A Embraer anunciou, no início deste mês, um dos maiores negócios de sua história. O pedido de 90 aviões — com direito de compra de mais 43 — pela American Airlines, pelo valor que pode superar os US$ 7 bilhões, deixou o mercado financeiro animado e as ações da companhia se valorizaram quase 20% no período, dado que já havia especulação antes do anúncio oficial.
A brasileira venceu a concorrência com a rival Airbus e seu modelo A220, antigo C Series da canadense Bombardier, que vendeu sua operação de aviões comerciais para a fabricante europeia em 2017. O anúncio e o rali das ações da fabricante brasileira de aviões ajudaram a resgatar um pouco da credibilidade da companhia, ferido durante a pandemia com a redução dos pedidos, além do fracasso das negociações com a Boeing, que pretendia incorporar o segmento de aviação comercial da brasileira, em 2020.
O modelo encomendado pela aérea americana é o E175, com as entregas começando a partir de 2025, configurados com 76 assentos, e cabine de duas classes, que substituirão os modelos antigos nos voos domésticos pelos Estados Unidos. A Embraer já vendeu 837 aeronaves desse modelo para empresas americanas.
Para o economista Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, o mercado viu o anúncio como positivo, dada a recuperação nos preços das ações. “Estamos vendo o que fazia um bom tempo que não víamos para Embraer”, disse.
Cozzolino afirmou que o acordo dá uma injeção de ânimo na empresa, com números muito expressivos, e que mesmo que haja um desconto nos preços, o impacto nas margens será limitado e o tamanho do pedido justifica a negociação.
“Vendo o book-to-bill (relação entre as ordens recebidas e os valores faturados) dos últimos 12 meses estamos falando de 2,5 vezes, então realmente os pedidos coincidem com a recuperação econômica e o processo pós-pandemia, algo que demorou e fez a Embraer sofrer.”
A equipe de análise do Bradesco BBI, liderada por Victor Mizusaki, apontou que o pedido anunciado superou, por muito, as projeções do banco. “Nossa estimativa era de 40 a 50 aeronaves, fomos superados por uma ampla margem”, disse em relatório enviado aos clientes.
“Os números expressivos do acordo deram uma injeção de ânimo na embraer, e fez suas ações subirem como há tempos não víamos.”
Enrico Cozzolino, sócio da Levante Investimentos
O analista Stephen Trent, do Citi, afirmou que a ordem de compra dos aviões é muito encorajadora para a brasileira, mesmo citando um provável desconto que a fabricante brasileira ofereceu diante do tamanho do acordo.
Na mesma linha, o banco americano JP Morgan pontuou que a operação foi muito positiva, citando o crescimento de sua carteira de pedidos (backlog), que ultrapassa os US$ 22 bilhões, maior valor desde 2015. A equipe do JP, liderada por Marcelo Motta, avaliou ainda que o pedido confirma a forte procura pelo jato E175 para voos regionais, além da qualidade do projeto.
Quem também citou a qualidade do produto oferecido pela Embraer foi o BTG Pactual, em relatório, citando a forte posição do avião em um mercado-chave como o dos Estados Unidos. “Também adiciona um importante backlog na divisão comercial, reduzindo as preocupações com a concorrência mais acirrada no segmento e melhorando a visibilidade no longo prazo”, completou o BTG.
A ideia da American Airlines é substituir as aeronaves atuais, de 50 assentos em classe única, até o fim da década, e operar voos regionais com cabines maiores em duas classes para ampliar sua conectividade entre mercados menores e a sua malha aérea global. O E175 encomendado também é mais econômico e gasta em média 6,5% menos combustível que o modelo em uso atualmente.
“Quando falamos de expectativa para o futuro do portfólio, diante dessa evolução dos novos segmentos acontecendo, eu prefiro seguir cauteloso, sem me empolgar muito e olhar para o básico sendo bem feito, pois as vezes o mercado antecipa o preço e qualquer stress, devolução, impacto econômico resulta em uma queda brusca, mas olhando o que está sendo bem feito, a Embraer está indo bem”, disse Cozzolino.
Nos próximos meses a divisão de aviões comerciais da Embraer deve enfrentar outro embate com a eterna rival e seu Airbus A220, para substituir a frota de Fokker 100 da Virgin Australia Regional Airlines. A aérea australiana publicou que reduziu as opções de substituições dos Fokker 100 por aviões dos modelos E190-E2 da Embraer ou Airbus A220-100. “Essas são aeronaves de nova geração que oferecem performance superior, menor consumo de combustível e emissões e melhor performance operacional”, disse o diretor-executivo, Nathan Miller.
O banco Goldman Sachs apontou que a Embraer detém participação dominante no mercado de jatos regionais, deixando o rival A220 para trás. O Sachs vê uma oportunidade de crescimento nas vendas diante da idade atual das frotas desse tipo de avião pelo mundo, o que deve impulsionar um ciclo de substituição no médio prazo.
Outros segmentos
Além da aviação comercial, que fabrica aviões para companhias aéreas, a Embraer possui outras três principais linhas de negócios:
• A Aviação Executiva, na qual se destaca por seus jatos executivos como o Legacy, Preator, Phenom e o Lineage.
• A divisão de Defesa & Segurança, com destaque para os tucanos, super tucanos e o cargueiro KC-390.
• A divisão de Serviços & Suporte, que oferece serviços de manutenção e reposição de peças.
O Goldman Sachs afirmou que a divisão de jatos executivos da Embraer tem com muita força, especialmente se comparada ao restante da indústria. “A demanda se normalizou diante do ritmo acelerado visto no início da recuperação pós-pandemia, mas ainda permanece bastante forte. Os preços continuam subindo com taxas mais elevadas do que os aumentos históricos”, disse.
Para a divisão de Defesa & Segurança, o Sachs afirmou que a empresa tem visto uma forte demanda de novos pedidos para o cargueiro KC-390, com projeção de aumentar seus pedidos entre 6% e 9% nos próximos anos.