguns setores da PF.

Antes de assumir a chefia Rio, em dezembro do ano passado, ele ficou menos de um ano no comando da superintendência de Pernambuco. E, agora, ainda não completou seis meses na nova função.

Alexandre Ramagem, primeira opção de Bolsonaro mas barrado pelo Supremo, também tinha decidido fazer a troca no estado, como um dos seus primeiros atos, nas poucas horas que ficou como diretor-geral, antes de ter sua nomeação suspensa pelo Supremo Tribunal Federal.

INVESTIGAÇÕES DA PF QUE ENVOLVEM ENTORNO DE BOLSONARO

FAKE NEWS

Em março de 2019, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, anunciou a abertura de um inquérito para investigar a existência de fake news que atingem membros da corte.

Paralelamente, em setembro do mesmo ano, a CPMI das Fake News foi instaurada no Congresso.

Desde então, a família Bolsonaro tem se colocado contrária ao funcionamento da comissão, que investiga perfis que fazem parte do arco de apoio do presidente da República.

No final de abril, a Folha de S.Paulo revelou que a PF identificou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.

Dentro da Polícia Federal, não há dúvidas de que Bolsonaro quis exonerar o ex-diretor da PF Maurício Valeixo, homem de confiança de Sergio Moro, porque tinha ciência de que a corporação havia chegado ao seu filho.

ATOS PRÓ-GOLPE

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a abertura de inquérito para investigar os atos do dia 19 de março.

O pedido foi feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. O objetivo é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional por “atos contra o regime da democracia brasileira”.

A investigação mira empresários e ao menos dois deputados federais bolsonaristas, Daniel da Silveira (PSL-RJ) e Cabo Junio Amaral (PSL-MG), por, possivelmente, terem organizado e financiado os eventos.

Na mira da PF também estão youtubers bolsonaristas que chamaram público para os atos. Bolsonaro, que participou dos protestos em Brasília, não será investigado, segundo interlocutores do procurador-geral.

Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizá-los, ele pode vir a ser alvo.

CASO QUEIROZ

Em agosto de 2019, Bolsonaro anunciou que trocaria o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, por questões de gestão e produtividade.

A corporação passava por momento delicado, após vir à tona o caso Fabrício Queiroz, policial aposentado e ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia do Rio.

Ele é o pivô da investigação do Ministério Público que atingiu o primogênito do presidente. Relatório federal apontou a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.

A suspeita é de que o dinheiro seja de um esquema de “rachadinha” -quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários aos deputados.

Nomeado nesta segunda-feira (4) pelo presidente Bolsonaro, o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, decidiu trocar a chefia da corporação no Rio.

CASO MARIELLE

O nome de Bolsonaro foi colocado nas investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) a partir do depoimento de um porteiro do condomínio onde vivia o presidente antes de assumir o Palácio do Planalto, em janeiro de 2019.

A citação veio à tona em outubro do ano passado, quando o Jornal Nacional, da TV Globo, veiculou reportagem que fez menção ao nome do presidente na investigação do assassinato, ocorrido em março de 2018.

Segundo o Jornal Nacional revelou à época, o depoimento de um porteiro do condomínio onde Bolsonaro tem casa na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, indicaria que um dos acusados pelo assassinato teria chegado ao local e dito que iria à casa do então deputado federal. Isso teria acontecido horas antes da morte de Marielle.

O Ministério Público, porém, disse em seguida que o depoimento do porteiro não condizia com as provas técnicas obtidas e que ele pode ter mentido. Além disso, no dia da morte de Marielle, Bolsonaro estava em Brasília. Dias depois, o porteiro afirmou à Polícia Federal ter cometido um erro ao mencionar o presidente.

Já em fevereiro deste ano foi concluído um laudo do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), da Polícia Civil do Rio, realizado em cinco HDs apreendidos no condomínio, onde moravam tanto Bolsonaro como o policial militar aposentado Ronnie Lessa, um dos acusados e preso pelo homicídio.

O laudo aponta que o porteiro que interfonou para Lessa não é o mesmo que prestou depoimento apontando o envolvimento de Bolsonaro.

FANTASMAS DE CARLOS BOLSONARO

O Ministério Público do Rio de Janeiro abriu em setembro do ano passado dois procedimentos para investigar o vereador Carlos Bolsonaro (PSC) pela suspeita do uso de funcionários fantasmas em seu gabinete e da prática de “rachadinha” -quando o servidor devolve parte do salário para o parlamentar.A informação sobre a abertura dos procedimentos foi divulgada pela revista Época.

Da mesma maneira que ocorre com outros casos, aliados de Bolsonaro também por vezes afirmam que a investigação está com a Polícia Federal.

GOVERNO WITZEL

No episódio envolvendo o porteiro do caso Marielle, o presidente chegou a insinuar que o ocorrido era parte de um plano do governador Wilson Witzel (PSC-RJ). Antes aliados, os dois viraram inimigos políticos desde o final do ano passado.

A partir disso, nos bastidores, Bolsonaro reclamava de que o adversário não virava alvo de investigações.Seus contatos na PF também inflamavam a irritação, dizendo que tipo de apuração poderia vir a ser feita para atender os anseios do presidente e espalhavam que os trabalhos não andavam como deveriam.

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