Novidade no front eleitoral, o uso de Inteligência Artificial generativa para criar conteúdo de campanhas é visto por marqueteiros com atuação no Brasil e no exterior como recurso capaz de despertar a curiosidade do eleitor, mas também como ferramenta com potencial para amplificar a desinformação.
Mesmo com o uso de software específico, é difícil distinguir imagens, vídeos e sons inteiramente gerados por IA de material verdadeiro. Abaixo, Caio Sartori e Rodrigo Carro, do jornal Valor esclarece algumas dúvidas sobre o tema:
O que é inteligência artificial generativa?
Trata-se de um tipo de inteligência artificial que pode criar conteúdo — imagens, vídeos, texto escrito e música, por exemplo — a partir de comandos feitos pelo usuário em linguagem comum. Para que isso aconteça, a ferramenta passa por sessões de “treinamento” com a análise de vastos conjuntos de dados pré-existentes. O software extrai padrões a partir dessas informações.
Esse processo de aprendizado permite, por exemplo, ao assistente virtual escrever um poema a partir de características de outros textos do gênero analisados durante a fase de treinamento. O aprendizado se dá por meio de uma rede neural capaz de interpretar e adquirir o conhecimento coletado em vídeos, sites e publicações, cujo conteúdo é processado em tempo real. Os neurônios que compõem essa rede são simples fórmulas matemáticas cujo resultado é repassado para um ou mais neurônios.
Como ela pode ser utilizada nas eleições?
Entre outras aplicações é possível utilizar a IA na produção do chamado “conteúdo sintético”, composto por sons e imagens gerados por inteligência artificial; na identificação de padrões em pesquisas de opinião; e, também, na produção e na distribuição de mensagens microssegmentadas. Com o uso da tecnologia, é possível construir em larga escala mensagens extremamente personalizadas que levem em consideração nuances mínimas do perfil do eleitor, como sua posição sobre o aborto ou o livre porte de armas, por exemplo.
Onde a IA já foi empregada em campanhas eleitorais?
As primeiras peças publicitárias oficiais foram veiculadas nas eleições presidenciais da Argentina, mas existe a expectativa de uso de IA generativa nas eleições presidenciais deste ano no México e na República Dominicana. Estão previstas para 2024 eleições em mais de 60 países, incluindo a escolha do presidente dos Estados Unidos, dos membros do Parlamento Europeu, e dos prefeitos e vereadores no Brasil.
Já existe regulamentação para o uso de IA em disputas eleitorais no Brasil?
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresentou este mês uma minuta de resolução sobre propaganda eleitoral que regulamenta a utilização da inteligência artificial em campanhas oficiais. O texto ainda vai ser debatido em audiência pública agendada para 25 de janeiro, com a participação da sociedade. Posteriormente, a proposta será submetida ao plenário do TSE para aprovação.
Quais os riscos embutidos na utilização da IA em campanhas eleitorais?
Especialistas se preocupam com a disseminação de conteúdos enganosos produzidos por inteligência artificial. A tecnologia se aprimora a cada dia, e diferenciar um vídeo verdadeiro de um feito por IA passa a ser mais difícil. No caso de áudios, as nuances são ainda mais turvas. Hoje, é simples criar um vídeo ou um áudio em que determinado candidato apareça dizendo algo que ele não disse de fato. Pesquisadores temem que, com a facilidade de acesso às ferramentas de produção desse tipo de conteúdo, até mesmo campanhas de municípios de pequeno porte possam recorrer ao artifício. Algumas eleições recentes, como a da Argentina no ano passado, dão pistas do perfil de material que pode ser disseminado oficialmente pelas campanhas ou pela militância.