Protagonista de uma polêmica após posar para uma foto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que gerou uma reação contundente de correligionários bolsonaristas, o deputado federal Yuri do Paredão (PL-CE), embora integre o partido do ex-mandatário Jair Bolsonaro, tem histórico de proximidade com grupos políticos à esquerda. Em maio de 2022, por exemplo, enquanto já se apresentava como pré-candidato à Câmara, ele postou um registro em um evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Juazeiro do Norte, sua cidade natal. A reportagem é de Luã Marinatto e Luisa Marzullo, do O Globo.
“Fui conferir de perto a rapaziada dando um show no futebol na 17ª Copa dos Trabalhadores”, escreveu o parlamentar na ocasião, junto de uma imagem na qual aparecia, ao lado de outras duas pessoas, diante de uma bandeira da central sindical. Veículos de imprensa locais relataram, já neste primeiro episódio, que a cúpula local do PL estudava expulsar o filiado, mas a iniciativa não avançou.
No início deste ano, já como deputado, Yury também acenou ao Planalto. Enquanto o governo articulava para evitar a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos ataques golpistas do dia 8 de janeiro, ele chegou a retirar sua assinatura do requerimento.
Eleito pela primeira vez no ano passado, Yury do Paredão, de 34 anos, tem atuação política recente. Antes, ele fez carreira como empresário e produtor do ramo musical — atividade que lhe rendeu o apelido usado nas urnas. O escritório do hoje parlamentar foi o responsável por lançar, entre outros nomes, o cantor Jonas Esticado, também de Juazeiro do Norte, uma das principais estrelas do forró no país na atualidade.
Yury chegou a passar uma semana preso, em 2018, depois que um vídeo no qual ele aparecia atirando na direção de um funcionário em uma fazenda no Ceará viralizou nas redes sociais. “Vamos ver se ele tem cócegas agora”, diz uma voz ao fundo da gravação, enquanto o empregado tenta se proteger e outros homens riem da suposta brincadeira.
No fim do ano passado, recém-eleito deputado, Yury do Paredão envolveu-se em um novo escândalo. Na ocasião, a Polícia Federal cumpriu dez mandados de busca de apreensão e dois de prisão preventiva contra suspeitos de diversos crimes contra a administração pública, como fraude em licitações e lavagem de dinheiro.
Segundo a PF divulgou à época, o crime ocorreu em contratos firmados pela Prefeitura de Ouricuri, em Pernambuco, com empresas prestadoras de serviços sediadas nos estados do Pernambuco e do Ceará. Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido na residência de Yury do Paredão, que negou irregularidades: “É meu dever cívico dirimir qualquer dúvida que exista por parte das instituições”, pontuou, por nota. “Sigo no meu dia a dia com as minhas atividades e ciente de que transparência e prestação de contas são premissas fundamentais do homem público”, continuou.
Em março deste ano, já como parlamentar, Yury viu uma tragédia recair sobre sua família. A irmã dele, a médica e vereadora por Juazeiro Yanny Brena — eleita dois anos antes com amplo apoio do empresário —, foi encontrada morta ao lado do namorado, Rickson Pinto. Posteriormente, a polícia concluiu que o companheiro da presidente da Câmara juazeirense assassinou Yanny e cometeu suicídio em seguida. ‘”Afirmo com clareza que a minha maior meta agora será combater o feminicídio”, escreveu Yuri no primeiro depoimento sobre o caso, uma semana após o crime, no dia em que a irmã completaria 27 anos.
Yanny ao lado do irmão, o deputado federal Yury do Paredão — Foto: Reprodução
Yury do Paredão esteve com integrantes do governo em uma reunião pela assinatura do Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação Básica, em Crato, cidade vizinha a Juazeiro do Norte. Ele subiu ao palanque com o governador do Ceará, Elmano de Freias (PT), e o ministro da Educação Camilo Santana. O parlamentar foi vaiado pelo público em todas as vezes nas quais seu nome foi anunciado ao microfone.
A presença de Yury, além de não ter agradado a militância do PT, gerou ataques de seus colegas de bancada na Câmara dos Deputados. André Fernandes (PL-CE) foi um dos que criticou o conterrâneo:
– Deputado do PL que posa ao lado do maior ladrão da história do Brasil em foto tem que ser expulso imediatamente do partido. Quem tem “honra” em receber Lula, não tem honra para permanecer no nosso partido – disse Fernandes.
Apesar da pressão por sua expulsão, o parlamentar se demonstrou tranquilo e afirmou ao GLOBO que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, entenderá o motivo de seu encontro com o presidente.
– Não fiz nada de errado, sou um político estadista. Valdemar (Costa Neto) é muito sensato, grande entendedor da política e acho que vai entender minha posição enquanto deputado federal. Não estava levantando bandeira para A ou para B, estava cumprindo meu papel de receber o presidente – argumentou.
Em publicação no Twitter na manhã desta segunda-feira, Valdemar Costa Neto afirmou que, caso Yury tenha cumprimentado Lula por “cordialidade e respeito à liturgia do cargo de Presidente da República, está correto”. Como mostraram os colunistas Lauro Jardim e Bela Megale, do O Globo, o comandante da legenda descarta, ao menos por ora, qualquer gesto mais drástico contra o deputado federal.
Foto da discórdia: o deputado federal Yury do Paredão ao lado do presidente Lula, do ministro da Educação, Camilo Santana, do líder do governo na Câmara, o deputado Zé Guimarães, e do governador do Ceará, Elmano de Freitas — Foto: Reprodução