O esquema do empresário José Marcos de Moura, preso pela PF na Operação Overclean no último dia 10 e conhecido como “Rei do Lixo” na Bahia, alcançava 17 estados e dezenas de municípios, sempre em locais em que seu partido, o União Brasil, tinha influência. A constatação foi feita pelos investigadores a partir da análise dos documentos apreendidos no avião de Moura, interceptado em Brasília com R$ 1,5 milhão em dinheiro.
Entre os estados por onde Moura estendeu seus tentáculos estão, além da Bahia – foco da operação da PF –, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso, Pernambuco e Amapá, entre outros. Em todos esses locais o União ou é o partido do governador e do prefeito ou administra alguma secretaria.
Essas informações, segundo o blog da Malu Gaspar, assim como os nomes das planilhas, estão distribuídas em 50 páginas que estão sob a análise dos investigadores. Ao lado de cada bloco de estados e municípios há colunas com nomes, valores, contratos e empresas prestadoras de serviço, em um aparente organograma do esquema administrado por Moura, preso na semana passada junto com outros 15 suspeitos. A Justiça ainda ordenou o bloqueio de R$ 162 milhões em bens.
Moura integrou o diretório e a executiva nacional do União Brasil.
Conhecido no partido como Marquinhos, ele costumava dar carona em seu avião para correligionários e frequentava ativamente inaugurações e eventos das prefeituras e governos.
Dono de uma empresa de coleta de lixo, a MM Limpeza Urbana, ele é chamado na Bahia de Rei do Lixo por deter um contrato de mais de R$ 1,3 bilhão com a prefeitura de Salvador ao lado de duas outras empresas.
O empresário é apontado pela PF como operador de uma quadrilha que teria desviado dinheiro de emendas parlamentares destinadas ao Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) e a prefeituras, por meio de licitações fraudulentas e superfaturadas.
Entre os políticos na mira da PF a partir da operação está ainda o o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), único candidato à presidência do Senado. Sua chefe de gabinete, Ana Paula Magalhães, aparece em mensagens trocadas com os investigados ajudando a liberar uma emenda que destinaria R$ 14 milhões para uma licitação em Juazeiro (BA). A concorrência então deveria ser direcionada para a vitória da Allpha Pavimentações, empresa ligada ao esquema.
De acordo com a investigação, o dinheiro arrecadado nos contratos com o setor público seria lavado por meio de empresas de fachada. A PF estima que o grupo tenha movimentado R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos, dos quais R$ 800 milhões apenas contratos firmados em 2024.
A PF já sabe que, além da coleta de lixo, suas empresas e as de fachada também entraram em licitações para obras, dedetização e fornecimento de material escolar.
O esquema foi detectado pela Controladoria-Geral da União (CGU) durante auditorias sobre o uso de recursos das emendas parlamentares, e as informações encaminhadas à PF.
Moura e os outros alvos então passaram a ser monitorados, até que na semana passada a PF detectou uma movimentação para levar a Brasília os documentos e o dinheiro, aparentemente para escondê-los ou destruí-los, o que indicava ocultação de provas e obstrução de Justiça. Daí os pedidos de prisão preventiva executados durante a operação.
O próprio Moura teria alugado a aeronave que transportou o material, mas não viajou nela. Ele foi a Brasília em outro jato.
Segundo fontes ouvidas pela equipe do blog de Malu Gaspar, a prisão caiu como uma bomba sobre a política baiana. Embora o contrato de sua empresa, a MM Limpeza Urbana.
De acordo com correligionários ouvidos sob reserva, José Marcos de Moura frequenta regularmente os escritórios do União Brasil em Brasília, São Paulo e Salvador. Antes de assumir cargos no diretório e na executiva, participou ativamente da costura de chapas na Bahia nas eleições de 2022 e na disputa municipal deste ano.
O consórcio do qual sua empresa faz parte foi agraciado com o serviço de coleta de lixo da Limpurb em 2018 durante a gestão do então prefeito e mantém o contrato até os dias de hoje.
Em 2022, a irmã de ACM Neto, Renata de Magalhães Correia, adquiriu do empresário ainda segundo o jornal O Globo, 33,4% da propriedade de um jato Hawker 400 por R$ 1 milhão, segundo registros da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A aeronave também conta com uma cota de 33,3% de João Gualberto, ex-prefeito de Mata de São João (BA), na Grande Salvador. Gualberto chegou a ser cotado para a vice na chapa do político na corrida pelo governo em 2022.
O avião, segundo membros do partido, chegou a ser utilizado pelo político em campanha quando ele era candidato ao governo do estado. Na declaração de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Neto detalhou apenas a contratação de duas companhias de táxi aéreo. Procurado, o ex-prefeito não respondeu se utilizou a aeronave.
Moura ingressou formalmente na cúpula do União Brasil em junho após a eleição de Rueda para o comando do partido em uma guerra travada com o antigo cacique do partido, deputado Luciano Bivar (PE). O empresário, segundo relatos, se aproximou do dirigente partidário, com quem passou a conviver nas sedes da sigla, em festas e celebrações entre amigos.