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Foto: Edison Martins/Embrapa
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terça-feira 13 de agosto de 2024 às 10:50h

Embrapa avança na preservação do boi mais ‘chifrudo’ do Brasil

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Uma pesquisa realizada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) identificou touros da raça bovina crioula lageana para serem doadores de sêmen, visando à conservação da variabilidade genética desses animais em bancos de germoplasma. O estudo encontrou um tamanho efetivo de população de 21 animais, número abaixo do recomendado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para evitar riscos de extinção, mas considerado positivo para uma raça de pequena população, que conta com aproximadamente 1.500 indivíduos no Brasil.

A crioula lageana é uma das mais antigas do país, mas sua importância também está vinculada a sua rusticidade. Outra de suas características são os enormes chifres, que medem quase 2 metros de ponta a ponta.

Tamanho efetivo da população

O conceito de tamanho efetivo de população refere-se ao número de reprodutores não aparentados que estão efetivamente contribuindo geneticamente para uma população. Embora o rebanho total da raça crioula lageana tenha cerca de 1.500 animais, o estudo da Embrapa estimou que apenas 21 animais não aparentados participam da formação desse rebanho.

A FAO recomenda um tamanho efetivo de pelo menos 50 animais para garantir a sobrevivência de uma raça ao longo do tempo. Comparativamente, para o gado nelore, que conta com milhões de cabeças no mundo, diferentes estudos estimam o tamanho efetivo do rebanho em torno de 100 reprodutores, segundo a pesquisadora da Embrapa Patrícia Ianella.

“Nessas raças localmente adaptadas, como a crioula lageana, o número de animais normalmente é muito pequeno e, portanto, a população efetiva é ainda menor”, afirma a pesquisadora.

A pesquisa da Embrapa analisou 450 animais registrados em oito fazendas para avaliar a variabilidade genética do rebanho e orientar cruzamentos. Esse trabalho foi realizado em parceria com a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana (ABCCL).

Avanço na conservação genética

O Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais da Embrapa, que inclui a raça crioula lageana, considera o estudo um avanço significativo. O Banco Genético da Embrapa, que antes possuía material genético de apenas 10 animais, agora poderá ampliar o tamanho efetivo para 21, com a coleta de sêmen de touros identificados nas fazendas participantes. A coleta já começou, mas depende da disponibilidade dos produtores para enviar os animais às centrais de coleta.

A estimativa é que a atualização do Banco Genético seja concluída em até cinco anos, contribuindo para a preservação da raça.

Seleção e melhoramento genético

O projeto vai além das análises genéticas. A ABCCL procurou o pesquisador Alexandre Floriani para ajudar a organizar o manejo genético da raça e realizar a seleção e o melhoramento genético. O objetivo é evitar a perda de variabilidade genética e maximizar características que melhorem a produtividade da raça. A Embrapa e a ABCCL também estão buscando criadores não associados para ampliar a variabilidade genética e aumentar o tamanho efetivo da população.

O melhoramento genético deve resultar em animais com melhor desempenho ponderal, qualidade de carcaça e carne, sem perder as características adaptativas, como tolerância térmica e resistência a parasitas. Atualmente, a Embrapa também está utilizando o crioulo lageano em cruzamentos com animais nelores na região do Matopiba, visando à produção de carne premium de forma sustentável em clima tropical.

Publicação científica sobre a lageana

Os resultados da análise genética foram publicados em um artigo científico, intitulado “Caracterização genômica do crioulo lageano brasileiro: insights para a conservação de uma raça bovina local brasileira”. O estudo foi liderado por Daiza Orth, aluna de mestrado da Universidade de Brasília (UnB), com coautores da Embrapa e da UnB. O artigo destaca a importância de uma postura ativa na escolha dos animais para preservação no Banco Genético, otimizando a variabilidade da raça.

Estratégia de preservação

O pequeno rebanho crioulo lageano no Brasil aumenta o risco de perda de variabilidade genética devido a cruzamentos endogâmicos e com raças comerciais. A pesquisa mostrou que os criadores fazem grande esforço para manter a raça devido à sua importância histórica e cultural, além de suas características adaptativas. Embora os acasalamentos entre parentes sejam relativamente baixos, a variabilidade genética ainda é um desafio, diz o pesquisador Alexandre Floriani.

Para minimizar os riscos, a Embrapa está orientando os criadores e atualizando o Banco Genético com criopreservação de sêmen e embriões, garantindo a preservação da diversidade da raça.

Origem e importância histórica da lageana

A raça crioula lageana é originária, provavelmente, dos antigos bovinos hamíticos, caracterizados por chifres longos, introduzidos no sul da Espanha, provenientes da África do Norte. Trazida ao Brasil no período da colonização por portugueses e espanhóis, adaptou-se aos campos nativos de Santa Catarina e do Paraná, num processo de seleção natural que já dura séculos.

De acordo com a Embrapa, essa adaptação resultou em uma enorme rusticidade, traduzida em resistência às baixas temperaturas registradas naquela região, que está entre as mais frias do país.

Segundo Floriani, estudos realizados pela Embrapa apontaram que, além da adaptação ao frio, o crioulo lageano se mostrou tolerante a temperaturas mais elevadas, de forma semelhante a outros taurinos brasileiros – como o curraleiro pé-duro e o pantaneiro – e ao zebuíno nelore.

É a raça bovina que tem os maiores chifres já registrados no Brasil: cerca de 2 metros, de ponta a ponta, na variedade aspada. São animais de grande porte, produtores de carne e também apresentam boa aptidão leiteira, o que faz com que as mães tenham uma excelente habilidade materna. Apesar de todos esses aspectos positivos, o crioulo lageano provavelmente já estaria extinto se não fosse pelo trabalho da família Camargo, criadores de gado de Santa Catarina que sempre acreditaram no valor genético desses animais.

Nos anos 1980, a Embrapa incluiu a raça no seu Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais e, em 2008, a crioula lageana foi oficialmente reconhecida como raça pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), afastando o risco de extinção.

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