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domingo 5 de janeiro de 2020 às 09:03h

Empresariado pretende ampliar investimentos no Brasil em 2020

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Brasil deverá crescer algo entre 1,5% e 3%, ainda índices modestos, mas mais expressivos do que o registrado nos últimos três anos

Do ponto de vista de expectativa econômica, 2020 começa melhor do que 2019 na visão de 12 empresários de grandes companhias consultados pelo jornal O Globo ao longo de um mês. Atuando em diferente setores — de consumo e educação a agronegócio e transporte —, eles preveem para este ano um crescimento mais robusto e a retomada dos investimentos.

Não se trata de um otimismo de torcida. As apostas de expansão da economia estão em linha com as projeções feitas pelo mercado no começo deste novo ano: o país deverá crescer algo entre 1,5% e 3%, ainda índices modestos, mas mais expressivos do que o registrado nos últimos três anos — 1%.

— O importante é olhar no retrovisor e ver que o Brasil afastou-se, definitivamente, da crise que marcou a segunda metade da década passada — diz André Clark Juliano, presidente da operação brasileira da Siemens, conglomerado industrial com negócios nos setores de energia, automação e saúde, entre outros.

Esse otimismo está calcado em uma mudança fundamental: o investimento está sendo direcionado ao setor produtivo. Com a taxa básica de juros no patamar de 4,5%, o Brasil perde a atratividade para os investidores que vinham especular e ganhar com taxas elevadas. A perspectiva para este ano é de mais recursos para melhoria das condições de produção, como ampliação de fábricas e treinamento de mão de obra.

— Já sentimos mais disposição para investimentos em inovação na nossa cadeia de fornecedores, o que é positivo para a produtividade no varejo — diz o francês Noël Prioux, presidente do braço brasileiro da varejista global Carrefour.

O bom humor do empresariado, contudo, não significa cegueira para riscos. O cenário externo é o maior fator de incertezas, com o impasse nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China e as dúvidas sobre o novo governo argentino. Estes fatores podem atrapalhar as ambições brasileiras de vender mais a esses mercados. Semana passada, a crise entre EUA e Irã surgiu como nova preocupação.

No capítulo dos riscos internos, está o ritmo de andamento da agenda de reformas. Os empresários cobram celeridade especialmente na tributária. Se avançar, é grande a chance de o empresariado terminar o ano ainda mais otimista do que começou.

Confira a seguir a visão dos empresários.

Modernização da frota e aumento da oferta

Jerome Cadier, presidente da Latam no Brasil

O executivo começou o ano mais aliviado do que entrou 2019. Para o executivo, a aviação civil superou o fim da Avianca Brasil, que tirou aviões de circulação e encareceu as viagens aéreas. Este ano, a empresa planeja investir US$ 250 milhões na modernização da frota brasileira. A oferta de assentos aqui deve crescer 9%, acima da média global da companhia: 5%.

— O Brasil ganhou relevância para a Latam — comenta Cadier, que prevê uma alta de 2% no PIB em 2020, puxada pela retomada da confiança de empresas e famílias.

Para o executivo, o otimismo só não é maior por causa da lentidão das reformas, que, na sua opinião, podem andar de lado por causa das eleições municipais.

Eventos são termômetro do momento positivo

Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels

A empresária costuma antever as tendências da economia a partir de um indicador bastante peculiar: o volume de eventos de negócios realizados nas 22 unidades da rede hoteleira Blue Tree, que fundou em 1992. A julgar por este termômetro, a perspectiva para 2020 é positiva.

— O ano de 2019 terminou num ritmo de reservas bem mais elevado do que começou — diz Chieko, que prevê uma alta de 2,2% do PIB para 2020, puxada pela maior disposição ao consumo por parte de famílias e empresas.

Para aproveitar o bom momento, Chieko está de olho em oportunidades para expandir a rede em São Paulo e no Nordeste:

— A região tem muito potencial turístico ainda inexplorado.

Otimismo com reformas e juro baixo

André Clark Juliano, presidente da multinacional Siemens no Brasil

Para ele, a economia pode crescer 3% em 2020. É bem acima do esperado pelo mercado — a projeção do Boletim Focus, do Banco Central, está em 2,3%. Na origem de tanto otimismo está a queda da taxa de juros, que abriu margem para as empresas trocarem dívidas caras por mais baratas.

— O dinheiro que sobra está sendo reinvestido, o que é bom para o país — diz. — O Brasil deve atrair capital externo com o avanço de reformas como o novo marco do saneamento.

Se a economia decolar, o plano da Siemens de aportar € 1 bilhão no Brasil até 2025 pode ser antecipado em um ou dois anos, comenta o executivo.

Abertura de unidades e aquisição de concorrentes

Rodrigo Galindo, presidente da Cogna

À frente do grupo de educação dono de marcas como Somos (ensino básico) e Kroton (superior), Galindo espera crescimento de 2,5% para a economia este ano, na esteira da queda no desemprego e do aumento no consumo. Expansão em ritmo mais rápido, contudo, só com o avanço de reformas como a tributária.

Ainda assim, com o que está posto para a economia em 2020, a Cogna deve investir R$ 600 milhões na abertura de unidades de ensino e em novas tecnologias para a educação à distância.

— Além disso, está no radar a aquisição de concorrentes — diz.

É uma mudança de estratégia num negócio que sofreu com perda de alunos e receitas na esteira do endurecimento das regras do Fies.

Crescimento com a redução da Selic

Camila Farani, fundadora do G2 Capital

A investidora está em um dos setores que mais comemoram a queda dos juros. Fundadora do G2 Capital, fundo de capital de risco que financia start-ups, e sócia de outros dois fundos dedicados a negócios maiores, Camila vê uma migração de recursos da renda fixa, que perde lucratividade com a Selic baixa, para investimentos como os dela. Em 2019, o setor movimentou R$ 8,9 bilhões, alta de 40% sobre o ano anterior.

— Esse número deve aumentar pelo menos 30% em 2020 — diz.

Para aproveitar o bom momento, os fundos geridos por Camila devem investir cerca de R$ 155 milhões em dois anos. Entre os setores que a investidora está de olho estão tecnologias para o varejo e inteligência artificial.

O início de um ciclo virtuoso

João Carlos Brega, presidente da Whirlpool América Latina

Principal executivo para a América Latina da fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, Brega vê o Brasil entrando em um ciclo virtuoso este ano, com a conjunção de juros baixos e desemprego em queda.

— Não é uma fase só de reposição do que quebra, mas de comprar produtos novos, com a perspectiva de melhora da economia — diz ele, que prevê expansão de 2,2% a 2,5% para o PIB.

Para um crescimento de longo prazo, o executivo diz que o país deve acelerar o programa de privatizações e atrair capital privado para melhorar a infraestrutura. Ao mesmo tempo, precisa manter a segurança jurídica e seguir o combate à corrupção.

Quando os riscos vêm de fora

Lorival Luz, presidente da BRF

Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF prevê investir R$ 5 bilhões na modernização de unidades. Boa parte dos recursos deve ficar no Brasil. Só o Rio de Janeiro deve receber R$ 280 milhões, com a implantação da fábrica de salsichas mais moderna do país. Tudo isso para aproveitar a melhoria da economia, com reformas, redução do desemprego e aumento do consumo das famílias, diz Luz.

Apesar do otimismo com o Brasil, as tensões entre EUA e China trazem incertezas a um negócio que depende de exportações:

— Com movimentos cada vez mais protecionistas dos países e investidores cautelosos, podemos sofrer com efeitos como a variação do dólar e o fechamento de mercados.

Demanda asiática é bom indício

Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil

A processadora de alimentos Cargill cita a demanda em alta entre os asiáticos pela proteína animal, cuja cadeia produtiva inclui grãos cultivados no Brasil, como bom indício à economia este ano.

Ao mesmo tempo, gargalos para escoamento da safra deverão seguir travando os negócios, na visão do presidente da operação brasileira da Cargill, Paulo Sousa. Além disso, a percepção externa de frouxidão na política ambiental deverá criar problemas:

— Por uma política falha de combate ao desmatamento ilegal, estamos assistindo a restrições que podem custar caro à agricultura.

A Cargill, contudo, mantém o plano de investir R$ 450 milhões até maio na modernização de fábricas e terminais portuários no país.

Expansão de fábricas e inovação

João Carvalho de Miranda, diretor-presidente da Votorantim

O conglomerado brasileiro Votorantim, com negócios nos setores de siderurgia, cimento, celulose, energia, alimentos e financeiro, planeja repetir este ano o volume de investimentos que saiu do papel em 2019: R$ 3,5 bilhões. Entre os destinos dos aportes estão expansão de fábricas e inovação.

— Além disso, temos estudado oportunidades de mercado, especialmente nos setores de infraestrutura e imobiliário — diz Miranda.

O executivo está otimista com a economia brasileira em 2020. Para Miranda, o PIB deve crescer em linha com a expectativa do mercado — em torno de 2% —, o que já seria um alento diante dos resultados dos últimos anos.

Previsões para exportações e importações em alta

Matias Concha, gerente de Produto da Maersk para a Costa Leste da América do Sul

Na Maersk, uma das maiores transportadoras do mundo, há um otimismo renovado para 2020. A empresa elevou a previsão de alta de exportações brasileiras de 3%, feita no começo de 2019, para 4,5%. As previsões de importações também subiram de 2%, na expectativa projetada no fim do segundo trimestre do ano passado, para 4%.

— Ainda há muitos riscos, como o cenário externo, com indefinições sobre o novo governo da Argentina, a guerra comercial EUA-China. Mas, por outro lado, a alta da cotação do dólar tende a favorecer as exportações brasileiras — comenta Concha.

Ambiente menos hostil aos negócios

Marco Stefanini, presidente da Stefanini

Fundador da multinacional de prestação de serviços em TI que leva seu sobrenome e está presente em 41 países, Stefanini vê um ambiente menos hostil aos negócios no Brasil este ano.

— Temos uma nova visão de país, com mais enfoque no setor produtivo — diz o executivo, ao elogiar o ministro Paulo Guedes, por seguir uma agenda de reformas capaz de dar competitividade às empresas brasileiras, como a administrativa e a tributária.

À frente de um negócio de R$ 3,2 bilhões, Stefanini cresceu comprando concorrentes. Nos últimos 12 meses, foram duas aquisições, uma delas fora do Brasil. Em 2020, o plano é levar entre cinco e seis empresas por aqui e expandir as receitas em 15%.

Investimento 11% maior que em 2019

Noël Prioux, presidente do Carrefour no Brasil

A varejista global Carrefour deve investir R$ 2 bilhões na operação brasileira em 2020, 11% mais que no ano passado. Uma parte será gasta em melhorias do shopping virtual da marca para fazer frente a concorrentes como Amazon e Magazine Luiza. Outra quantia deve ampliar a presença física. Em 2019, foram 33 novas lojas. Este ano, a expectativa é abrir de 40 a 50, conta o francês Noël Prioux, presidente da varejista no Brasil.

Para o executivo, o PIB brasileiro deve avançar de 1,5% a 2% em 2020. Uma expansão maior, segundo ele, só com mais reformas, em particular a tributária, decisiva para destravar os negócios:

— No Brasil, temos 250 pessoas para administrar a questão dos impostos. Na França, só três.

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