Referência internacional em rerrefino de óleo lubrificante usado ou contaminado, a brasileira Lwart Soluções Ambientais investirá R$ 1 bilhão para ampliar a unidade de Lençóis Paulista, em São Paulo, registra Stella Fontes , do jornal Valor, assumindo a posição de segunda maior rerrefinaria do mundo.
A partir do investimento, a empresa também vai elevar em 50% a capacidade de produção de óleo básico reciclado, que é obtido a partir do processo de rerrefino e pode ser usado novamente na produção de lubrificantes, com características iguais ou superiores às da matéria-prima original. No Brasil, há cerca de 40 produtores de lubrificantes, entre os quais Petrobras, Iconic (Ipiranga / Chevron), Moove (Cosan), Petronas e ExxonMobil.
Com faturamento líquido de R$ 1,2 bilhão no ano passado, a Lwart se destacou entre as concorrentes, inclusive estrangeiras, por ter apostado em uma tecnologia de rerrefino sofisticada, em parte construída dentro de casa, resultando em um óleo mineral de maior pureza, incolor e com desempenho muito superior aos óleos do grupo I, o mais básico.
Até hoje, é a única produtora na América Latina de óleos básicos de alta performance (grupo II, no jargão da indústria), cujo consumo é o que mais cresce globalmente. A Petrobras indicou que pretende produzir esse tipo de óleo, mas ainda não o fez.
A decisão de seguir adiante com o projeto bilionário levou em conta uma combinação de fatores, disse ao Valor o presidente da Lwart Soluções Ambientais, Thiago Trecenti. Há déficit de produção local; os clientes, que são os fabricantes de lubrificante propriamente, têm demandado mais óleo básico e de maior pureza; e a eletrificação da frota veicular, que representa uma ameaça ao consumo de lubrificantes no mundo, ainda parece distante no Brasil – híbridos precisam desse tipo de óleo, mas os veículos 100% elétricos, não.
“Há uma janela importante, não poderíamos deixar para mais adiante. E a busca por sustentabilidade está cada vez mais forte”, afirmou Trecenti, membro da terceira geração da família fundadora do grupo Lwart, que em 2018 vendeu a produtora de celulose Lwarcel (hoje Bracell) para o grupo asiático Royal Golden Eagle (RGE).
Conforme Trecenti, a pandemia de covid-19 deu forte impulso à demanda de óleo básico reciclado no país. Ao mesmo tempo em que a importação foi prejudicada – o Brasil não é autossuficiente e importa cerca de 40% do que consome -, a produção da matéria-prima nas refinarias locais teve de ser reduzida, acompanhando a menor procura por combustíveis.
Há uma janela importante, não poderíamos deixar para mais adiante”
— Thiago Trecenti
Além disso, a Lwart já tinha capilaridade para coletar volumes superiores de óleo usado, contou. Com 19 unidades de armazenamento temporário espalhadas pelo Brasil e uma frota de 400 caminhões com capacidade de 2 mil a 20 mil litros, a empresa cobre mais de 70% do território nacional e conta com 80 mil fontes geradoras de óleo, como concessionárias, frotistas, redes de postos e indústrias. Todo volume coletado é levado para Lençóis e reciclado.
Como resultado, o faturamento líquido, de R$ 580 milhões no pré-pandemia, mais que dobrou até 2022. O número de empregados chegou a 1,4 mil, e outros 400 postos de trabalho serão abertos com a expansão em Lençóis Paulista. Durante a execução do projeto, serão mais 1,2 mil trabalhadores.
De acordo com Trecenti, cerca de R$ 600 milhões do investimento total previsto serão direcionados à operação industrial. Outros R$ 300 milhões serão aplicados na ampliação da rede de coleta e R$ 100 milhões, em autossuficiência energética – com a venda da Lwarcel, a Lwart perdeu o status.
Além de reduzir a dependência do Brasil do óleo básico importado, o investimento no projeto de expansão, com início de operação previsto para 2025, o investimento contribui para elevar o reaproveitamento de óleo lubrificante. Por lei, pelo menos 47% do volume de produto acabado que é vendido no país tem de ser coletado e reciclado, devido a sua elevada carga poluente. Estima-se que ao menos 20% dos lubrificantes usados poderiam ser reaproveitados via rerrefino. A pior destinação, e ilegal, é sua queima como combustível.
Com a saída do negócio de celulose, o grupo Lwart concentrou os negócios no rerrefino de lubrificantes. Em 2020, contudo, a família Trecenti ampliou os horizontes na economia circular e abriu a atuação da Lwart, que passou então a se chamar Lwart Soluções Ambientais, para a gestão de resíduos pós-consumo. Hoje, a empresa é capaz de gerir 114 mil toneladas de resíduos por ano na base de Piracicaba (SP), mas o desejo é crescer em volume. “O foco é tecnologia. Vamos olhar isso, depois o [tipo] de resíduo. Como fizemos com os lubrificantes”, diz Trecenti.